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ARTIGOS

Enilson Simões de Moura
Vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores


O calvário neoliberal dos trabalhadores


24/02/2023

Desde o governo Temer os trabalhadores têm padecido em um calvário que parece não ter fim.

Primeiro, disseram que “tirando a Dilma tudo vai melhorar”... e tudo piorou.

Depois disseram que era preciso apoiar o Temer para que tudo melhorasse... e tudo continuou piorando.

Seguiram apregoando que era fundamental uma Reforma Trabalhista – capitaneada pelo hoje senador Rogério Marinho - para que os empregos voltassem... não voltaram.

Disseram que era imperativo aumentar a idade para a aposentadoria para a economia melhorar... não melhorou nada. 

Afirmaram com convicção as privatizações alavancariam a economia novamente... e ela só fez afundar cada vez mais.

 

Por incrível que pareça, o mercado também garantiu que, com Bolsonaro, tudo se resolveria... e mergulhamos na tragédia.

Em todo esse processo, os trabalhadores nunca foram ouvidos. 

Todas essas promessas foram feitas pelo “mercado” e endossada por “analistas econômicos” comprometidos e financiados por esse mesmo sistema. 

Nem mesmo na Reforma Trabalhista qualquer trabalhador foi consultado, nenhuma liderança sindical foi convidada a debater. O que houve foi uma ação autoritária, unilateral e incompatível com o Estado Democrático de Direito. 

Nós, os trabalhadores, fomos vítimas de um processo que visava precarizar o mercado de trabalho consolidando um personagem que surgiu nesse cenário: o precariado, um trabalhador abaixo da linha do proletariado e que não possui nenhuma proteção social. Este é o desejo supremo do “mercado”: que o trabalhador não tenha nenhum custo. A continuarmos nessa linha, em breve voltaremos ao estado de escravidão. 

Portanto, para a consolidação da democracia em nosso país, é essencial que essa Reforma volte a ser amplamente discutida. É básico que os trabalhadores tenham voz e que sejam escutados. 

Uma das perversas intenções desse processo foi “estrangular” os sindicatos, as federações, as confederações e as centrais sindicais e, sem essas entidades, não existe democracia, só existe a visão única daqueles que se consideram os “donos da verdade” mas que nos conduziram ao pior estágio de desigualdade que já alcançamos. 

Conclamo ao atual Ministro do Trabalho e Previdência, Luiz Marinho, que comece a revisão dessa Reforma por um processo que leve à reconstrução das entidades sindicais, ao fim da ultratividade e que seja obrigatória a participação dos sindicatos em qualquer relação trabalhista.    

Ao menor sinal de contrariedade, os “analistas” advertem que “o mercado está nervoso”. Os trabalhadores, por sua vez, para analistas, podem estrebuchar à vontade, podem padecer no calvário das aflições que não se comoverão. 

A charge abaixo, publicada na Folha de São Paulo em 23/02, é eloquente sobre o que é o “mercado” e seu interesse social. Há porem, um equívoco: na charge o custo da água é de 40 reais o litro. Na tragédia de São Sebastião, chegou a ser vendida a 93 reais. Dizem que uma imagem vale por mil palavras. Acho que é esse, exatamente, o caso.




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