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UGT Press 325: Astúcia grosseira


15/01/2013

POLÍTICA VERSUS SERVIÇO COMUNITÁRIO: no ano passado, David Brooks (NYT), disse que vivemos um momento antipolítico". Em outras palavras, tendemos a enxergar a política como algo "baixo, sujo, corrupto e inútil". Em contraste, elogiamos e saudamos o serviço comunitário como "nobre, elevado, digno". Evidente que estamos léguas de distância da realidade. Brooks escreve "o desafio da política consiste precisamente em combinar uma visão elevada com uma astúcia grosseira" (Estadão, 24-11-12). Os teóricos do PT (Partido dos Trabalhadores) não leram o artigo de Brooks. Se lessem, certamente, estariam justificando o Mensalão como uma exigência daquele momento, uma espécie de necessária "astúcia grosseira" em nome da governabilidade. O Mensalão existia antes e, desconfiamos, continua a existir com roupagem diferente nos porões do relacionamento entre Executivo e Legislativo, da Câmara Municipal ao Senado Federal. O julgamento, apressadamente taxado de histórico, de nada servirá se as leis não forem modificadas ou se, no mínimo, não existir uma legislação política e eleitoral estável, que elimine os partidos e os políticos de aluguel.

LINCOLN, DE STEVE SPIELBERG: os comentários de David Brooks foram feitos depois que ele assistiu ao filme "Lincoln", do consagrado diretor Spielberg. O filme deve ser lançado no Brasil no final deste mês de janeiro, a tempo certamente de concorrer ao Oscar. Brooks diz que o filme "retrata a nobreza da política exatamente da maneira certa". Segundo ele "para governar o país no meio de uma guerra, para conseguir com a trapaça que o Congresso aprove suas idéias, Lincoln sente-se impelido a ignorar as decisões dos tribunais, comprar apoio político, lançar mão de firulas jurídicas, enganar os que o apoiam e aceitar o fato de que, ao solucionar um problema, acaba criando outros mais adiante". E continua: "Ilustra também outra coisa que a política é o melhor campo para aprimorar as virtudes mais nobres. A política envolve uma série perigosa de testes para o caráter: até que ponto as pessoas conseguem se curvar para conquistar sem destruírem a si mesmas
quando elas devem ser leais à sua equipe e quando devem abandoná-la
como lutar com as tentações da fama - e as pessoas que a praticam e não perderem sua integridade, como Lincoln, Washington ou Churchill ..."

POSSE DE PREFEITOS E VEREADORES: o Brasil assistiu em primeiro de janeiro a posse dos novos prefeitos e vereadores. É provável que mais de 20 mil pessoas estejam assumindo pela primeira vez um cargo, transformando-se em novos políticos. Esses novos políticos estão assumindo seus cargos num momento crítico, de total desvalorização da atividade que vão exercer e com o mais baixo índice de credibilidade das instituições políticas. Muito provavelmente, a expectativa daqueles que os elegeram não é das melhores. Mas, para aqueles cujas expectativas são negativas, é preciso lembrar que nenhum desses novos políticos assumiu qualquer cargo sem que fossem ungidos pelo voto, o ato mais sagrado das práticas democráticas. Ou seja, nós somos responsáveis por todos esses novos políticos.

AERAÇÃO: aeração é o ato de aerar, de renovar o ar de um ambiente
no sentido figurado é a renovação espiritual advinda de bons ares
purificação. Explicações extraídas do Dicionário Houaiss. As eleições municipais têm essa incrível capacidade de aeração do ambiente político. Na comunidade damos os primeiros passos na prática das atividades políticas. Nos municípios surgem aqueles que terão melhor jeito para o exercício da política partidária. Dalí poderão sair deputados, senadores e também outros grandes líderes. Foram os casos de Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, os quais começaram nas lides municipais. Esse é o caminho normal. Os demais são exceções e nem sempre as exceções, no campo político, são recomendáveis. Artur Bernardes, presidente que governou todo o tempo sob "Estado de Sítio" tinha uma frase lapidar: "os militares querem começar por onde os políticos terminam".

PREJUÍZO INCALCULÁVEL: esse talvez seja o maior prejuízo causado pelos períodos ditatoriais que tivemos no Brasil: a falta do exercício do voto, a castração do processo de aeração do ambiente político. Num ambiente sem democracia, o poder emerge do arbítrio e em seu nome é exercido. O próprio eleitor, sem a prática habitual do voto, demora mais para atingir sua maturidade política. Surgem algumas personalidades diferentes, decorrentes exatamente desse sistema anômalo e, por isso, sem estarem talhadas na experiência que os longos anos de exercício político trazem. Essa falta de experiência está nos dois lados da moeda: situação e oposição. O Brasil ainda vive os reflexos da ditadura: pessoas chegam a ocupar grandes posições sem passarem por um necessário aprendizado. É só pensar um pouco e você encontrará exemplos dos dois lados. Auguramos que, dentre aqueles que assumiram os seus mandatos em primeiro de janeiro possa surgir uma seleção de novos e bons políticos."




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