05/08/2014
CONTURBADO: o século 21 (como, de resto, todos os inícios de séculos) foi saudado como uma nova era de progresso e realizações. Se analisarmos sob as perspectivas tecnológicas, talvez o otimismo seja procedente. As inovações tecnológicas não cansam de surpreender. Mas, este século já produziu inúmeras crises econômicas e alguns atritos entre países. O maior deles sendo vivido neste momento na Ucrânia, com envolvimento da Rússia e dos grandes do Ocidente. Nem se fala da crise permanente e insanável do Oriente Médio, requerendo urgentemente a criação de um Estado Palestino (a rigor, só isso não resolve). Também se esquece das muitas crises alimentárias a atormentar partes do continente africano. Portanto, conturbação é o que não falta neste início de século.
SÉCULO 20: contra essa evidência de que o século 21 seja uma extravagância em termos de crises pontuais, o colunista do The Washington Post, Fareed Zakaria, lembrou o ano de 1973, auge da Guerra do Vietnã ou a Guerra do Yom Kippur, quando houve a quadruplicação dos preços do petróleo e “o mundo industrializado se viu mergulhado numa crise econômica profunda, perdendo para sempre o acesso à energia barata do Oriente Médio” (Estadão, 19-07-14). Lembrou ainda a crise dos mísseis em Cuba, a supressão de levante húngaro pela União Soviética, as relações sino-americanas sobre Taiwan, a Guerra Fria e a Guerra Irã-Iraque. Poderíamos acrescentar as duas guerras mundiais, o apagão da Primavera de Praga e o armazenamento de um número sem precedentes de armas nucleares. Em outras palavras, realmente não faltam crises em século algum.
NOVA POTÊNCIA: em função da falta de liderança dos Estados Unidos e de sua crise, instalada em 2008, ruindo parte de seu poderio político, uma nova potência econômica e militar está nascendo no século 21: a China. Concordam todos, a China está tentando aumentar a sua influência no mundo, seja através dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ou da expansão na Ásia ou, ainda, sua agressividade em regiões como África e América Latina, onde o seu dinheiro tem permitido implantar empresas chinesas, fazer gordos empréstimos e aumentar sua participação no mercado. Resta saber se o Ocidente, que já enfrenta outras crises, terá fôlego para contrabalançar o aumento dessa eminente influência.
OUTROS PAÍSES E REGIÕES: seja a queda das economias centralizadas do leste europeu nos anos 80 e o consequente triunfo do capitalismo ou as perspectivas de crescimento de certos países, infelizmente, foram esperanças que não se concretizaram. A crise européia estancou as possibilidades de alguns e a crise americana a de outros. Países como México, Brasil, Colômbia e Argentina, para ficar em nosso continente, que apresentavam perspectivas altamente favoráveis, estão morrendo na praia. México, Colômbia e Chile ainda mantém vivas suas esperanças. Em alguns casos (Venezuela, Brasil e Argentina, principalmente), os problemas maiores ocorreram internamente e esses países não foram capazes de produzir reformas que alavancassem o progresso. O caso da Venezuela é o mais difícil de todos porque acumula junto com a crise econômica, uma crise institucional de difícil solução.
BRASIL: o Brasil foi um dos países que não realizou suas reformas e convive com situações de extrema dificuldade. Aparentemente estável, com boas reservas e bom nível de emprego, o país guarda dentro de si alguns problemas graves: saldos negativos na balança comercial e de pagamentos, aumento das dívidas interna e externa, juros estratosféricos, déficit público e corrupção desenfreada. No plano institucional não realizou sua reforma política e convive com eleições caríssimas, mantidas pelo poder econômico. Realizou uma dispendiosa Copa do Mundo de Futebol e, por isso, terá menos de três meses para debater a sucessão presidencial, algo que, a rigor, favorece a situação. Todas as consequências desses problemas serão sentidas em 2015, um ano que se avizinha como difícil e incerto.
UGT - União Geral dos Trabalhadores