12/07/2010
FUTEBOL: passado o vendaval da Copa do Mundo, o episódio oferece bons motivos para reflexão. Primeiramente, anotar que é o esporte da preferência dos brasileiros, capaz de unir a Nação e suscitar as mais desveladas paixões e sentimentos. A perda num esporte tão sujeito aos imprevistos, seja qual for o motivo, provoca os mais veementes protestos e as mais acintosas demonstrações de indignação. Há vida em outros esportes, mas isso pouco interessa aos brasileiros. Um país não se constrói à base de eventos esportivos, mas, numa época em que a mídia é a mais espantosa das influências, governos e políticos cavalgam sobre esse tipo de promoção. No Brasil, não é diferente.
LIÇÔES: toda Copa do Mundo enseja ao país a oportunidade de avaliar o seu planejamento e a sua preparação. Contudo, não há memória técnica ou científica desses acontecimentos. Sobram os comentários rancorosos, as análises imediatistas e eventuais punições dos culpados", escolhidos segundo a concepção ou conveniência de cada um. Nesse caso, como se trata de futebol, sobrou para o técnico Dunga e alguns jogadores. Em geral, são esquecidos os verdadeiros responsáveis, aqueles que comandam o processo: Confederação Brasileira de Futebol e seus dirigentes. Nem esses, cuja responsabilidade alcança a repetição do evento a cada quatro anos, são capazes de fazer o levantamento das causas e consequências do fracasso.
IMPRENSA: infelizmente, a parte mais lamentável das constatações atinge a nada imparcial imprensa brasileira. Movida pelos grandes patrocínios, tendo boa parte de seu pessoal vinculado aos eventos esportivos e o maior número deles trabalhando com futebol, os jornalistas se comportam como crianças à beira da mesa de doces. Se comem, estão satisfeitos. Não há critérios, não há coerência e, às vezes, há má fé. São capazes de mudar radicalmente de opinião em 45 minutos, se tanto. Como os assuntos são polêmicos, todos são redimidos pelas interpretações dúbias dos acontecimentos. As influências dessas ambiguidades são duradouras e perniciosas.
DUNGA: o técnico foi coerente fora das quatro linhas. Não permitiu a farra de Weggis, condenada unanimemente por todos na Copa anterior. Não privilegiou jornalistas ou redes. Manteve-se firme quanto aos seus propósitos e critérios. Faltou-lhe a sorte que teve na Copa América e na Copa das Confederações, nas quais saltaram à vista os problemas de sempre, agora repetidos. O destino pregou-lhe uma peça: no dia em que fez o mais primoroso primeiro tempo de todos os seus jogos à frente da seleção, perdeu. Dunga não deve ser condenado pela perda da Copa do Mundo (o fracasso é sempre coletivo). Deve ser enaltecido por manter-se coerente frente a um mundo avassaladoramente infuente. Não é o peixe maior do imbróglio, mas o seu excesso de autoritarismo deve ser repelido.
DERROTA: as derrotas no esporte são mais previsíveis do que as vitórias. Há necessidade, além de competência e técnica, de preparação psicológica e emocional. Parece que isso faltou ao Brasil e, jogadores tidos como os melhores do mundo, erraram bisonhamente, casos de Júlio César e outros. Agrega-se que, preparo físico, atitude profissional e experiência são necessários. Tanto Brasil como Argentina utilizaram-se de técnicos com experiência limitada e de jogadores "certinhos", que acham que cada gol é um presente de Deus e não fruto do trabalho individual. A religião é importante, nada contra, mas não deve ser tida como critério convocatório. O Brasil perdeu para si mesmo.
TRABALHADORES: sob a perspectiva da União Geral dos Trabalhadores (UGT/Brasil), jogadores, técnicos e árbitros são trabalhadores. Assalariados, a grande maioria ganhando pouco, necessitam de sindicatos fortes para representá-los. Jogadores internacionais e estrelas são exceções à regra.
CORRUPÇÃO: num país marcado pela corrupção, onde de cada três orçamentos um se perde, não seria o futebol um oásis de decência. Basta ver que os gastos para a futura Copa do Mundo de 2014 estão algumas vezes mais altos do que na Alemanha ou na África do Sul, onde tudo estava por construir. A polêmica envolvendo o Morumbi, um patrimônio particular, é emblemática. Aconteceu nos jogos Panamericanos e acontecerá na Olimpíada. É o Brasil!"
UGT - União Geral dos Trabalhadores