22/03/2011
VISITA DE BARACK OBAMA: retórica à parte, antes de mais nada, a visita de Barack Obama ao Brasil é cheia de significados importantes. Não poderia ser diferente, sempre há os descontentes de ocasião, os ideológicos de plantão e a turma do contra, mas, no caso e desta vez, minoria de gatos pingados. A política no Brasil, depois da exorcização ideológica do PT (Partido dos Trabalhadores), ficou mais adulta e consequente. É difícil ser contra um presidente negro, eleito em país reconhecidamente racista. Sair atirando contra os Estados Unidos é uma coisa, mas contra a pessoa de Obama é outra e muito diferente. Neste clima, ele aterrissou em Brasília e foi festejado do primeiro ao último minuto em território brasileiro. Deverá levar boa impressão.
DIFERENÇA FUNDAMENTAL: politicamente, quem ganhou com a visita foi Dilma Rousseff. Antes dela, na nova democracia brasileira, três de seis presidentes (Tancredo Neves, Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva), mesmo antes de assumirem, estiveram nos Estados Unidos mostrando simpatia ou submissão. Em uma das ocasiões, Lula chegou a cometer a repetição de famosa e infeliz frase: O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". Desta vez, ninguém ousou repeti-la. Dilma Rousseff, nos primeiros três meses de governo, recebe a visita do emblemático presidente americano. Essa diferença é fundamental para entender a importância do gesto americano.
PRIMEIRO OBJETIVO: na visão dos dois governos, o primeiro objetivo da visita é de limpeza e desobstrução das relações. Nos últimos anos, em função de posições diferentes praticadas principalmente no governo passado, a diplomacia dos dois países não esteve em sintonia. Não interessam o tipo e o grau dos atritos nas relações entre países, sempre é tempo para renovar agendas e decidir sobre outras pautas. Isso é que está sendo reiniciado: nova agenda de prioridades. Independentemente do comércio bilateral, um assunto permanentemente difícil e desgastante, no caso, as posições de um e de outro no tabuleiro político internacional serão mais cuidadosas e, se possível, afinadas ou coincidentes. Se não, no mínimo, respeitosas.
COMÉRCIO BILATERAL: desobstruída a pauta política, havendo maior respeito entre as partes, as trocas comerciais podem ser discutidas mais racionalmente. Nesse quesito, os Estados Unidos sempre agiram imperialmente, com retaliações e descumprimento de normas da OMC (Organização Mundial do Comércio). O Brasil está até no direito de impor sanções aos Estados Unidos, mas reluta em fazê-lo. Provavelmente, a partir desta visita, haverá maior diálogo entre os dois países, principalmente porque, agora, o Brasil tem um novo produto e do interesse vital dos americanos: petróleo.
PAUTA DE GRANDES: à parte dos interesses comerciais de ambos, surgem questões que podem unir Estados Unidos e Brasil. A paz, a governança global, a regulação dos mercados financeiros, as mudanças climáticas, a segurança alimentar, o combate à pobreza, a defesa da democracia e o respeito aos direitos humanos são alguns dos itens que podem estar incluídos nas conversações futuras.
PROBLEMAS COMUNS: economicamente, os problemas são comuns e ambos os países dependem de crescimento para estancar as suas dificuldades. Diminuição dos gastos governamentais, investimentos em educação e infraestrutura, inovação tecnológica e criação de postos de trabalho estão entre as preocupações internas de Dilma e de Obama. O endividamento dos Estados Unidos é maior do que o brasileiro.
PRIMEIROS: Barack Obama é o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e Dilma Rousseff é a primeira mulher presidente do Brasil. Sobre ambos estão os holofotes, com outra diferença fundamental: Obama substituiu um presidente desgastado e desmoralizado, enquanto Dilma sucedeu ao mais popular presidente da história do Brasil. No caso, a posição da brasileira é mais difícil e ela tem que se superar no dia-a-dia para impor o seu estilo. Aproximar-se dos Estados Unidos e romper com a política externa anterior, faz parte desse processo."
UGT - União Geral dos Trabalhadores