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UGT Press 359: A falta de estadistas


03/09/2013

 

O QUE É UM ESTADISTA: qualquer dicionário informa que se trata de pessoa altamente preparada, com tirocínio, habilidade, discernimento e inteligência para administrar os negócios de Estado; político visionário; homem de Estado. Winston Churchill dizia que, enquanto o político pensa nas próximas eleições o estadista pensa nas próximas gerações. A pergunta que UGTpress faz e responde hoje é se o Brasil, desde o processo de redemocratização, teve algum estadista. Atrevemo-nos a responder que não. 

 

JOSÉ SARNEY: por um palpite infeliz de um renomado jurista, com a morte de Tancredo Neves, o maranhense José Sarney assumiu a presidência da República. Depois de vários planos econômicos e moedas, incluindo o frustrado Plano Cruzado, Sarney deixou o governo com a inflação beirando 100% ao mês. Segue atuando como senador, foi várias vezes presidente do Senado Federal e é considerado um dos políticos que mais mandam no país. Normalmente aliado do governo de turno, é citado como um político pragmático, fisiológico e paroquial. 

 

FERNANDO COLLOR DE MELLO: com as trapalhadas de José Sarney, sem legislação eleitoral e política definida, apesar da nova Constituição, o país cedeu espaço para políticos oportunistas. Collor se postou como “salvador da Pátria”, caçador de “marajás”, uma expressão que cunhou para se referir aos servidores públicos com grandes salários. Recebendo exposição favorável dos meios de comunicação, conseguiu derrotar Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas e outros nomes de expressão no cenário político nacional. Venceu um segundo turno atípico, tomou posse prometendo derrubar a inflação com um tiro só. Tungou a poupança da população, numa vergonhosa apropriação de recursos privados. Não derrubou a inflação, operou um sistema de corrupção através de seu tesoureiro P. C. Farias e foi denunciado pelo próprio irmão. Sofreu impeachment e saiu do governo dando lugar ao vice-presidente Itamar Franco. Absurdamente, é hoje senador da República! 

 

ITAMAR FRANCO: mineiro de Juiz de Fora, namorador, admirador do superado fusquinha, um antigo carro popular da Volkswagen, Itamar Franco nomeou o sociólogo Fernando Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda, que encarregou alguns economistas de preparar o Plano Real. O Plano Real foi um sucesso, a inflação foi domada e, com isso, Fernando Henrique Cardoso se credenciou para disputar a Presidência da República. O governo Itamar Franco pode ser considerado regular, mas ficou somente no Plano Real, nada mais fez de interessante.

 

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO: professor de sucesso, intelectual de renome, FHC como passou a ser conhecido, ancorou-se na continuidade do Plano Real e promoveu ampla ação desestatizante. Com o dinheiro da venda das estatais e aumento da dívida interna, cobriu o profundo rombo das contas brasileiras, amplamente deficitárias. Não havia reeleição, mas ele, um homem especialmente vaidoso, bancou a emenda que possibilitou a reeleição, com suspeita de compra de votos. Manteve, contra evidências de que estava cometendo um erro com intenções políticas, a paridade do real em relação ao dólar. Depois de reeleito, introduziu o dólar flutuante, provocando a primeira crise de credibilidade da moeda. Com isso, abriu espaço para a chegada de Lula ao poder, alguém que já se candidatara por duas vezes sem sucesso. Certamente, FHC foi depositário de grandes esperanças, especialmente por seu preparo intelectual, mas nada fez para consolidar e estruturar a nova e frágil democracia brasileira. 

 

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: líder operário, saído das lutas sindicais do ABC paulista, Lula, desde que apareceu para a vida pública, foi um fenômeno de massas. Recebeu votação consagradora e teve em suas mãos as renovadas esperanças do povo brasileiro. Contudo, logo no primeiro mandato, foi assolado pelo escândalo do Mensalão que quase o afasta do poder. Isso enfraqueceu seu projeto, mas com a adoção de medidas populistas (ampla aplicação do Programa Bolsa Família e política de valorização do Salário Mínimo), aliadas a um panorama favorável na economia mundial, conseguiu se reeleger. Alardeou ter promovido a inclusão de 30 milhões de brasileiros na classe média e se tornou um líder venerado pelas esquerdas do Continente. Conseguiu fazer seu sucessor, pela primeira vez na história uma mulher, sua ministra da Casa Civil (antes de Minas e Energia), Dilma Rousseff. 

 

DILMA ROUSSEFF: herdeira do lulismo, Dilma assumiu tendo atrás de si já as perigosas advertências das crises americana e europeia. Não avaliou bem a situação, continuou promovendo o consumo e, afoitamente, afrouxou as duas primeiras premissas do tripé que deu sustentação ao Plano Real (metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante). Gastos nababescos com a Copa do Mundo, déficit público, déficit no Balanço de Pagamentos, modificações no panorama internacional e anúncios de volta da inflação, fizeram surgir as primeiras nuvens negras em seu horizonte, ameaçando uma reeleição que parecia tranquila. Nunca conseguiu controlar bem sua voraz bancada governista e, a cada grande votação, volta a negociar. Estilo gerenciador, concentrador e intervencionista, com ministros fracos nos quais pode mandar, têm sua administração e sua herança contestada nas ruas, debatendo-se tenazmente para enfrentar a maior crise política brasileira do século 21. É a criatura que depende de seu criador, hoje também já preocupado com a própria biografia. Está se recuperando vagarosamente. 

 

PRIMEIROS ATOS DE UMA NOVA DEMOCRACIA: os primeiros atos de uma nascente democracia são o estabelecimento das condições e regras para o seu funcionamento político e eleitoral. Depois da promulgação da Constituição de 1988, nenhuma lei definitiva (legislação política, eleitoral, sindical e outras) foi votada no Brasil. Há, ao contrário, sérias ameaças a alguns princípios moralizadores. A classe política brasileira é oriunda de um escandaloso abuso do poder econômico. Não é promotora do bem comum e age como sócia do Estado, como abutres arrancando nacos de um cadáver insepulto. Todas essas pessoas, oportunistas e críticas entre si, têm a obrigação de dar respostas à voz das ruas!




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