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UGT Press 431: Coisas pouco notadas em 2014


20/01/2015

DISCURSO DE PUTIN: sem a devida repercussão na imprensa ocidental, Vladimir Putin pronunciou, na visão da esquerda mundial, um discurso histórico em 24 de outubro, no encerramento do XI Encontro Internacional de Valdai (cidade entre Moscou e São Petersburgo, onde se realiza o Valdai International Discussion Club’s), uma associação de políticos, intelectuais e governantes que se reuniram para discutir a problemática russa e, de resto, a situação mundial. Atílio Boron, diretor do Centro Cultural de Cooperação Floreal Gorini (PLED), de Buenos Aires, fez uma análise, começando por afirmar que o discurso “foi  convenientemente ignorado pela imprensa dominante. Ignorado porque nele se traça um diagnóstico realista e privado de qualquer eufemismo, denunciando a aparentemente incontornável deterioração da ordem mundial e os diferentes graus de responsabilidade que cabem aos principais atores do sistema”. Boron disse que a imprensa mundial, de passagem, aludiu a alguns tópicos do discurso, caso do New York Times que, no dia seguinte, escolheu trechos com “escandalosa subjetividade”, algo mais ou menos igual à cobertura do Washington Post. “Isso foi tudo”. Boron foi mais longe: “Na América Latina, onde a imprensa em todas as suas variantes está fortemente controlada por interesses norte-americanos, o discurso foi inaudível. Por contraposição, qualquer discurso de um ocupante da Casa Branca que difame qualquer líder ou governo, aqueles que não estão de joelhos ante a autoridade estadunidense, colhem melhor sorte e encontram ampla difusão nos chamados meios do “mundo livre”. O discurso de Putin, de três horas, teve várias partes: a) uma análise profunda da situação mundial, com a constatação que “o Ocidente minimiza desafios do momento”; b) fez um desalentado e detalhado itinerário do pós-guerra até o final da Guerra Fria, “com o surgimento fugaz da unipolaridade americana”; c) depois, Putin deitou suas considerações sobre este período de transição da ordem mundial, o qual “por regra geral foi acompanhado, se não por uma guerra global, por uma cadeia de intensos conflitos locais”; d) que os Estados Unidos cometeram um engano ao pensarem que ganharam a Guerra Fria, tratando a experiência como um oneroso anacronismo, sem propor regras de convivência para o futuro e comportando-se como “novo rico” que, embriagado pela desintegração da União Soviética e seu acesso a uma incontestada primazia, atuou com “prepotência e imprudência”; e) numa das partes, Putin deixou tempo para uma inusitada integração com a platéia (gente da estirpe de Dominique de Villepin, ex- primeiro ministro da França, Wolfgang Schuessel, ex-chanceler da Áustria e Robert Skidelsky, consagrado biógrafo de Keynes), ouvindo perguntas e oferecendo respostas, enfatizando em muitos momentos que a Rússia não ficará de braços cruzados ante as ameaças que se abatem sobre sua segurança e o seu futuro; f) entre as dúvidas e as inquietações dos participantes surgiram perguntas sobre uma eventual intenção russa de voltar-se ao seu velho imperialismo, sonhando com nova expansão. Putin utilizou-se de imagem poética: “amo e senhor da imensidão da taiga siberiana, e que para atuar em seu próprio território não se preocupa em pedir permissão a ninguém... Posso assegurar que a Rússia não tem intenção de transladar-se a outras zonas climáticas porque não se sentiria à vontade nelas. Porém, também jamais ela permitirá que alguém se aproprie de sua taiga. Creio que isso está claro”. Rechaçou ainda a intenção ocidental de implantação de bases da OTAN em outros países para rodear a própria Rússia. Não conhecemos qualquer tradução do discurso de Vladimir Putin em português, mas em castelhano pode ser lido em: tp://salsarusa.blogspot.com.ar/2014/11/discurso-de-putin-en-valdai.html

 

EDWARD SNOWDEN: em dezembro, o ex-analista americano, Edward Snowden, acusado pelos Estados Unidos de espionagem, recebeu o prêmio Right Livelihood, concedido pelo parlamento sueco por suas revelações sobre o aparato de vigilância em massa praticado pelo governo norte-americano. Exilado na Rússia, Snowden se pronunciou em agradecimento por videoconferência desde Moscou, onde se encontra. Ele não autorizou ninguém a receber o prêmio em seu nome, manifestando a esperança de um dia estar livre e poder fazê-lo pessoalmente. O Right Livelihood é um prêmio por direitos humanos, considerado um “Nobel alternativo”. O júri destacou a figura de Snowden “por sua coragem e habilidade em revelar um estado de vigilância sem precedentes em sua extensão, violando os processos democráticos básicos e direitos constitucionais”.  O prêmio foi honorário, sem dotação econômica, e igualmente foi concedido a Alan Rusbridger, diretor do jornal britânico Guardian, que publicou os documentos vazados. Em seu pronunciamento, Snowden disse que faria novamente o que fez: “Eu sei que faria”, afirmou. 

 

40.000 MORTES DE IMIGRANTES: desde 2000 até 2014, cerca de 40 mil imigrantes morreram durante viagens por terra e por mar transladando-se de um país a outro de várias formas e em diversas circunstâncias, informou o relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Considera-se que a Europa é a região mais perigosa, pois somente em 2014 morreram três mil pessoas tentando atravessar suas fronteiras. Os números são considerados os mais completos, baseados em registros de incidentes compilados pela pesquisa The Migrant arquivos, um projeto em cooperação com a Agência de Jornalismo. O relatório tem mais de 200 páginas e traz várias histórias de casos fatais, como, por exemplo, a tragédia de outubro de 2013, quando 400 imigrantes foram mortos em dois naufrágios perto da ilha italiana de Lampedusa. Outro ponto nevrálgico citado no relatório é a fronteira México/Estados Unidos, onde nos últimos 14 anos morreram 6 mil pessoas. Existem muitas rotas migratórias, várias delas sem qualquer monitoramento, como o deserto do Saara, a África e o Oceano Índico.

 




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