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UGT Press 203: Lula o grande marqueteiro


06/10/2010

MARQUETEIROS: parece que essa campanha eleitoral, devido ao seu formato (a cada pleito estamos assistindo a campanhas diferentes), teve uma pequena diminuição do poder dos marqueteiros e agências de publicidade. Eles estiveram presentes, mas foram iguais nas técnicas de mostrar determinando candidato: o político é um produto. A especialização e a nivelação qualitativa tornaram as campanhas prêt-à-porter", parecidas em suas formas. Foram os próprios candidatos que deram o toque principal, com suas aparências, estilos e falas inconfundíveis. Hoje, os brasileiros sabem como Dilma, Serra e Marina se comunicam. Talvez tenha sido melhor, embora o Brasil ainda esteja anos luz de um modelo ideal de campanha política. Nestas eleições, o maior marqueteiro foi o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

VISIBILIDADE PRESIDENCIAL: depois de quase oito anos na Presidência da República, ocupando diariamente os principais jornais noticiosos do Brasil, seria normal esperar que Luiz Inácio Lula da Silva se tornasse um homem ainda mais conhecido no Brasil. Afinal, ele é o Presidente da República. Não bastasse tal exposição, ela vem acompanhada de uma obra administrativa aprovada pela maioria dos cidadãos. Com base nisso, ele sempre se expôs mais do que o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Este, mais chegado a um "doutor honoris causa" do que a uma caminhada pela caatinga. Lula, ao contrário, abandonava os discursos escritos, improvisava e cometia gafes. Não foram poucas as gafes, dentro e fora do país. Ocorre que o balanço dessa exposição, mesmo arriscada, é excepcionalmente vantajoso ao atual presidente e isso lhe deu total autoconfiança para ousar.

PAPEL PRESIDENCIAL: discute-se muito o papel exercido pelo presidente Lula nestas eleições. Se ele deveria permanecer no Palácio do Planalto como uma espécie de magistrado, assistindo o desenrolar dos fatos ou se, como fez, mergulhar de cabeça na disputa e procurar por todos os meios ao seu alcance influenciar o resultado das eleições. Há precedentes. FHC participou, sem se envolver demasiadamente, da campanha de 2002 e JK tentou eleger o Marechal Lott seu sucessor. A diferença é que, no momento, temos um presidente com avassaladores índices de popularidade, que o encorajaram a se expor além da medida. Ele foi fundo.

EXPOSIÇÃO DE LULA: essa exposição pode ser considerada exagerada na medida em que o presidente apoiou todos os candidatos de sua coligação, correndo o risco de fazê-lo em relação a pessoas com currículo duvidoso. Pessoas que podem estar envolvidas em denúncias de corrupção, em atos privados suspeitos e em negócios ilícitos. Isso, de certa forma, vulgarizou o apoio e reduziu o poder de persuasão do presidente, certamente rendendo alguns pontinhos à oposição. Lula poderia ter se restringido ao seu partido, no máximo à luta presidencial e, em alguns estados, com determinados candidatos a governador. Poderia ter se cuidado mais e não se envolvido, por exemplo, com a disputa pelo Senado. Essa excessiva exposição maculou a chamada liturgia do cargo e diminuiu, aos olhos da Nação, a figura majestática da Presidência. Contudo, como fez maioria no Senado e na Câmara, por enquanto, o saldo lhe é favorável.

ABERTURA DAS URNAS: somente em 31 de outubro, com a abertura das urnas do segundo turno, esse quadro será mais visível. Se a oposição vencer, certamente, o desempenho do presidente será discutido em cima de um palco extremamente ácido e crítico. Se, ao contrário, a eleita for a sua candidata, todas essas especulações estarão obsoletas e estaremos diante do maior fenômeno eleitoral de todos os tempos na história política brasileira. Os exageros serão esquecidos.

RISCOS: os riscos de uma exposição dessa natureza são grandes. Um deles é que o presidente se torna permanentemente fiador do desempenho de seus candidatos. De norte a sul do país, ele será refém da conduta daqueles que ajudou a eleger. A seu favor, está um país relapso em relação à sua história e um povo que não se lembra sequer em quem votou na última eleição."




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