25/03/2014
PARALELO: normalmente, o paralelo que se faz em relação aos índices de desemprego é que eles crescem quando a economia acelera e baixam quando a economia está fraca. Portanto, não é comum ter desemprego baixo com economia fraca. Esse é, estranhamente, o caso brasileiro: crescendo a uma média de 2% no governo de Dilma Rousseff, o desemprego mantém-se estável, chegando mesmo a cair em certos períodos do ano. Há explicações e a maioria delas remete à demografia nacional. Desacostumada a essas filigranas demográficas, a população credita as boas perspectivas de emprego à eficiência do governo de turno, que não faz nenhum esforço para explicar o fenômeno.
EXPLICAÇÕES: no início da década passada, a PEA (População Economicamente Ativa) cresceu 1,7% ao ano, enquanto já no final da década e início desta nova década, a PEA cresceu menos, 1,3% ao ano. Também tem havido uma redução no crescimento populacional como um todo. O Brasil tem atualmente taxas baixíssimas quando comparadas com as altíssimas taxas de nascimentos das décadas de 70 e 80 do século passado. Há um outro dado interessante: o economista Illan Goldfajn, sócio do Itaú-Unibanco, disse: "há uma desaceleração ainda mais rápida na faixa etária de 20 a 59 anos, grupo que forma grande parte da força de trabalho" (Estadão, 11-03) e, parece que, no final desta década, este grupo vai crescer ainda menos. A lógica é simples: se temos menor oferta de trabalhadores, logo, mesmo que haja menos oferta de trabalho, o desemprego tende a ficar estável ou mesmo diminuir, dependendo das circunstâncias.
OUTRAS CIRCUNSTÂNCIAS: você pode não acreditar, mas há mais gente estudando: os números do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) mostram um salto de 50 mil alunos/ano para 500 mil alunos/ano em cursos superiores, um crescimento de mais de 10 vezes. A busca por melhores condições de vida pode levar os brasileiros a estudar mais. Infelizmente, também há casos de jovens que estão desistindo de procurar emprego, aumentando a situação "nem-nem" (aqueles que não trabalham, não estudam e nem procuram emprego). Mas, do outro lado, há um grupo que não foi trabalhar, mas foi estudar e esses são quatro vezes mais numerosos do que os "nem-nem". Há ainda o esgotamento do êxodo rural e pouco se fala hoje em dia na transferência de gente do campo para as cidades. O Bolsa Família propiciou que um bom número de mães pudesse ficar em casa, enquanto os filhos menores vão para a escola. Há problemas? Com certeza, mas são fatores positivos que precisam ser registrados.
A MODA ESTÁ MUDANDO: nas décadas de 50 e 60 do século passado foi moda dizer que o excesso populacional era um grande problema, principalmente em países como o Brasil, em desenvolvimento. Hoje, até mesmo a China está revendo a sua política de filho único, seja para repor a sua capacidade de produção ou para aumentar o consumo da sociedade. A chamada "janela demográfica", onde a população produtiva é maior do que velhos e crianças, propiciou crescimento econômico para países em desenvolvimento, enquanto houve uma paralisia em países com situação demográfica diferente (Japão e União Européia, por exemplo). Há um exemplo dramático: a Rússia, segundo estudo das Nações Unidas, poderá ver sua população diminuir dos atuais 150 milhões para 100 milhões até 2050, o que provocará queda da força de trabalho e, consequentemente, na produção, resultando no encolhimento do PIB (Produto Interno Bruto). O Brasil ainda gozará dos benefícios de sua demografia até 2025.
NÃO SERÁ SEMPRE ASSIM: tanto a questão demográfica como outras circunstâncias especiais que favorecem os trabalhadores brasileiros, neste momento, podem mudar. Especialistas estão informando que esse processo está se esgotando e, segundo o economista Ilan Goldfajn, "sem imigração ou aumento de produtividade do trabalho (ou seja, produzir mais com o mesmo número de trabalhadores), haverá falta de mão de obra e menor contribuição do trabalho para o crescimento".
UGT - União Geral dos Trabalhadores