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UGT Press 314: Desindustrialização brasileira


25/10/2012

DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: em julho, o professor Edmar Bacha, um dos economistas formuladores do Plano Real, anunciou estar preocupado com a desindustrialização brasileira. Em entrevista à Folha de São Paulo (27-07-12), ele informou estar organizando, junto com a colega Mônica de Bolle, o livro Desindustrialização: que fazer?" Para o professor Bacha, a queda na atividade industrial começou a ocorrer no século passado, na década de 80, e não atingiu somente o Brasil. "O mundo inteiro, exceto a China, está se desindustrializando".

MUDANÇA DE PANORAMA: o professor Bacha defende a tese de que, a partir da metade desta década, houve uma mudança de panorama e "o Brasil foi beneficiado por uma enorme entrada de dólares, provinda da melhoria dos preços das commodities que o Brasil exporta e de uma entrada muito grande de capitais". Para ele, essa é uma boa consequência do ponto de vista do bem estar: há uma melhora generalizada. No entanto, "o estrangulamento ocorre porque os investimentos dos setores competitivos estão travados". Dois aspectos são apontados pelo professor Bacha para o estrangulamento da economia: a) falta de infraestrutura
e b) falta de mão de obra qualificada.

CRITICANDO O PROTECIONISMO: o professor Edmar Bacha é o diretor do Instituto de Estudos e Economia Política, a Casa das Garças, um reduto econômico liberal. Daí que na entrevista, ele criticou duramente a política adotada pelo atual governo brasileiro. "Estamos falando de recuperar a capacidade de concorrer e de termos uma indústria produtiva. Afora imposto, e de fato os impostos são extremamente elevados, uma das maiores travas para recriar a indústria é a política do conteúdo nacional. O governo, em vez de resolver, está ampliando. Eu sou a favor de acabar com a política de conteúdo nacional". Ele também não acredita em medidas protecionistas, crédito subsidiado e nem de medidas pontuais, tipo pacotes lançados para estimular episodicamente a indústria nacional. Enfim, Bacha defende que o Brasil se integre às cadeias produtivas internacionais.

DENSIFICAÇÃO DA ESTRUTURA PRODUTIVA: os técnicos do governo defendem o conteúdo nacional, protegendo a indústria de componentes, ou seja, fazendo a maior parte do produto no Brasil e, supostamente, defendendo a economia nacional. O professor Bacha contesta isso. Para ele, não é preciso fazer todas as partes do produto aqui. Ele cita o exemplo da Renault, que se julga incapacitada de produzir um bom carro no Brasil: "tendo que comprar tudo aqui, não dá!". Diz o professor Bacha: "o comércio internacional é crescentemente intrafirmas - multinacionais exportando para elas mesmas - intrasetorial - exporta-se seda e importa-se algodão - e intraproduto - cada componente é feito num local e a montagem e feita noutro. É assim que a Ásia está se estruturando e é assim que o México está crescendo".

NACIONALISMO: a crítica do professor Bacha recai exatamente sobre o exacerbado nacionalismo econômico. Em geral, as organizações sindicais e a esquerda têm essa postura de defesa do conteúdo nacional e de brasilização do produto. Ele acha que o efeito dessas medidas de cunho nacionalista vai na contramão do que querem os nacionalistas: "Aqui, esse suposto nacionalismo fez com o que o Brasil se tornasse o país mais colonizado do mundo. A participação de multinacionais no PIB é extraordinariamente elevada. E por que elas não exportam? Porque é caro produzir aqui. E por que é caro? Porque têm que comprar tudo aqui dentro, não podem se integrar mundialmente, não podem não podem fazer aqui o que fazem na China. A gente não deixa.."

DEBATE NECESSÁRIO: não nos julgamos aptos, neste momento, para oferecer uma análise profunda dessa grave situação. O que sabemos é que há uma preocupante desindustrialização no país, que ela se aprofunda e precisa ser o mais urgentemente possível estancada. Vindo à tona o livro dos professores Bacha e Bolle, certamente, o debate vai recrudescer. A entrevista do professor foi de página inteira e aqui estão algumas de suas arrojadas idéias. A divulgação se faz com o objetivo de intensificar o debate. A UGT (União Geral dos Trabalhadores) pretende, oportunamente, criar em conjunto com o Dieese e outras instituições, um seminário sobre o assunto, informou o presidente Ricardo Patah."




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