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UGT Press 363: Discursos na ONU


01/10/2013

DISCURSOS NA ONU: é impossível resistir à tentação de comparar os dois discursos dos governantes do Cone Sul proferidos na ONU (Organização das Nações Unidas). O primeiro, de Dilma Rousseff, do Brasil, um terço dele, apropriadamente, criticando a espionagem cibernética dos Estados Unidos e, outra boa parte, também importante, propagando as vantagens de investir no país. Depois, a presença na tribuna do prestigiado presidente do Uruguai, José Mujica. Diferente de Dilma, o velho e experiente Mujica nos legou uma primorosa, poética na linguagem dos críticos, obra de retórica. 

 

MUJICA: o presidente uruguaio começou dizendo que vinha do sul "esquina do Atlântico com o Prata", recordando a dependência do Império Britânico e a glória do Maracanã. Lembrou a "força da utopia" e enveredou por críticas originais ao "bloqueio inútil de Cuba" e aos "restos do colonialismo nas Malvinas". Falou sobre a paz, a vida e o amor. Aludiu à globalização e falou sobre "um mundo sem fronteiras". Não esqueceu a cultura consumista da atualidade e criticou abertamente os gastos militares, dizendo "em cada minuto do mundo se gastam dois milhões de dólares em orçamentos militares". Um longo discurso de seis laudas, terminando por uma profissão de fé no ser humano - "pensem que a vida humana é um milagre". Foi, como sempre, muito aplaudido e sua fala já está nas redes sociais. 

 

DILMA: a presidente brasileira foi dura na abertura da 68ª Assembléia Geral da ONU, ao expressar indignação e repúdio aos atos de espionagem do governo americano, seja em direção a empresas ou países. Foi ouvida com atenção. Num determinado momento, chegou a pedir "explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão". De passagem, moderadamente, falou sobre regras para o uso da internet (sabe-se que o Brasil é contra os controles rígidos da rede). Na análise de críticos brasileiros e estrangeiros, Dilma Rousseff mirou mais o público interno, uma elite que se interessa por política externa. A rigor, Dilma foi bem sucedida. A fala na ONU precedeu a um importante seminário sobre as vantagens de investimentos no Brasil, levado a efeito no dia seguinte à Assembléia. O governo está tendo dificuldades em atrair investidores para as obras de infraestrutura. 

 

SINAL: liderado pelas cabeças do primeiro escalão da República, o seminário brasileiro foi um esforço para "vender" o país aos investidores americanos e estrangeiros presentes. Celso Ming, em sua coluna no Estadão, foi irônico: "Durante meses, o governo criticou a entrada de capitais especulativos. Desde julho, passaram a ser bem-vindos". Não é para tanto. O esforço foi claramente no sentido de buscar investimentos permanentes, embora o governo brasileiro tenha removido as dificuldades para a entrada de capital volátil. O próprio Estadão, um jornal que está muito longe de ser situacionista, cuidou de divulgar a incoerência do governo, ao fazer um seminário em parceria com o Banco Goldman Sachs. Verdade seja dita, hoje as condições para investimento no Brasil estão bem diferentes, em função, especialmente, da instabilidade do real. O governo vem fazendo um sincero esforço para controlar isso. 

 

ENFIM: é preciso reconhecer que o Brasil fez realmente um bom trabalho em termos de divulgação para as chamadas "oportunidades na infraestrutura", título do seminário. O principal recado brasileiro foi "o Brasil não rasga contratos", falado por Dilma e repetido por Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento. Se vai dar certo é outra coisa. Internamente, o governo está cuidando de prorrogar licitações, facilitar o acesso de interessados e diminuindo as exigências para a participação de empresas menores. Agora, dizem os analistas, há mais calma no Planalto: as manifestações diminuíram e a popularidade da presidente está gradativamente voltando aos patamares iniciais.

 

 

 

 

 




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