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UGT Press 447: Primeiro trimestre muito ruim


19/05/2015

PRIMEIRO TRIMESTRE: as contas públicas brasileiras, compreendendo municípios, estados e União, nunca estiveram tão ruins. O governo gastou mais de 150 dias na lengalenga do ajuste fiscal, enquanto as contas deterioravam. Sem moral, ficou refém do Congresso Nacional (leia-se Eduardo Cunha e Renan Calheiros) que, sem regras ou tutela democráticas, criou mais empecilhos, além de ameaçar o tempo todo o Executivo. Se todas essas ameaças se materializarem, as finanças públicas estarão mais combalidas ainda, no decorrer destUGe ano. Os resultados ruins começaram a aparecer: o primeiro trimestre foi o pior em 6 anos. Para se ter uma ideia, o governo teve despesas financeiras de quase 150 bilhões de reais, dinheiro gasto pelas ações desastradas do Banco Central e dinheiro que se transferiu do setor público para o privado sem nenhuma compensação desenvolvimentista. Foi dinheiro utilizado para pagar juros e para intervenções no câmbio.

 

INDÚSTRIA: dentre as maiores preocupações está o desempenho da indústria nacional. Vale dizer que não é uma preocupação recente. Entre janeiro e março, o recuo foi de expressivos 5,9%. A produção industrial vem caindo há tempos, com uma sequência negativa inédita. Desde janeiro de 2003, informa o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor vem sofrendo e deve encerrar o ano de 2015 com uma retração sem precedentes. Segundo Solange Srour, economista da ARX Investimentos, a perda do ano no setor deve ficar próxima de 5%. Ela afirmou ao Estadão (07/05): "Acredito que a recuperação só ocorrerá a partir de 2016, depois de adotada uma agenda de reformas, entre elas o avanço das concessões públicas em projetos de infraestrutura".

 

RECORDE INCÔMODO: a retração da indústria brasileira não encontra paralelo na história econômica recente, nem mesmo nos momentos mais agudos de crise do século passado. As demissões, ainda tímidas, começam a aparecer e elas são a principal causa da descrença dos consumidores. Aí é o pior dos mundos porque numa ponta recua-se a produção e os investimentos e, na outra, caem as vendas, instalando-se um quadro recessivo no setor. Nos dois ou três anos anteriores ao governo Dilma Rousseff, esse quadro foi ligeiramente atenuado pelas políticas de crédito e incentivos fiscais, mas essa política esgotou-se diante da deterioração de outros indicadores econômicos e frente a outras crises setoriais. Agora, a economia cai como um todo. Resta esperar reações momentâneas de alcance limitado proporcionadas pela desvalorização do real, o que torna os nossos produtos mais atrativos no exterior e os produtos importados mais caros internamente. Isso é pouco e praticamente anulado pelas intervenções do Banco Central do Brasil no mercado de moeda e na política de juros altos.

 

AINDA SOBRE INDÚSTRIA: as causas dos problemas na indústria não são somente as políticas governamentais. Também os industriais estão acostumados a culpar o velho e batido "custo Brasil". "Hoje, parece consolidada a percepção de que a baixíssima competitividade da indústria vai além dos suspeitos de sempre. Está envelhecida e mal-acostumada com excesso de proteção e de reservas de mercado. Para tudo quer altas barreiras alfandegárias e reluta em modernizar-se" (Diário da Região de São José do Rio Preto, 07-05). O raciocínio é do comentarista econômico Celso Ming, que também descartou o "custo Brasil". Não são nem os salários (baixíssimos em comparação com os países industrializados) e nem os encargos sociais, também menores. Portanto, as causas são variadas e estão compartilhadas no arcabouço de nosso subdesenvolvimento.

 

FAZENDO ÁGUA: o atual presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) fez à imprensa uma declaração para lá de preocupante. Em tese, o documento divulgado pela empresa e assinado por Jerson Kelman, diz que os recursos hídricos do Estado deveriam ter sidos administrados "com mais prudência". Ele se refere basicamente ao Sistema Cantareira, do qual se poderia ter tirado mais água e, portanto, não teve os fluxos compensados. Em outras palavras: poderiam ter sido captados mais recursos hídricos e, com isso, seria evitada a invasão do chamado volume morto. O que assusta nesta equação complicada é que todos na empresa conheciam o problema e sabiam como ele poderia ser solucionado. Kelman afirmou que o modelo atualmente proposto é significativamente melhor e que, se fosse anteriormente aplicado muitos dos problemas vigentes seriam evitados. O que houve, então? Certamente, inércia técnica e influência política. Inércia técnica é um mal que atinge 9 entre 10 estatais brasileiras e faz parte de nossa tradicional incompetência gerencial. A influência política, a mesma que praticamente destruiu a Petrobrás, pode ser debitada ao atual governador, Geraldo Alckmin, um homem que faz parte do governo estadual há mais de uma década e negligenciou em uma das maiores necessidades da população: ter acesso à água potável.

 

DOMÉSTICAS: enfim, o Senado Federal aprovou as regras para a aplicação dos direitos inerentes às atividades dos trabalhadores domésticos. Sem criticar a medida, necessária, deve-se prestar atenção no excesso de burocracia que cercam essas questões, especialmente quando o erário olha em direção à arrecadação de tributos ou encargos sociais, às vezes dificultando a própria concessão dos benefícios e mais informalizando do que formalizando. Vamos esperar que não existam maiores complicações para a conquista efetiva desses direitos. Calcula-se que no Brasil existem mais de 6 milhões de trabalhadores domésticos. 




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