Carlos Alberto Schmitt de Azevedo
Presidente da Confederação Nacional das Profissões Liberais, entidade filiada a União Geral dos Trabalhadores- UGT
16/11/2015
No dia 7 de outubro de 2015, as principais entidades sindicais do mundo, irmanadas a Organização Internacional do Trabalho – OIT patrocinaram mais uma jornada pela implantação do trabalho decente em escala global. A CNPL – Confederação Nacional das Profissões Liberais, entidade brasileira filiada à Central Sindical Internacional – CSI e à Central Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas - CSA, como em todas às vezes anteriores, se fez presente e atuante.
Neste ano, o lema que norteou a jornada mundial foi: “Um basta na ganância corporativa”! As entidades sindicais - e muito mais os trabalhadores - sentem permanentemente os efeitos nefastos e perversos provocados pela ganância das grandes corporações transnacionais que na busca incessante do binômio poder e lucro, a tudo e a todos atropelam ou destroem.
Recentemente, uma das maiores empresas do mundo, a montadora alemã Volkswagen, foi flagrada fraudando testes de eficiência energética e padrões ambientais, com o intuito de enganar agências de fiscalizações, governos e consumidores em todo o planeta visando o aumento do lucro. Descoberta a fraude, os resultados foram avassaladores, fazendo com que a empresa perdesse credibilidade, confiança, mercado e muito dinheiro, tanto na queda das vendas dos seus produtos, quanto no pagamento de multas e ações judiciais ao redor do mundo.
O caso da Volkswagen é emblemático ao escancarar que as sociedades, em sua grande maioria, não pactuam mais com essa ganância desmedida, que costuma ser a marca registrada das grandes corporações. Estamos, aos poucos, criando a consciência cívica que o enriquecimento obsceno de uns poucos, representa o empobrecimento expressivo de uma ampla maioria da população mundial.
O transnacionalismo empresarial, como o conhecemos hoje, nada mais é do que uma forma perversa de se ignorar fronteiras, legislações laborais, padrões éticos e morais, com o único intuito de se produzir riquezas sem a devida contrapartida do pagamento dos justos impostos, da valorização e qualificação dos trabalhadores, do respeito ao meio ambiente e a promoção da sustentabilidade em nosso mundo.
Assim, chegamos ao ocorrido aqui no Brasil, no estado de Minas Gerais, na cidade de Mariana, no distrito de Bento Rodrigues, onde um crime ambiental jamais visto na história do País, provocou uma hecatombe sem precedentes e que deixará sua marca de destruição e escárnio por muitos e muitos anos. Aqui, a fábula do capital malvado contra a sociedade indefesa se fez realidade com requintes do mais puro terror.
Contribuiu para esse cenário de horror, que massacrou a alma nacional, a ganância corporativa em seu estado mais bruto e selvagem, onde o acúmulo de capital, o lucro a qualquer preço, não respeita nada ou ninguém; homem, mulher ou criança; pátria, lei ou decência. Aqui, a exemplo de países onde os governos são fracos, lenientes e corruptos, o capital sem moral e sem ética, encontrou desde sempre as condições ideais para prosperar, corromper, delinquir e destruir.
Aqui, neste Brasil fragilizado moral e eticamente, com sua autoestima soterrada em um mar de lama metafórica, a ganância corporativa, aliada à política podre e subserviente, finalmente mostrou sua face sem disfarces ou subterfúgios, o seu poder destrutivo e maléfico e, literalmente, fez a lama aflorar e soterrar vidas, bens, histórias, esperanças, a própria natureza e, principalmente, o futuro!
Os danos são incalculáveis em todos os sentidos e direções. Mas, essencialmente, mostrou-nos que não temos governo, não temos Estado, não temos homens nem mulheres com o mínimo de espírito público, que estejam a altura, nesse momento, de se afirmarem, minimamente, dirigentes ou governantes do que quer que seja.
Essa tragédia, esse atentado contra o povo brasileiro, requer medidas e ações enérgicas por parte daqueles que representam as classes trabalhadoras nesse Brasil. O império da ganância desmedida, da impunidade permanente e da conivência criminosa acabou! Não devemos tolerar nem transigir um milímetro mais que seja na defesa do trabalho decente, das políticas e práticas de produção calcadas na sustentabilidade e no respeito a pessoa humana e a natureza.
A Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL, entidade que representa 51 categorias de profissionais liberais, cerca de 15 milhões de trabalhadores, cidadãos com suas famílias, dedicará ainda maiores esforços para que o universo do trabalho, no Brasil e no mundo, caminhe célere e sem desvios para a obtenção plena de progresso com paz e justiça social. Chega de exploração, ganância, destruição e morte!
(*) Presidente da Confederação Nacional das profissões Liberais
UGT - União Geral dos Trabalhadores