08/04/2011
INEDITISMO: a tragédia do Rio de Janeiro, inusitada abaixo da linha do Equador, surpreendeu o país e o mundo. Antes, tais notícias, em geral, vinham dos Estados Unidos, um Estado armado até os dentes e onde as pessoas compram armas pelo reembolso postal. Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, de momento, matou 10 meninas e dois meninos (há possibilidades de outras mortes entre os feridos). A notícia foi manchete nos principais jornais do mundo pelo ineditismo, mas o psicólogo argentino Júlio Waiselfisz, estudioso da violência no Brasil, afirmou: não surpreende, em um contexto social onde as armas estão ao alcance de qualquer um e onde a solução dos conflitos muitas vezes termina com a morte do outro" (Clarin 8/4). Também o correspondente do diário americano The New York Times escreveu: "a violência urbana não é estranha ao Brasil, especialmente o tipo de violência nas favelas controladas pelas quadrilhas, que deram a esta cidade as taxas mais altas de homicídio do mundo. Mas pensava-se que o espectro do massacre na escola era principalmente uma ação americana".
ESTRANHEZA: já no dia seguinte à tragédia, Ruy Castro, da Folha de São Paulo, foi preciso: "Wellington estava desempregado. Não se sabe de amigos, e sua família não o via há sete meses. Não tinha fonte de renda. Com que dinheiro comprou - se comprou - os revólveres, a munição e os carregadores? Onde aprendeu a usá-los? Pelo índice de acerto de seus tiros, deduz-se que sabia atirar. Onde treinou? Quem o ensinou?" Perguntas que, provavelmente, ficarão sem respostas. A imprensa brasileira está acostumada a produzir heróis e vilões, mas é estranho que num momento como esse, pouca gente se lembre de diagnosticar com precisão o que se passa nas escolas brasileiras, onde ninguém mais é formado e, talvez, sequer bem informado. Escolas cercadas com arame farpado, com pipoqueiros vendendo drogas, cheia de professores mal formados e mal remunerados e com muitas outras mazelas. Painel que mostra a triste realidade brasileira, mas que, infelizmente, não encontra ações consequentes do Estado para modificá-la.
UGT LAMENTA E COBRA: imediatamente após a tragédia, o presidente da União Geral dos Trabalhadores, o comerciário Ricardo Patah, reuniu a sua assessoria e distribuiu veemente comunicado: "A UGT lamenta profundamente a tragédia ocorrida em uma escola do Realengo, no Rio de Janeiro, onde, pelo menos 12 pessoas foram mortas e 22 feridas por um atirador. E cobra das autoridades medidas efetivas em segurança pública para que episódios como esses não se repitam. É inaceitável que as nossas crianças, que já são vítimas de um ensino de baixa qualidade, não tenham segurança nas escolas". A nota também foi assinada pelo presidente da UGT-Rio de Janeiro, Nilson Duarte.
PAÍS DE PRIORIDADES DUVIDOSAS: UGTpress vem insistindo no tema "prioridades duvidosas", em cuja discussão mostra o erro das autoridades governamentais do Brasil: elas insistem em obras megalomaníacas e extremamente caras (pela ineficiência e pela corrupção), em detrimento da educação e da saúde do povo brasileiro. Hospitais em péssimas condições e escolas sem pessoal e sem material, em tempo parcial, não oferecem um suporte de novas oportunidades à juventude. O Brasil, cuja soma de recursos já permite a adoção do regime de escola em tempo integral, assiste passivamente essa inversão de prioridades. Vamos repetir à exaustão esse tema de inversão das prioridades, cobrando dos governos a aplicação dos recursos públicos naquilo que realmente constitui as maiores necessidades da população brasileira."
UGT - União Geral dos Trabalhadores