22/11/2013
CAMPO DE LIBRA: o Campo de Libra, situado na Bacia de Santos, em pleno Oceano Atlântico, foi o primeiro grande campo petrolífero leiloado na área do pré-sal. Calcula-se que o óleo deva ser extraído a 7 mil metros de profundidade. As estimativas de reservas se situam entre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo. O leilão foi precedido de várias expectativas: primeiro, atingir valores recordes e, segundo, encontrar resistências dos grupos de esquerda inconformados com a "privatização". No primeiro caso, não ocorreu uma corrida de empresas interessadas no leilão e o governo brasileiro teve que fazer concessões para conseguir que um único consórcio participasse. No segundo caso, os manifestantes foram barrados por forças especiais. Terminado o leilão, a presidente Dilma Rousseff foi à televisão e a imprensa nacional acompanhou o clima de entusiasmo que tomou conta das autoridades. Foi (alguns observadores anotaram) como se o petróleo e o gás já estivessem jorrando. Exagero!
DINHEIRO NECESSÁRIO: o governo tinha pressa porque precisava do dinheiro para fechar as contas de 2013. A Petrobrás tinha direito (no caso foi mais uma obrigação) de participar com 30%, mas teve que chegar a 40%. O único consórcio participante teve ainda a Shell (20%), a Total (20%), a CNPC (10%) e a CNOOC (10%). Desistiram de participar da licitação a Mitsui (Japão), a Galp (Portugal) e a Repsol (Espanha). Nem se interessaram: Exxon Mobil, BP e Chevron. As razões são muitas, mas há principalmente incertezas no ar: as dificuldades de perfuração em águas profundas, uma tecnologia da Petrobrás, são, segundo Segen Farid Estefen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), "ainda um grande desafio para a empresa"; Carlos Assim (Ernest & Young), disse "a experiência é completamente nova em semelhantes profundidades, o que leva a uma série de incertezas e desafios nunca antes existentes".
FATOR OGX: contribuiu para esse clima de incerteza, a quase quebra da OGX, empresa do brasileiro Eike Batista. Em setembro, ele anunciou ao mercado a suspensão do pagamento de 45 milhões de dólares, referentes a serviços relativos a bonos emitidos fora do Brasil. Ao mesmo tempo, iniciou conversações com credores para evitar a quebra. Miriam Leitão, da Rede Globo, afirmou: “Eike foi construindo um castelo de cartas. Fomentou a especulação e inflou de forma artificial o valor de mercado de projetos que não haviam sido bem estruturados. O governo e o mercado se equivocaram ao caírem em seu delírio" (Alai-Info, 04-11). Circunstâncias como essa não contribuem para estabilizar o mercado e criam novos boatos que estimulam o aparecimento de incertezas.
PROMESSAS E ILUSÕES: o Brasil vive da ilusão do pré-sal já há alguns anos. Essa onda começou no governo Lula e continua no governo Dilma. Primeiro foram as brigas políticas entre os estados brasileiros para abocanharem uma parcela dos royalties do petróleo, assunto ainda não inteiramente resolvido. No meio do caminho, a Petrobrás viu desvalorizarem suas ações, produto da má gestão e de interferências políticas em sua administração. Em outros campos (investimentos em hidrelétricas, aeólicas e redes de transmissão) há uma série de trapalhadas que comprometem o futuro energético brasileiro. Há também, permeando todas as questões nacionais, a nossa empedernida e cada vez mais cara corrupção, que atingiu o patamar de tragédia nacional. A Petrobrás, infelizmente, não está isenta de suspeitas.
ESPECULAÇÕES: a ex-analista financeira de Wall Street, Deborah Rogers, afirmou que "sempre há uma bolha financeira" promovida pelos especuladores do mundo das finanças. Da mesma forma que ocorreu a crise das hipotecas em 2007, tudo parece indicar que há super estimativas em outros negócios e o petróleo é um dos que mais movimentam recursos no mundo. Ela afirma que as estimativas de reservas em petróleo e gás podem estar superestimadas. Por outra parte, parece que estão sendo minimizados os riscos e as dificuldades em operar a extração de petróleo abaixo da camada do pré-sal. Enfim, um caldo de situações que pode gerar muitas especulações.
PERIGO AMBIENTAL: "vale lembrar, diz a Alai-Info, o acidente da plataforma Deepwater Horizon, de propriedade da empresa britânica BP. Ela operava a 2 mil metros de profundidade no Golfo do México e sua explosão causou um derramamento de milhares de barris de óleo cru no oceano, provocando a maior contaminação petrolífera da história americana. Os danos daquele derramamento foram estimados pelo governo dos Estados Unidos em 20 bilhões de dólares". Veja, esse campo está cinco mil metros acima de Libra! As técnicas ainda não são seguras e, portanto, o perigo de um acidente ambiental de grandes proporções é evidente.
UGT - União Geral dos Trabalhadores