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UGT Press 355: Estamos cansados


06/08/2013

MOVIMENTOS: Primavera Árabe, Occupy Wall Street, ou antes, 1968 na França, Diretas Já ou Caras Pintadas entre nós, todos grandes movimentos, nenhum deles têm alguma coisa a ver com as atuais manifestações brasileiras. Já se derramou muita tinta sobre o assunto. Na verdade, estamos diante de um fenômeno moderno, urbano, inspirado e sustentado pelas redes sociais. Reflete uma espécie de exaustão com os desmandos políticos e administrativos do país, centrados, sobretudo, na prevalência do poder econômico e em sua variante principal, a corrupção. Ou seja, todos sabem a razão dos protestos e dispensam-se as explicações mirabolantes. Jovens despidos de cores ideológicas ou partidárias estão nas ruas. Desprezados os grupos oportunistas, mascarados ou interessados, os que estão lá por idealismo simplesmente estão cansados. Simples assim.

NÃO COMO RESPOSTA: dificuldades econômicas? Falta de representação democrática? Desemprego? Autoritarismo? Falta de liberdade de expressão? Inflação acelerada? Então? Então, há uma frustração em ver um país grande, rico, com 200 milhões de habitantes, jogando pela janela todas as oportunidades para se transformar em uma potência econômica, social e política. Mais uma vez, sobra o cansaço de um modelo de governo perdulário, de parlamento cooptado, de justiça morosa e inócua, de violência generalizada, de marginalização inexplicável e de pobrezas abjetas. Cansamos! De novo, muito simples.

BRASIL SUBMERGINDO: perdidas as oportunidades de crescimento institucional e político, começam também os sinais de debilidade econômica. A emergência do Brasil, incluso nos Brics desde quando o termo surgiu, parece estar desaparecendo. Algumas publicações de renome (Financial Times, Economist e outras) mostram os motivos: ameaça da volta da inflação, crescimento baixo, déficit no balanço de pagamentos, déficit público e, recentemente, um novo e impiedoso fator, a instabilidade política e social. E pensar que o Brasil teve, no mínimo, uns 15 anos de economia mundial favorável, com valorização das commodities e um fluxo de investimentos alto e contínuo. Nesse tempo, para dizer o mínimo, não aproveitou para modernizar sua administração pública, fazendo dela algo quase inqualificável. Aprofundou-se em comportamentos inadequados.

MAUS COMPORTAMENTOS GENERALIZAM-SE: em qualquer sociedade, onde não há distribuição da Justiça e a impunidade se alastra, os maus exemplos são imitados e seguidos. Crescem exponencialmente. A corrupção, por exemplo, começa no andar de cima e avança pelos andares inferiores, chega ao cúmulo do cidadão precisar gastar dinheiro para conseguir uma simples certidão ou a cópia de um processo. Lateralmente, também ela se espalha, estando na cúpula do Ministério e nas organizações da administração indireta, fundações ou autarquias. Quando não há castigo, a Polícia se alia aos malfeitores, protegendo-os mediante pagamento, como num caso revoltante em São Paulo. Os bancos cobram juros altos e os empresários sobem os preços. Não há o mínimo respeito às leis. Quase como se a frase de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) se fizesse verdadeira: Se não é possível instaurar a moralidade, vamos todos nos locupletar".

THE NEW YORK TIMES (NYT): precisou que um jornal de fora abordasse a questão de nossos preços abusivos. Dois exemplos do NYT: uma pizza a 30 dólares e um berço que, entre nós, custa seis vezes mais que o similar americano. Não é à toa que os brasileiros em visita aos Estados Unidos voltam com malas abarrotadas de roupas, calçados e produtos eletrônicos. Tudo lá é mais barato do que aqui, inclusive, segundo o NYT, os aluguéis. Aliás, diga-se, as viagens internacionais são responsáveis por quase metade do déficit na balança de pagamentos.

AS CIDADES PODEM QUEBRAR: a desindustrialização está mostrando que as cidades podem quebrar. O exemplo atual mais eloquente é Detroit, outrora o símbolo do capitalismo americano com as suas importantíssimas fábricas de automóveis. Detroit perdeu mais da metade de sua população, está com dívidas acima de 20 bilhões de dólares e literalmente pediu concordata ao Estado de Michigan. Com um terço das luzes apagadas, metade dos parques fechados, bairros inteiros abandonados e com o maior índice de homicídios dos Estados Unidos, Detroit tem servido a teses sobre as novas realidades do terceiro milênio. Uma dessas teses, estampada no caderno "Ilustríssima" da Folha de São Paulo (28-07), "sinaliza a decadência dos subúrbios como modelo urbanístico nos Estados Unidos". Os subúrbios eram o sonho de consumo da classe média estadunidense. Agora, os especialistas detectam a "reocupação dos grandes centros das grandes cidades". Algo para se pensar."




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