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UGT Press 319: Negociar com o crime organizado


30/11/2012

PERGUNTA: Como os Estados Unidos pesquisarão recursos naturais se as escolas que ensinam geologia precisarem dedicar igual tempo a afirmações de que o mundo só tem 6 mil anos?". A pergunta foi feita por Paul Krugman em artigo publicado pelo The New York Times e reproduzido pelo Estadão (24-11). Refere-se à polêmica posição dos criacionistas, que interpretam a Bíblia ao pé da letra e querem restringir a educação científica nas escolas americanas. Por exemplo, os criacionistas não aceitam a Teoria da Evolução de Charles Robert Darwin (1809/1882). Paul Krugman faz outra pergunta: "Como o país [Estados Unidos] vai continuar competitivo no campo da biotecnologia se as aulas de biologia evitarem qualquer matéria que possa ofender os criacionistas?". Ou seja, o progresso da ciência é absolutamente fundamental para o desenvolvimento humano. Krugman se preocupa com o tema também em termos políticos. Ele vê a elite do Partido Republicano defendendo abertamente as teses criacionistas e alerta que isso pode, definitivamente, colocar os Estados Unidos a caminho de um declínio econômico, muito maior do que uma simples crise imobiliária.

SABÁTICO: o caderno especial do jornal brasileiro "O Estado de São Paulo", que é publicado, óbvio, aos sábados, abordou em seu número 140, o conflito árabe-israelense sob a ótica da literatura. Aproveitando-se da presença no Brasil de Ronny Someck (judeu nascido em Bagdá) e Khalid Al-Maaly (árabe beduíno, nascido no deserto do Iraque), ambos poetas e participantes de um seminário sobre poesia oriental, promovido pela USP (Universidade de São Paulo, Sabático entrevistou-os exatamente no momento em que recrudesciam os combates entre Israel e os palestinos da Faixa de Gaza). "Someck e Al-Maalay, em São Paulo, falaram de poemas e de suas origens. Ambos acham que a Palestina precisa de um país", ressaltou o Estadão. Pessoas inteligentes quando estão à frente do imbróglio criado naquela parte do mundo, longe da política do dia a dia, normalmente condenam a intolerância e defendem a paz entre os dois povos. Sabático proporcionou um momento de lucidez na imprensa brasileira. Valeria a pena insistir nessa linha.

CHINA: a transição política do gigante asiático se fez de forma calma e previsível. Os novos líderes assumiram um país que pode brevemente se transformar na maior potência econômica mundial. Provavelmente, nos próximos 10 anos, a China ultrapassará os Estados Unidos em termos de Produto Interno Bruto, noves fora outros índices nos quais a comparação ainda está muito longe de igualar-se. É irresistível comparar essa tranquilidade toda com o turbulento processo eleitoral americano. No horizonte chinês está a necessidade de melhorar as relações sociais, atender à crescente demanda de sua nova e promissora classe média e flexibilizar alguns dogmas, rígidos até bem pouco tempo, como o caso de um só filho por casal. O que espanta e surpreende no processo chinês é a longevidade de seu sistema político, carregado de concentração e autoritarismo, enquanto se pratica uma economia francamente liberal, se bem que com indisfarçável e forte presença do Estado. Alguns países, em latitudes diferentes, ensaiam imitar o sistema chinês. Queira ou não, o Brasil tem o seu destino atrelado às perspectivas econômicas chinesas, especialmente no campo da exportação de commodities e importação de investimentos. É preciso cuidado com os investimentos chineses, para que não se crie uma dependência em relação ao país asiático.

FARC: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) surpreenderam o governo colombiano de Juan Manoel Santos, ao assumir unilateralmente uma trégua. Por dois meses, de 20 de novembro a 20 de janeiro, a guerrilha colombiana se propôs a intensificar as negociações de paz e a não expandir ou exercitar suas costumeiras manobras de agressão. Foi a primeira trégua proposta pelas Farc em 10 anos. O governo Santos vai ignorar a proposta das Farc e informou que "não haverá concessões de caráter militar". O governo tem em sua memória os episódios das negociações fracassadas de 1998 e 2002. Hoje, as negociações acontecem em Cuba, país fiador do diálogo de paz e sede do processo. A UGT (União Geral dos Trabalhadores do Brasil), por intermédio de seu presidente, Ricardo Patah, apóia o processo de paz na Colômbia "desde que com participação das centrais de trabalhadores do país".

CRIME ORGANIZADO: causou enorme surpresa as opiniões do sociólogo mineiro Cláudio Beato. Ele simplesmente defendeu, em entrevista concedida à Folha de São Paulo (19-11), que as autoridades podem e devem negociar com as facções criminosas. A entrevista teve como suporte as dramáticas ocorrências, principalmente o aumento escandaloso do número de homicídios no Estado de São Paulo. Ele disse: "Não sou contra a negociação, eventualmente, e de forma pontual. Vou falar uma coisa que será muito criticada. Isso aconteceu em Boston. O projeto mais conhecido de controle da violência nos EUA, chamado "Cessar-Fogo", foi feito por meio de um conjunto de ações da polícia, prendendo de forma mais focalizada o que eles chamam de alavancas do crime. Houve também ofertas de empregos, melhoria de condições sociais. E a negociação foi feita pelos pastores. Eles sentaram com as gangues e policiais e negociaram o cessar-fogo". Dê sua opinião sobre este assunto - ugtpress@terra.com.br"




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