Enilson Simões de Moura
Vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores
30/08/2024
O método é consagrado, sabido e comentado por vários autores. O fascismo se utiliza dos mecanismos da democracia para acabar com ela. Para uma parcela da sociedade, porém, o fascismo não importa, o que importa são os dividendos, os lucros. Foi assim na Alemanha nazista. Muitos viram como uma “oportunidade” de ganhos quando os judeus foram expulsos de suas lojas, humilhados por seus vizinhos, escravizados pelo governo. Empresas que estão aí até hoje se utilizaram dessa mão-de-obra escrava: Volkswagen, BMW, Mercedes, Bayer, Basf entre outras. Assim, não surpreende que os “investidores” da Faria Lima estejam flertando com o que há de pior na política. Já deixaram qualquer resquício de ética pelo caminho. Dizem que não vão apoiar publicamente, mas já estão apoiando. Banqueiros graúdos inclusive. Chamam de “voto envergonhado”. Não importa que o candidato tenha ligações com o crime organizado, o narcotráfico, o PCC. Tudo é tolerado para garantir o capital na conta. História velha e carcomida de quem já perdeu a vergonha faz tempo.
Fato é que, novamente, estamos diante do humanismo contra a barbárie. Por um lado, o elogio à morte por meio do negacionismo vacinal, do ódio aos vulneráveis, a perseguição aos professores, a autorização para mentir, caluniar, difamar e praticar toda sorte de crimes pela internet, incluindo aí o incentivo ao suicídio de adolescentes, chacinas nas escolas entre outras aberrações. Por alguns, isso é chamado de “esperteza”, de “conhecedor das redes”, de “influencer digital”. Eu chamo de canalhismo. A normalização do canalhismo passa, justamente, por entender eufemisticamente aquilo que deveria ser nominado da maneira correta, dentro dos parâmetros da ética conceitual.
Vivemos um momento de distopia. Os fundamentalistas crescem e os democratas recuam. Intimidados por sua ferocidade, se recolhem para dentro de seus espaços e só dialogam entre seus semelhantes. Esse é um dos caminhos preferencias escolhidos pelo fascismo. Os fascistas sabem que manipulando instrumentos democráticos é possível tornar um país inteiro fascista.
A distopia é de tal monta, que até as leis passam a ser questionadas. Discute-se se é “necessário” cumprir algumas como prender o ex-presidente, por exemplo. Ou proibir a plataforma do “X”. Ora, a lei é clara. Cumpri-la, nesse cenário, passa a ser chamado pelos adeptos do Cavalo de Troia de “radicalismo”. Nesse ritmo, prender alguém por assassinato – dependendo de quem o pratique -, será, em breve, visto como radicalismo. Será que não seria o caso de soltar os Brazões e Roni Lessa? (atenção, estou usando de ironia).
O fascismo exige obediência ao führer, ao chefe. O fundamentalismo religioso oferece de bandeja essa obediência. O democrata passa a ser o “frouxo”, aquele que “negocia”, o que “ouve as diferenças”. O führer não faz nada disso. Ele determina e é considerado como “inspirado” pelos deuses. As ovelhas anseiam por um pastor de cajado firme que não hesite em usá-lo contra os adversários que passam a ser chamados de inimigos a serem exterminados. Sim, os democratas convivem com os adversários, com a alternância de poder, dialogam. Para os fundamentalistas não existem adversários, existem inimigos a serem eliminados, torturados, metralhados, fuzilados. Além de física, é uma “guerra” espiritual.
O Cavalo de Troia está aí. Se entrar na prefeitura de São Paulo e em outras prefeituras, não será por acaso. Será por planejamento, por projeto. Todos sabemos o que aconteceu quando os troianos receberam o “presente” como se fosse dos deuses. Troia se incendiou. Aliás, os incêndios já começaram.
Por fim, recomendo a leitura de um livro que passou despercebido, mas é extremamente esclarecedor destes tempos: “A chegada das trevas – Como os cristãos destruíram o mundo clássico”, de Catherine Nixey. Ed. Desassossego. Trata-se de um relato de como uma religião militante assassinou um modo de vida, incluindo seus opositores. Livros foram queimados, ciência foi tida como “coisa do demônio”. Pessoas também foram queimadas em nome da fé. Não eram adversários, eram inimigos. Nota: a editora se chama “Desassossego”. Diz muito.
O Führer alemão deixou um país devastado. É isso que queremos?
Civilização ou barbárie. É isso que está em jogo nestas eleições e nas futuras.
UGT - União Geral dos Trabalhadores