Ricardo Patah
Presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores - UGT
06/06/2018
Em meio às oceânicas crises que infernizam diariamente a vida nacional, surgiram personagens novos no nosso desastrado cotidiano, sem que o País se desse conta disso: são cerca de 5 milhões de desalentados. O nome é assustador e angustiante. Até recentemente, integravam o universo de 13 milhões de pessoas desempregadas. Agora, desistiram de tudo.
E o que mais assusta é que a greve dos caminhoneiros do perigosamente perdido governo Temer aumente ainda mais esse exército de trabalhadores sem rumo. A economia regrediu com a paralisação, e a perspectiva de se aumentar os postos de trabalho ficou ainda mais distante. Nosso país parece ter sido sequestrado por um grupo (governo federal, parte do Congresso, empresários, banqueiros etc.,) e não consegue caminhar sem tumultos perigosos, como esse dos motoristas.
A bem da verdade, as reivindicações do setor eram corretas. O governo Temer, que já tinha o problema na mão desde outubro passado, não deu a mínima importância. Deixou as coisas rolarem até a explosão do conflito que pôs em risco nossa frágil democracia, como se nossos graves problemas pudessem ser resolvidos com um golpe. Já tivemos essa experiência, e seus resultados nefastos são conhecidos de todos.
Para resolver os problemas dos caminhoneiros, o governo cortou verbas da saúde e da educação, tirando benefícios sociais de trabalhadores pobres e aposentados. Mas não mexeu, por exemplo, com as emedas parlamentares. Só nos primeiros quatro meses deste ano, já foram liberados quase R$ 2 bilhões para deputados e senadores. Se o roteiro for seguido à risca, até o fim deste ano cada um vai receber R$ 14,8 milhões. Serão R$ 8,8 bilhões no total. Quase o custo da greve dos caminhoneiros.
Os desalentados foram manchete desta Folha no dia 18 de maio. O IBGE informa que o número de desalentados (ou desesperançados) é o maior já registrado. Cresceu de forma absurda desde 2014, transformando-se no mais novo drama dos trabalhadores desempregados.
Já somos o país da informalidade, do "bico", do trabalho intermitente e por conta própria, da pejotizacão. Temos cerca de 34,3 milhões de pessoas nessas modalidades, contingente superior aos 33,3 milhões de ocupados em vagas formais (dados do IBGE).
Durante a reforma trabalhista, o governo propagandeou que seriam criados milhões de empregos, o que não aconteceu, como vimos acima. A UGT (União Geral dos Trabalhadores) realizou, no último 1° de maio, seminário sobre a Quarta Revolução Industrial. Participaram especialistas da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista). A principal discussão girou em torno das mudanças em curso nas relações trabalhistas, motivadas especialmente pela flexibilização e pela era digital.
A automação vai mexer com 16 milhões de brasileiros até 2030, segundo especialistas do setor. Essas mudanças já vêm ocorrendo em muitos países há mais de 20 anos, mas o Brasil ainda não acordou para esse problema. Vivemos uma constante crise política, econômica, social e moral e não conseguimos reagir. Nosso país parece um gigante abatido.
Klaus Schwab, autor do livro "A Quarta Revolução Industrial", tem uma frase assustadora sobre essa imobilidade: "Neste novo mundo, não é o peixe grande que come o pequeno, mas é o peixe rápido que devora o lento".
A grande chance de mudarmos tudo vem com as eleições de outubro. O voto de cada um de nós deve ajudar a fazer uma grande revolução, fortalecendo a nossa democracia. Ou fazemos isso ou corremos o risco de olharmos para os desalentados e dizer: nós seremos vocês amanhã!
UGT - União Geral dos Trabalhadores