29/08/2013
REVOLUÇÕES MORAIS: a presença no Brasil do pensador inglês de origem ganesa, Kwame Anthony Appiah, autor do livro O Código de Honra" (Companhia das Letras), deve ter aguçado a curiosidade de todos sobre o enigmático momento atual. Convidado pela Folha de São Paulo para falar no ciclo de conferências "Fronteiras do Pensamento", ele antecipou, em entrevista ao jornal (10-08), algumas de suas ideias. Para ele, as revoluções morais acontecem através das percepções locais: "Elas têm um padrão que faz com que as tendências globais caminhem numa direção, mas os ganhos das revoluções sejam colhidos localmente". Neste sentido, ele cita as mudanças de opiniões em vários países (casamento gay nos Estados Unidos, direito dos animais em geral, questões de gênero no Paquistão e na Índia, etc...). Essas revoluções, diz ele, sempre existiram, citando exemplos do fim da prática do duelo na Inglaterra e o fim do costume chinês de amarrar os pés das meninas para que eles não crescessem. De fato, nossos movimentos atuais, na esteira de outros, têm bandeiras exclusivamente locais.POLITIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS: algo que começou bem e, espontaneamente, corre o risco de ser apropriado pelas legendas partidárias ou grupos sectários. Movimentos que acontecem na frente das Câmaras Municipais e Assembléias Legislativas têm todos os sinais característicos de tendências interessadas em mudar o foco da opinião pública. Antes, tudo se movia em direção às questões nacionais, com foco, sobretudo, no Congresso Nacional e na Presidência da República. Agora, com nova pauta de acontecimentos negativos, as manifestações se redirecionam para os municípios e governos estaduais. Isso, dizem muitos, é do jogo político. Todos querem largar a batata quente em outras mãos. O exemplo maior disso foi a defesa do governador Geraldo Alckmin, citando outras concorrências em outros estados e no governo federal, igualmente beneficiando as empresas suspeitas de superfaturamento nas administrações peessedebistas. Lembrou o presidente Lula na França, falando sobre o mensalão e dizendo: "ora, todo mundo faz isso". Como se o ilícito, desde que existente em outras bandas, se transformasse em prática legal. Mais uma das distorções da política brasileira, cujos padrões de moralidade estão muito longe do ideal.GRUPOS SUSPEITÍSSIMOS: as ações de grupos encapuzados ou mascarados continuam provocando muitos danos aos bens públicos. Os contingentes policiais mantém a postura pacífica, nem prendendo e nem identificando os arruaceiros. UGTpress já afirmou neste mesmo espaço que, com certeza, a identificação desses grupos todos poderia sinalizar os seus interesses específicos, se partidários ou ideológicos ou, pior ainda, se do interesse dos governos de turno. Neste caso, seria uma prática deliberada para assustar a população e taxar os movimentos como irresponsáveis e baderneiros. Nas redes sociais são comuns essas acusações. Não pensem os nossos políticos que esses movimentos vão se esgotar: o elenco de eventos e acontecimentos públicos programados no país podem desencadear outras e novas manifestações. Convém agir com seriedade. Estancar a roubalheira e optar por ações consequentes, por certo, ajudaria.NOSSOS ABSURDOS: mais de uma vez a União Geral dos Trabalhadores (UGT) opinou favoravelmente à instalação no Brasil de uma montadora genuinamente nacional. Todas as nossas montadoras são estrangeiras. Agora, os chineses anunciam que também, no futuro, começarão a produzir no Brasil. Na verdade, é só um anúncio. O presidente da Geely, marca chinesa, Ivan Fonseca, homem do ramo porque trabalhou na Jaguar, Aston Martin e Ford, em entrevista à Folha de São Paulo (10-08), informou sua opção pelo Uruguai. Disse ele candidamente: "O Uruguai oferece as mesmas condições dos demais países do Mercosul. Os produtos fabricados lá entram no Brasil isentos de Imposto de Importação e sem sobretaxa de IPI, desde que sigam exigências como o conteúdo mínimo de componentes regionais". Ou seja, além de não termos nossas montadoras nacionais, ainda somos obrigados a engolir, via Mercosul, todas as marcas estrangeiras ali produzidas.DESTINO DA VOLVO: Volvo, uma empresa sueca, ficou muito tempo à disposição de compradores. Ninguém se manifestou e lá foram os chineses e a compraram. Aliás, os chineses compram tudo o que está à venda. Nada demais, estão no papel deles. Nessas últimas décadas de concentrações, incorporações, fusões e vendas de indústrias automobilísticas, sobraram inúmeras oportunidades para um país como o Brasil desenvolver os seus próprios veículos automotores. Mas, infelizmente, a miopia de nossos governantes, aliadas às facilidades que adotamos para os investimentos estrangeiros internos (nada contra!) e às deformações do Mercosul, fazem deste país um paraíso para as marcas estrangeiras. A Geely é uma empresa que surgiu em 1990 fabricando motocicletas. Fabricará no Uruguai e venderá ao Brasil. Enquanto perdurar a incompetência nacional, escancarada em tantos outros setores também, o Brasil não terá uma economia forte o bastante para enfrentar a globalização."
UGT - União Geral dos Trabalhadores