02/09/2014
PROFESSOR BELUZZO: o professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luiz Gonzaga Beluzzo, em palestra proferida na emblemática Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), no dia 4 de agosto, foi de uma rudeza incomum. Acostumado a ser visto como um dos conselheiros do governo, tanto de Lula como de Dilma, ele fez afirmações que têm sido mais habituais nas bocas daqueles economistas que criticam a atual política econômica. Entre todas as afirmações, algumas publicadas na Folha de São Paulo (05-08), estão previsões ruins para os próximos dois anos (a maioria cita 2015 como um ano crítico), que certamente haverá recessão em um dos trimestres restantes do ano e que o crescimento do Brasil, neste ano, será extremamente baixo. O mais interessante ele reservou para a possibilidade de inflação, argumentando que não pode ser desmontado o projeto de ascensão social do Brasil, sob pena de consequências graves, incluindo o desemprego. Reconheceu ainda que tanto o reajuste da gasolina como a alta do dólar serão necessários para resolver os problemas econômicos mais graves. Enfim, sua fala foi uma bomba porque ele é um homem bem próximo do governo.
CRESCIMENTO: parece que realmente não há mais tempo para melhorar o índice médio de crescimento no governo da presidente Dilma Rousseff. As novas projeções para 2014 mostram que poderemos crescer menos de 1%. Se isso de fato acontecer, provavelmente, o índice médio de crescimento no atual mandato (2011/2014) deverá situar-se entre 1,7% e 1,9%. Portanto, menos de 2% no período. Vale a pena especular sobre isso. Um grupo acha que o Brasil está crescendo no ritmo das grandes economias, dos países industrializados, sendo este o padrão de comparação. Outro grupo entende que, sim, o Brasil deve ter a sua economia comparada com países da região e com os Brics, dos quais tem se deslocado. Neste caso, o padrão de comparação seria muito mais desfavorável. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Samuel Pessôa, que escreve na Folha de São Paulo aos domingos, afirmou: “Como, em relação à América Latina, temos não só níveis semelhantes de produtividade do trabalho como grande paralelismo nas trajetórias de desenvolvimento histórico e institucional, além de dificuldades semelhantes em construir sistemas públicos de educação com qualidade, penso que os países da região formam um bom grupo de referência para olharmos nossa trajetória e nossas possibilidades” (03/08).
EMERGENTES: a tese de deslocamento dos Brics, na qual o Brasil vem crescendo menos e tendo taxas mais elevadas de inflação, segundo os analistas, está levando o país a perder investidores. O Banco JPMorgan, através de seus economistas, mostra dados em que o Brasil “está sendo mais mal avaliado, em comparação a outros” (Folha, 24/07). Para Júlio Calegari, um desses economistas e diretor-executivo da gestora do JPMorgan, o quadro ruim no primeiro semestre e a perspectiva ruim para o segundo semestre “reforçou a tendência de queda na produção industrial, que deve levar a uma contração do PIB e risco de recessão”.
DISCREPÂNCIAS: as diferenças entre os países do Brics não se situam somente nessas comparações em relação ao crescimento, à inflação ou aos investimentos. Por ocasião do lançamento do BricsBanco, no Brasil, o professor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central do Brasil, em artigo na Folha de São Paulo (23-07), lembrou: “As discrepâncias são enormes: a Rússia apresenta PIB per capita (já ajustado a diferença de custo de vida) na casa de US$ 20.000, seguida pelo Brasil, com US$ 11.000, mesmo nível da África do Sul, enquanto China e Índia, bem mais pobres, tem PIB per capita na faixa de US$ 8.000 e US$ 3.000, respectivamente”. O professor Alexandre foi mais além e comparou o perfil demográfico, os sistemas políticos e a pauta de exportação, mostrando diferenças fundamentais e profundas entre os países que compõem os Brics. Então, ao olhar os Brics como uma unidade, corremos o risco de interpretações apressadas e fora de contexto.
ESTADOS UNIDOS: a boa notícia em termos de crescimento do PIB vem dos Estados Unidos, país que amargou uma queda de 2,1% no primeiro trimestre. Pois bem, os números do segundo trimestre de 2014, divulgados em julho, mostram um crescimento do PIB de 4,2%, anulando o mau resultado anterior e trazendo otimismo para o resto do ano.
BRASIL: já em nosso caso, uma má notícia: o PIB do segundo trimestre apresentou queda de 0,6%. Os dados revisados do primeiro trimestre apontam retração de 0,2%. Esses dois dados, se confirmados, configuram um quadro tecnicamente recessivo da economia. Para a presidente Dilma Rousseff, a queda é "momentânea". De novo, a Copa do Mundo foi considerada a grande culpada.
UGT - União Geral dos Trabalhadores