Laerte Teixeira da Costa
secretário de Políticas Sociais da CSA (Confederação Sindical das Américas)
09/04/2014
Para entender o imbróglio na Ucrânia, deve-se olhar para trás: Vladimir Putin disse que a queda da União Soviética foi “a maior tragédia do século” e sua plataforma de trabalho, já em 2000, revelava o desejo de “reafirmar a influência russa na região”. A primeira preocupação russa é com o “exterior próximo” e nada está mais próximo do que a Ucrânia.
Nos últimos 25 anos, bem ou mal, a Rússia cooperou com o Ocidente e, em contrapartida, também recebeu ajuda. Na segunda década deste século, a Rússia emergiu como nação consciente do que perdeu e disposta a recuperar seu prestígio. Então, quase no seu quintal, ver a Ucrânia passar à esfera de influência dos Estados Unidos e União Europeia foi intolerável.
A Criméia é um caso à parte. Região antiga, sempre ocupada por diferentes povos, com maioria russa (58%), de cara, não se conformou em estar fora da órbita russa e se rebelou. O Parlamento declarou independência, foi realizado um plebiscito e 97% optaram por se integrar à Federação Russa. A possibilidade de outras regiões fazer o mesmo não está descartada, caso específico de Donetsk. A Rússia se faz de desentendida.
A anexação da Criméia foi rápida. Lá, o rubro (moeda russa) já foi adotado, foram nacionalizados os campos de gás e Dmitri Medvedev, primeiro ministro russo, visitou a região anunciando uma “zona econômica especial” e prometeu aumento de salários para os servidores civis e militares. Vladimir Putin não está para brincadeira.
Entender o papel de Putin não é difícil: existem 25 milhões de russos vivendo nas antigas repúblicas soviéticas (boa parte na Ucrânia); dados demográficos indicam uma provável diminuição da população russa em cerca de 40 a 50 milhões de pessoas até 2050; há um desejo latente no país de voltar a ser um império (Putin fez da Olimpíada de Inverno uma vitrine); o país tornou-se o maior fornecedor de energia para a União Européia (é o maior fornecedor de gás para a Alemanha); as forças armadas russas vêm sendo modernizadas e o país herdou, dos tempos da Guerra Fria, grande acervo em termos de inteligência e material bélico.
Quando derrubaram o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, fiel à Moscou, a Rússia se viu diante de um impasse: perder a Ucrânia para a União Européia e manter a Criméia e Sebastopol. Em curto prazo, Putin optou pelo mais fácil. O futuro, certamente, guarda surpresas. Não esquecer que a Rússia continua membro do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e tem papel fundamental nas questões relacionadas com a Síria e o Irã.
A Rússia vê essa perda de influência como uma ação coordenada pelo Ocidente. Tem os exemplos da Guerra do Iraque (2003) e da independência de Kosovo (2008). Quer inibir isso, não descarta a diplomacia como solução, mas está bem consciente de suas possibilidades no xadrez da política internacional. Putin aumentou sua popularidade internamente e, provavelmente, continuará mandando na Rússia para o desconforto do Ocidente. Convém prestar atenção nessa região do mundo.
UGT - União Geral dos Trabalhadores