Ygor Brandão
Biólogo - Presidente da AAPBio de Goiás - Presidente do Sindicato dos Biólogos de Goiás - Secretário dos Servidores Públicos da UGT/Goiás. É aluno da 1ª Turma do Curso Sobre Trabalho Decente e Cooperação Internacional, promovido pela UGT no Brasil
10/01/2014
O trabalho sempre esteve presente em nossa sociedade como mola propulsora de mudanças, alterando o formato organizacional, os padrões políticos e moldando contextos sociais e econômicos bastante diversos, mas tendo sempre o trabalho como elemento fundamental para se estabelecer a ordem dentro de cada sociedade.
Atualmente, devido a valores pós-contemporâneos, cometemos o equivoco de rejeitar tudo o que remete a elementos antigos. Porém, poucas vezes atentamos para o fato de que toda nossa concepção de mundo é proveniente de nossos ancestrais. O mundo do trabalho não é uma exceção. Toda a estrutura organizacional que envolve o ambiente do trabalho se reflete como espelho na sociedade na qual estamos inseridos. Assim, temos diferentes cidades e empresas que possuem práticas trabalhistas diversificadas, ora cometendo práticas abusivas ao indivíduo e desrespeitando direitos coletivos, ora superando parâmetros como: Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalhado, geração de Trabalho/Emprego, Proteção Social, Tripartismo/Dialogo Social, considerados pela Organização Internacional do Trabalho os pilares do Trabalho Decente. O hábito de "valorizar" o trabalhador, peça fundamental dos mecanismos de produção atual, não é interesse exclusivo das entidades que "representam" os trabalhadores, sendo, ou devendo ser, preocupação prioritária de todos os atores que participam das negociações de políticas trabalhistas.
O dialogo entre Empregador e Empregado é fruto de uma relação conturbada com concepções historicamente distintas, que defendem seus interesses de forma radical, buscando sempre benefícios unilaterais pautados nas conquistas individualistas patronais e na personificação de bandeiras de luta por líderes sindicais, muitas vezes havendo interferência do interlocutor contrário. Esta relação ética e idealista possui também seu lado pelego e promíscuo. No entanto, a documentação histórica só permite resaltar os principais acontecimentos, suprimindo elementos fundamentais para o entendimento desta relação empregador e empregado. Há muita expectativa hoje sobre o trabalho decente (como conceito advindo da Organização Internacional do Trabalho – OIT) como resposta aos problemas globais de desemprego e desigualdade social, mas sua aplicação segue num ritmo inconstante, com iniciativas e projetos difusos em busca de dignidade para o trabalhador. No entanto, os principais atores deste desafio veem cadenciando uma relação de amadurecimento de interesses comuns, ainda que exista até o presente momento uma dicotomia radical entre ideias/práticas de ambas as partes, buscando quase sempre vantagens segmentadas. Toda esta relação é responsável pela atual estrutura organizacional do trabalho, incluindo os benefícios, entraves administrativos, burocracias e injustiças envolvendo pessoas físicas e jurídicas.
Neste cenário, em que o diálogo social é fruto de um debate árduo, a razão e o bom senso tendem a ser ignorados, mas não devemos esquecer que a principal característica do ser humano que o diferencia dos demais animais é a capacidade de experimentar e aprender com as experiências anteriores. Talvez o principal desafio do trabalho decente seja compreender que o posicionamento selvagem visando o lucro gera um abismo social gradativo que historicamente impediu grandes mudanças no desenvolvimento de inúmeras sociedades da nossa história. O trabalho decente possui uma característica erudita, inerente ao próprio termo, assim como uma pessoa que mesmo sem saber tocar um piano pode identificar quando o instrumento está desafinado.. No entanto não devemos apenas compreender ou viver o trabalho, mas sim buscar ativamente o trabalho decente, sendo fundamental que a educação sobre o trabalho seja acessível e que incorpore a consciência de um cidadão esclarecido que permita a releitura e entendimento de mundo. Tal situação é agravada pela crise político/educacional generalizadas em todos os continentes, onde o ser humano não é prioridade na estrutura econômica e política atual, onde o lucro é o elemento norteador. O resgate da sensibilidade humana sobre a importância da qualidade de vida é o exercício fundamental para a apropriação de valores holísticos, sistêmicos e coletivos em busca de práticas concretas em nosso dia-a-dia; não garantidas por decretos ou leis, mas sim por um amadurecendo de um novo consciente coletivo com novas práticas e uma concepção mais adequada sobre o papel do trabalho na construção de um mundo melhor, um MUNDO DECENTE.
UGT - União Geral dos Trabalhadores