18/01/2012
DEMOCRACIA EM CRISE: não só os acontecimentos do mundo árabe, mas experiências em outras latitudes mostram que a democracia, desde que nasceu nas cidades-estados gregas, experimenta a sua maior crise. Fatos que ocorrem na Venezuela ou na Rússia, na Argentina ou na Hungria, Coréia do Norte ou republiquetas africanas, são mais significativos do que parecem à primeira vista. Reeleições sucessivas, direitos hereditários ou, modernamente, encurralamento da imprensa ou a corrupção que modifica em essência o funcionamento de legislativos e judiciários, a democracia não tem sido, em alguns países, um sistema seguro para o funcionamento das instituições. A autocracia está de volta em muitos lugares. Este é um assunto que deve render bons debates nos próximos anos.
FALTA DE LÍDERES: as crises americana e européia, o vazio que se sente em relação ao que está acontecendo no universo financeiro da maioria dos países, especialmente nos países desenvolvidos, exibem uma insuperável carência de líderes. Tão necessitados estamos de líderes que Steve Jobs quase foi canonizado quando morreu e, no Brasil, o ídolo construído pela mídia é um jovem jogador de futebol. Barack Obama, no exercício da presidência dos Estados Unidos, ficou devendo, mas poderá ter uma segunda chance, tal a fragilidade dos candidatos republicanos. Na Índia, um cidadão chama a atenção do mundo fazendo greve de fome contra a corrupção e o maior empresário do país, Azim Premji, presidente da Wipro, diz: Há uma completa falta de capacidade de decisão entre os líderes no governo. Se não forem tomadas medidas urgentes, o país sofrerá um colapso. É preciso se compenetrar da gravidade da situação" (Estadão, 18-11-11). A União Européia, de reunião em reunião, escancara o predomínio dos tecnocratas e mostra os rostos dos líderes que não lideram. Ângela Merkel é a nova dama de ferro e, com isso, a Alemanha, que poderia resolver boa parte da crise européia, se omite atrás do biombo ortodoxo. Para os maiores problemas, não há solução à vista. A esperança, dizem, são os emergentes, Brasil entre eles. Mas, o que farão os emergentes se Estados Unidos e União Européia não saírem do atoleiro?
TRANSIÇÃO: nessas crises econômicas recentes, a americana e, agora, a européia, o que fazem os políticos? Os políticos americanos e brasileiros só pensam nas próximas eleições, como se os problemas pudessem ser resolvidos sem qualquer orientação ou medidas corretivas. Nos Estados Unidos, eles agem como se não houvesse qualquer problema e os debates eleitorais, em torno da escolha do candidato republicano, revelam um partido apático e desconhecedor dos desafios. O Brasil ufana-se de ser uma das maiores economias do mundo, esquecendo-se dos bolsões de miséria, da baixa renda per capita, do desprezível IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), dos altos índices de violência e acidentes (nas estradas e no trabalho) e, pior de tudo, da mais deslavada corrupção do planeta. No norte, os americanos esperam eleições presidenciais e, no sul, os brasileiros aguardam as eleições municipais, como se elas pudessem oferecer soluções. Lá, esperam mudar o presidente (?). Aqui, esperam se fortalecer para as eleições presidenciais de 2014. É uma transição que, parece, não levará a nada. O binômio da bandeira nacional (Ordem e Progresso) não está sendo respeitado: é preciso um mínimo de ordem democrática e instituições que funcionem.
O PRIMEIRO ANO: e lá se foi o primeiro ano de nossa primeira presidente mulher, Dilma Rousseff. Nem há como julgar, tão relevante foi a taxa de substituição de ministros por corrupção (uma exceção). Foi um governo de continuidade. A continuidade em si não é ruim, porque é a continuação de um governo aprovado pela maioria. As demissões de diversos ministros e o motivo preponderante e repetido (corrupção) exigem uma estadista preocupada em dotar o país de leis saneadoras e moralizantes. Como está no início do governo, Dilma Rousseff terá tempo para se dedicar a isso. O Brasil está precisando de leis que possam dar estabilidade política e econômica. Acabar com o cipoal de leis e medidas provisórias que, praticamente todos os dias, meses e anos, colocam o país como campeão das modificações legislativas, jurídicas, financeiras e tributárias. De novo, o Brasil ganharia muito se colocasse um pouco de ordem em seu cotidiano de trabalho.
FRASE: "Todos os nossos antigos temores voltaram a nos assombrar: o sonho americano morreu
a classe média está desaparecendo
nossos filhos não terão uma vida tão boa como a que nós tivemos. Não importa que esses temores tenham se revelado infundados no passado. Quando acordamos apavorados no meio da noite, é quase impossível para nós imaginar que logo o dia clareará". Silvya Nasar, escritora, em setembro de 2011, no jornal americano The New York Times.
QUEM SÃO OS CULPADOS? uma resposta que vem sendo oferecida por bons articulistas americanos, inclusive veiculada nos grandes jornais (Washington Post e The New York Times), diz que quem nos colocou no buraco foi a elite mundial. Elite é uma palavra gasta, tanto tem sido utilizada para responsabilizar malfeitos. Palavra que diz muito pouco, porque praticamente abstrata, não dá nomes. A esquerda brasileira sempre teve grande prazer em usá-la. Ocorre que, segundo esses famosos articulistas, a elite mundial foi quem nos arrastou para todas essas crises, as presentes e as passadas. Em todos os países, as altas gerências, dirigentes de bancos e multinacionais, políticos e empresários, todos os que mandam, são originários da elite, com algumas concessões à meritocracia, mas nem esses que se fizeram por si próprios escapam. Todos são formados em grandes escolas, saíram de famílias abastadas, são filhos da elite militar e têm boas e notáveis árvores genealógicas. Nomes que cursaram Harvard, Princeton, Oxford e outras boas universidades. Bem, essa elite, a nata da sociedade, foi a responsável pelo imbróglio contemporâneo. Um minuto de silêncio para as vítimas, alguns bilhões de pobres do mundo.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL: o FSM deste ano acontece em Porto Alegre (RS), de 24 a 29 de janeiro. O tema abordado será "Crise capitalista, justiça social e ambiental". A UGT participará e realizará em 27-01, às 09h, um seminário sobre "A crise neoliberal e a resposta dos trabalhadores". Informações junto a UGT-RS (ugt-rs@ugt.org.br).
MOBILIZAÇÃO: as centrais sindicais realizarão manifestação pela "redução da taxa de juros". O ato está previsto para 18 de janeiro, às 10h30, na frente do Banco Central, na Avenida Paulista, em São Paulo. A UGT (União Geral dos Trabalhadores) está convocando os sindicatos localizados na Grande São Paulo."
UGT - União Geral dos Trabalhadores