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UGT Press 276: Trabalho infantil


31/01/2012

TRABALHO INFANTIL: o Censo de 2010 apontou que, em boa parte, crianças brasileiras entre 10 a 14 anos ainda estão trabalhando. São seis por cento e isso corresponde a mais ou menos, um milhão de crianças. Não é pouco. Segundo Marcelo Medeiros, professor de sociologia da Universidade de Brasília, é como se quase todas as crianças da cidade de São Paulo estivessem trabalhando" (Folha de São Paulo, 28-12-11). Segundo o mesmo professor, salta à vista algumas graves situações. São elas: a) embora com crescimento econômico, queda na desigualdade social e diminuição da pobreza, o Brasil não foi capaz de mudar este cenário
b) apesar dos programas de transferência de renda - Bolsa Família, por exemplo -, o trabalho infantil persiste
c) a maior parte de nossas crianças trabalha na agricultura e os meninos trabalham com mais frequência do que as meninas, que ficam entregues ao trabalho doméstico em suas próprias casas
d) o trabalho infantil é mais comum nas áreas menos desenvolvidas do país, refletindo nossas desigualdades regionais
e) o trabalho infantil traz riscos à saúde das crianças, piora o desempenho escolar e, em certos casos, as afastam das escolas
f) quem trabalha quando criança, quando adulto tende a assumir profissões não especializadas
g) pais que trabalham quando crianças tendem a fazer seus filhos trabalharem, como se isso fizesse parte da "educação para o trabalho"
e h) em geral, o trabalho infantil ajuda pouco no rendimento das famílias e não se constitui em estratégia eficiente para a sobrevivência. Enfim, no caso do Brasil, trata-se de um problema cultural, onde a infância não é valorizada, apontando também falhas na estrutura dos sistemas educacionais. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) possui programas específicos para o combate ao trabalho infantil e o Brasil assumiu o compromisso de erradicá-lo. Esse trabalho começou no Governo FHC, prosseguiu no Governo Lula e continua no Governo Dilma. Já são 20 anos de combate sério ao trabalho infantil, mas, mesmo assim, o país não conseguiu erradicá-lo. As centrais de trabalhadores e os sindicatos devem olhar para essa tragédia brasileira, exigir uma fiscalização melhor por parte das autoridades e ajudar a extinguir essa chaga do panorama social brasileiro.

CUSTO DE VIDA NO BRASIL: desavisados ou desatenciosos ficaram surpresos com as reportagens da grande imprensa brasileira, no início do ano, dando conta do alto custo de vida no Brasil. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma lista de 187 países, o custo de vida brasileiro supera, em dólares, o dos Estados Unidos. Segundo Fernando Dantas, do jornal "O Estado de São Paulo", "esse fato é extremamente anormal... o Brasil é praticamente o único cujo custo de vida supera o americano em 2011, o que significa dizer que é o mais caro em dólar de todo o mundo emergente" (19-01-12). Quem mora em São Paulo não desconhece essa realidade. O problema é muito sério: o alto custo de vida no Brasil pode anular todos os ganhos recentes de mobilidade social. Logo de cara, surgem as críticas em cima de nosso sistema cambial: desde muito tempo, o Brasil vem trabalhando com um câmbio sobrevalorizado, desmontando o seu parque industrial e mantendo o superávit comercial à custa da agricultura. Como essa situação tem permitido controlar a inflação, o governo segue com a mesma política, implantada há praticamente 20 anos. Mudanças políticas e econômicas no Brasil dos últimos 20 anos são raras. Basta ver a timidez dos passos do Banco Central do Brasil em direção à redução dos juros. Os juros da Selic não afetam os juros de mercado - cartões de crédito, por exemplo, estão cobrando mais de 200% ao ano - e o governo permanece silencioso diante dessas anormalidades todas. Quem sabe, o alto custo de vida não acorda as massas e ela possa voltar às ruas para protestar!
O FIM DA HISTÓRIA: o cientista político, Francis Fukuyama, pesquisador do Centro de Democracia, Desenvolvimento e Estado de Direito da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, apareceu de novo na imprensa. Há mais de 20 anos, ele foi notícia com um artigo intrigante que previu a supremacia do liberalismo econômico sobre as economias centralizadas e sobre o poder dos Estados nacionais. Agora, ele está assustado com o tamanho do rombo: o liberalismo sem rédeas, com lucros astronômicos e ausência de competição ideológica, está fazendo um estrago social sem precedentes no mundo e ele defende novas regras para um maior controle desse capitalismo sem limites e sem fronteiras. Numa entrevista à revista "Foreign Affairs", reproduzida pela Folha de São Paulo (15-01-12), ele fez esta afirmação: "A correção [maior liberdade individual e menor tamanho do Estado] era necessária, mas a revolução foi longe demais e aprisionou os EUA numa ideologia muito rígida. Uma sociedade liberal será sempre necessária, mas vamos precisar de uma volta de maior regulação estatal e políticas sociais que preservem os ganhos da classe média e encorajem a ascensão dos pobres para a classe média". Ah, bom!
NOURIEL ROUBINI: o famoso economista, Nouriel Roubini, que previu a crise econômica de 2008, escreve regularmente no caderno Mercado, da Folha de São Paulo. Em seu primeiro artigo do ano, Roubini afirmou que a economia americana não se recuperará em 2012. Notícia ruim. Os Estados Unidos terão eleições em 2012 e certamente vai ser difícil para o presidente Barack Obama tomar medidas consistentes. Os debates eleitorais dominarão a cena. Será um ano morto, apesar das boas notícias do último trimestre de 2011. Segundo Roubini, essas boas notícias do final do ano serão insuficientes para impulsionar, dentro de níveis necessários, os setores econômicos do país. Ele elencou vários fatos e dissecou algumas vertentes, todas, a seu ver, negativas, o que coloca a economia americana em compasso de espera. Ruim para o Brasil, ruim para o mundo.

ONDE SERÁ QUE APRENDERAM? o governo chinês estimulou as empresas a darem folga e a custear passagem de taiwaneses que moram no continente, visando a presença deles nas eleições para presidente em Taiwan, ocorrida em 14 de janeiro de 2012. O objetivo foi a reeleição de Ma Ying, tido como pró-China. Calcula-se que 200 mil eleitores viajaram para a ilha. Não foi fundamental, mas ajudou no resultado: Ma se reelegeu com 52% dos votos, derrotando Tsai Ing-wen, do Partido Democrático Progressista (PRP). As autoridades chinesas do continente, incluindo o presidente Hu Jintao, foram favoráveis a Ma, em função de sua política de aproximação. Os atritos entre ilha e continente começaram em 1949, quando os nacionalistas sob o comando de Chiang Kai-shek, derrotados por Mao Tse-Tung, fugiram para lá. A China sustenta que Taiwan faz parte de seu território, enquanto Ma defende a política dos três nãos: "não à independência, não à reunificação e não ao uso da força". Quando assumiu o primeiro mandato, ele programou uma política de reaproximação e assinou novos tratados: retomou os voos diretos entre as duas regiões, facilitou investimentos e abriu a ilha aos turistas chineses. Como os chineses são pacientes (e parentes entre si), é possível especular um futuro de somente uma nação, apesar do tratado de Taiwan com os EUA, no qual, em caso de agressão, os americanos deverão defender a ilha (tratado aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos com força de lei)."




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