20/11/2007
Ricardo Patah (*)
A celebração, neste 20 de novembro, do Dia da Consciência Negra enseja uma reflexão sobre as questões que envolvem a desigualdade étnico-racial e o processo de distribuição de renda e exclusão social no Brasil.
O Brasil tem a segunda população negra do mundo, que corresponde a 45% da população brasileira. Toda a nação conhece a participação dos homens e mulheres da raça negra na construção do país e na formação da cultura nacional. A classe trabalhadora conta com alto contingente de negros, cuja contribuição para a acumulação da riqueza nacional ao longo da história recente é indiscutível.
Porém, são inegáveis também as dificuldades históricas para a efetiva inserção dos representantes da raça negra na sociedade. A diferença entre os níveis de vida da população branca e da população negra não oferece aos indivíduos dessas raças a mesma possibilidade de acesso ao ensino universitário e às áreas de maior valorização social do mercado de trabalho. Cerca de 60% dos negros brasileiros são analfabetos, mesmo índice de mulheres trabalhadoras negras que são assalariadas. Entre a população negra economicamente ativa em geral, apenas 6% está ocupada em atividades técnicas, científicas ou administrativas.
Por mais que o Brasil insista em se considerar uma democracia racial", não há como esconder provas tão evidentes de discriminação contra a população negra do país. Mas, se na sua origem essa atitude era fruto do preconceito, a situação atual é muito mais o resultado da histórica depreciação do valor da mão-de-obra, da má distribuição de renda e da miséria no país, fatores básicos para as condições de exclusão enfrentadas por parcelas expressivas da população brasileira, com inegável destaque para os representantes da raça negra, mas sem esquecer também das mulheres e, particularmente, das crianças, cuja vulnerabilidade se agrava quando também são de raça negra.
A luta do movimento sindical, portanto, deve acolher também a luta da população negra na sua busca de espaços de conquista coletiva. O trabalhador brasileiro deve ser solidário contra a discriminação e o preconceito, em defesa da liberdade de informação e manifestação religiosa e cultural, e na busca pela abertura de oportunidades iguais de inserção no mercado de trabalho e valorização profissional da população negra do país.
Somente a mobilização da classe trabalhadora contra a exclusão de qualquer natureza, sem distinção étnica, cultural, religiosa ou sexual, poderá responder aos interesses populares e garantir as mudanças que nos permitam avançar no resgate da enorme dívida social acumulada com o povo brasileiro.
(*) Ricardo Patah é presidente da UGT - União Geral dos Trabalhadores e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo"
UGT - União Geral dos Trabalhadores