16/11/2010
DÍVIDAS DE LULA E FHC: os dois presidentes brasileiros abarcaram os seis últimos anos do século 20 e os primeiros dez anos do século 21. Época de transformações e novidades, que abrangeram todas as áreas do conhecimento humano. Época de crises e oportunidades. O Brasil progrediu muito. Errou e acertou, mas se olharmos esses 16 anos sem paixão, vamos verificar que ambos os presidentes ficaram devendo muito no plano institucional. O Brasil precisava, especialmente, de uma legislação política estável e duradoura, capaz de proporcionar uma vida partidária e parlamentar digna e limpa.
PARLAMENTO COOPTADO: a cooptação de siglas e parlamentares foi a tônica dos dois governos. Em vários momentos, vazaram informações que revelaram práticas deletérias, demonstrando os métodos heterodoxos para construir maiorias ocasionais. Desde a emenda para a reeleição de FHC ao mensalão de Lula, sobraram constatações sobre o comportamento de administradores e parlamentares. A população consolidou a percepção de que há indícios sérios de corrupção nos três poderes da República.
JUDICIÁRIO MOROSO: normalmente, no Brasil não se fala abertamente do Poder Judiciário. Há medo de retaliações. Mesmo a imprensa brasileira, habitualmente irreverente, mostra-se entre respeitosa e reticente quando aborda assuntos relacionados com o Poder Judiciário e seus membros mais notáveis. Já inconsistente pela forma pouco democrática de nomeação dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o Poder se viu contestado pelos inúmeros adiamentos e omissões em julgamentos referentes às recentes eleições. Com relação ao ficha limpa", provocou um absurdo terceiro turno. Até hoje, não há certeza quanto à composição do Parlamento.
MARCAS INAPAGÁVEIS: no futuro, certamente, os historiadores vão analisar esse período de 16 ou mais anos (nada recomenda uma mudança de atitude da nova presidente, Dilma Rousseff) como um tempo de profundos e arraigados erros. Um tempo em que se negligenciou a saúde e a educação. Um tempo de favelas, palafitas e mocambos. Um tempo de crescimento da marginalidade e da violência. Um tempo de desvios de recursos públicos e de corrupção. Enfim, um tempo de amplos e injustificáveis desperdícios. Quando seremos capazes de implantar uma democracia transparente e responsável?
AVANÇOS: certamente, houve avanços. Tanto num governo quanto no outro. Um deles: buscar incorporar vastos estratos da população marginalizada, incluindo-a na sociedade de consumo. Outro: introduzir atitudes de progresso físico e material na área da infraestrutura nacional, mesmo que isso esteja nos custando os olhos da cara. Mais ainda: incluir o Brasil no cenário internacional, tornando-o, aos olhos do mundo, um país viável, onde o futuro chegou. Há outros progressos, visíveis e invisíveis, mas muito deixou de ser feito naquilo que representa a construção dos alicerces básicos de uma Nação moralmente responsável e eticamente superior.
JULGAMENTO: contudo, é cedo para qualquer julgamento. A história se encarregará disso. FHC teve o dissabor de assistir a comparação de seu governo com o de Lula. Isso foi pouco e precário, embora tenha dado algumas pistas. Com Dilma, a comparação não esperará muito e será cruel. Provavelmente, açodada e falha. Julgamentos apressados têm a marca da imperfeição. Esperemos, pois. Mas, no que concerne à vida institucional do país, não há mais o que esperar."
UGT - União Geral dos Trabalhadores