Enilson Simões de Moura
Vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores
14/09/2023
Que a atual Câmara dos Deputados seja uma das mais venais da história do Brasil, disso ninguém duvida. Se nos governos anteriores já era possível antever um crescimento do nível do corporativismo mais mal cheiroso, agora parece que a banda podre dos deputados se despiu de qualquer pudor ou vergonha. Sempre é bom lembrar que existem deputados e deputadas da mais alta respeitabilidade por lá e brigando bravamente pela ética e justiça.
Está em curso uma minirreforma eleitoral composta por duas Propostas de Emenda à Constituição – PECs. Uma é a chamada de PEC da Anistia e que, simplesmente, diminui as verbas para candidaturas de negros e mulheres – sob o argumento de que assim elas se tornam mais simples –, e a outra quer flexibilizar as leis da Ficha Limpa e da Improbidade Administrativa. Na prática, significa que, se aprovada, a corrupção vai correr mais solta do que nunca, parentes serão nomeados com a maior desfaçatez e a punição por fraude eleitoral ficará significativamente mais difícil. O pouco que se avançou nos últimos anos em termos de transparência irá por água abaixo. Aliás, negar acesso à informação também deixará de ser um problema. Isso para não falar na anistia ampla e irrestrita aos deputados que transformaram a coisa pública em privada, o dinheiro da saúde e da educação em fazendas, carrões, viagens e outras mamatas mais.
Na cabeça de tudo isso está Arthur Lira. Quer urgência na votação dessa ignomínia e, para isso, conta com os partidos amantes das verbas públicas para possíveis fins particulares e que são chamados de Centrão. Lira é tratado por parte da mídia como um “moderador” do poder do presidente. Ora, se há alguma coisa que Lira não seja, é moderado. Ao contrário, é guloso, principalmente, quando se trata de orçamentos.
Essa “Minirreforma Eleitoral” não pode ser aprovada. Ela é um escândalo! Esperamos que o Senado coloque um freio nesse absurdo.
Interessante que parte da mídia cobre de Lula participação mais ativa no caso da tragédia no Rio Grande do Sul, mas poupe vergonhosamente Lira e seu Centrão. Cobrem de Lula que seja fiel aos seus princípios, mas sabemos que, se não entregar ministérios ao grupo de Lira nada será aprovado nessa Câmara.
Na antiga Grécia, os cínicos eram aqueles que desprezavam a riqueza, o poder, a fama e os prazeres humanos. Um de seus fundadores vivia numa jarra de cerâmica. Seus seguidores viviam da mendicância e em farrapos. Acredita-se que tenham influenciado os primeiros cristãos. De lá para cá, muita coisa mudou. A palavra passou a designar quem é insolente, desavergonhado e degenerado. A banda podre dos deputados não é vista em farrapos, a não ser de caráter, assim como alguns cristãos – como Malafaia e companhia -, passaram a cultuar a prosperidade e a arrogância. Os ideais cínicos originais são parte do passado.
UGT - União Geral dos Trabalhadores