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UGT Press 298: A seca está de volta


03/07/2012

FENÔMENO CÍCLICO: no Brasil sempre se falou na indústria da seca", normalmente para criticar o assistencialismo e a política do "chapéu na mão", ocasião em que os políticos locais pedem com uma mão e escondem com a outra, sem destinar de fato os recursos diretamente para a solução dos problemas da população. Isso vem desde o Império. Na grande seca de 1877, Dom Pedro II afirmou: "Não restará uma única joia na coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome". O êxodo para o sudeste continuou. Quis a história que um dos filhos de retirantes fosse Presidente da República. Mas, chegando o século 21, eis que o Brasil novamente se defronta com uma nova e devastadora seca. A paisagem incandescente e estorricada da Bahia desfila caminhões pipas, mulheres carregando baldes, esqueletos de animais e uma agricultura totalmente destruída. Não, não resolvemos o problema da seca.

BOLSA FAMÍLIA: dos milhões de pessoas que recebem o Bolsa Família, quase três quartos estão no nordeste, informa o professor Gaudêncio Torquato (Universidade de São Paulo) em artigo publicado no Estadão (13-05-12). Isso talvez permita que o nordestino não corra mais para o sudeste, onde, de resto, não há também mais tantos empregos como no início da industrialização brasileira. Essa ajuda social é insuficiente porque lá, em função da escassez, os preços triplicaram. Brasileiros que julgam apressadamente criticaram a presença de desvalidos buscando ajuda e portando telefones celulares (mais de 160 milhões no Brasil). Lula melhorou uma parte daquele sertão árido com sua política de cisternas, mas, está provado, elas também foram insuficientes.

SEM SOLUÇÃO? a repetição desse fenômeno cíclico, típico do nordeste, mostra que ainda não fomos capazes de encontrar uma solução duradoura. Desde os açudes de Getúlio Vargas e JK às cisternas de Lula, passando pela irrigação dos vales do São Francisco, as soluções tentadas têm se mostrado pífias. Por falar em São Francisco, como está a transposição do rio da integração nacional? Obras atrasadas, várias vezes reajustadas e nunca terminadas. Discussões sem fim! Soluções existem: há casos importantes de caminhos acertados mundo afora. Israel (Neguev) é um deles. A água, segundo o professor Torquato, "deixou de pingar nas torneiras de 85% dos municípios da região". Valeria a pena perguntar: A quantas anda a inteligência nacional? A solidariedade, sabemos, sempre existiu.

SOLIDARIEDADE: há exemplos recentes de gestos generosos de solidariedade - São Luis do Paraitinga, Região Serrana do Rio de Janeiro, Santa Catarina -, mas há também notícias de muitos desvios, roubos e desperdícios. A televisão mostrou casos de subtração de mercadorias por pessoas fardadas, por transportadores insensíveis e inescrupulosos vendendo água doada por altos preços. Milhões de pares de calçados, roupas em profusão, alimentos perecíveis, tudo perdido! Fomos incapazes de fazer chegar a ajuda necessária a quem dela precisava. Perdemos muito da generosidade no cipoal da burocracia, da falta de organização e da incompetência generalizada que alcança cada vez mais as ilhas tidas anteriormente como de excelência. Até quando?

PRIMEIRA GRANDE SECA: esta primeira grande seca do terceiro milênio veio para mostrar que o Brasil nada fez de permanente ou duradouro. Solidariedade é importante, mas não é solução. Medidas esporádicas, paliativas, ajudam, mas não resolvem. A assistência social deve ser episódica, temporal, não deve ser um meio de subsistência definitivo. Como disse o professor Torquato: "Sob esse acervo de projetos inacabados, ausência de visão sistêmica, carência de continuidade, interesses conflituosos entre Estados, expande-se a primeira seca do século 21". Luiz Gonzaga continua atual: "Quando a lama virou pedra/ e mandacaru secou, / quando o Ribaçã de sede / bateu asa e voou, / foi aí que eu vim me embora / carregando a minha dor". (Paraíba, música composta por Luiz Gonzaga em parceria com Humberto Teixeira, em 1950)."




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