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UGT Press 410: Indústria - um nó difícil de desatar


19/08/2014

A COPA É CULPADA? Parece que se tornou um hábito brasileiro sempre achar um culpado para tudo. A Copa do Mundo de Futebol é a mais nova culpada pelo desempenho da indústria brasileira. A manchete do jornal “O Estado de São Paulo" (12-08-14)” diz isso: "Copa do Mundo agrava acrise da indústria:produção industrial recuou 6,95 em relação a junho de 2013, a pior comparação anual desde setembro de 2009". Que há uma gradativa desindustrialização do país, isso é visível já há algum tempo. Para falar em junho, com dois terços da Copa do Mundo, só a indústria automobilística recuou 12%. Mas, evidente, não foi só a Copa, embora seja certo que, em seu período, houve menos horas trabalhadas e maior número de trabalhadores em férias. De 24 setores pesquisados pelo IBGE, 18 deles apresentaram queda na produção. Isso já vinha acontecendo. Realmente, estamos necessitando de um trabalho sério, tecnicamente sustentável, capaz de melhorar o desempenho na indústria. Mas, um fator só, e ainda isolado, não explica.

 

BALANÇA COMERCIAL: já em julho, ainda acontecendo parte da Copa do Mundo, o saldo da balança comercial foi positivo em 1,57 bilhão de dólares, porém insuficiente para reverter o déficit acumulado do ano, atualmente em quase um bilhão de dólares. Ainda assim, há que se registrar que foi contabilizada a “exportação” de uma plataforma de petróleo no valor de 866 milhões de dólares. De positivo mesmo, foi o arrefecimento das importações de lubrificantes e combustíveis e aumento das exportações de petróleo bruto. Houve também boas remessas de soja para o exterior. Alguns especialistas afirmam que a queda nas importações ocorre em função da desaceleração econômica. A chamada “conta petróleo” continua tirando o sono do governo brasileiro: em 2014, o déficit acumulado já está próximo de 10 bilhões de dólares, com perspectivas de melhoras para os próximos anos.

 

ECONOMIA DO AUTOMÓVEL: a indústria automobilística, dita brasileira, começou suas atividades nos idos da década de 1950. Convidaram-se grandes fabricantes americanos e europeus, tomando-se o cuidado de também criar uma indústria nacional, a Fábrica Nacional de Motores (FNM), fabricante dos famosos caminhões Fenemê. Num país de grande extensão territorial, esperava-se que as ferrovias fossem estimuladas. Ocorreu justamente o contrário e houve grande expansão da malha rodoviária. Por um grande período, a indústria foi protegida e importar veículos era proibitivo. Essa situação começou a mudar na década de 1990, quando o então presidente Collor chamou os nossos automóveis de “carroças”: o mercado foi aberto e hoje vemos desfilar pelas ruas brasileiras tantos carros fabricados por aqui como no exterior. Tivemos até um presidente que quis ressuscitar o Fusquinha, o primeiro carro da Volkswagen fabricado no Brasil.

 

CONTROVÉRSIA: apesar do progresso da indústria automotiva, da presença de grandes montadoras e da evidente expansão do crédito para o setor, a economia nacional (leia-se empregos) passou a depender muito dela. Algumas análises foram feitas alertando sobre essa dependência, que alguns não viam como boa para o país. Davam como exemplo os Estados Unidos, onde a crise se instalou e algumas cidades, antes conhecidas pelo vigor de sua indústria automobilística, estavam em franca decadência, caso de Detroit. Não se pode misturar análises de um mesmo setor em países diferentes e os Estados Unidos sofreram também perdas tecnológicas, cedendo espaço para indústrias de outros países. O Brasil, vivendo um novo surto de desenvolvimento, especialmente na primeira década do milênio, beneficiado pelas circunstâncias nacionais e internacionais, aumentou sua produção de veículos e uma parcela da população, antes fora desse mercado, passou a comprar. Foi um ganho social importante.

 

INDÚSTRIA EM GERAL: o fenômeno da desindustrialização não atingiu somente o Brasil, mas aqui os efeitos são mais danosos. Durante anos, o Brasil, por exemplo, não tinha indústria aeronáutica, mas a Embraer tem feito bonito nos mercados internacionais e segue forte, sendo um exemplo de sucesso. Houve um esforço para a recuperação da indústria naval e os governos recentes tiveram papel importante nisso. Há outros setores, inclusive o do petróleo, que tendem a ser mais fortes no futuro. Mas, há também indagações muito frequentes como os espaços que estamos perdendo para produtos chineses, cuja fabricação não requer grandes habilidades tecnológicas. Ou ainda, a camisa de força que tem sido o Mercosul, impossibilitando o país de fazer novas parcerias comerciais. Há que se estudar tudo isso, de forma profissional, sem emoções, buscando o melhor futuro para o país.

 

AUSÊNCIA DE DEBATE: é lamentável, mas não se vê este tipo de debate na sucessão presidencial. Não somos donos da verdade e gostaríamos de discutir esses assuntos com maior frequência. Mas, parece, essa sucessão será marcada por acusações mútuas de corrupção e incompetência para governar, já que os dois principais postulantes ao cargo tiveram experiência executivas. Se a Copa do Mundo de Futebol tem culpa de alguma coisa, foi a de reduzir drasticamente o tempo de debate da sucessão presidencial. Por outro lado, registra-se em função dos fatos o desinteresse da população em geral, com crescentes intenções de votos brancos e nulos. Agora, com a morte de Eduardo Campos, novos cenários podem ser desenhados.




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