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UGT Press 168 - O Outro lado de Honduras


08/04/2010

O OUTRO LADO DE HONDURAS: embora existam críticas ao governo do presidente Lula sobre a postura diplomática do Brasil em Honduras, a verdade é que do ponto de vista dos trabalhadores e das organizações sociais hondurenhas, o país agiu corretamente. O vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores, Laerte Teixeira da Costa, visitou as duas cidades mais importantes de Honduras (Tegucigalpa e San Pedro Sula), reuniu-se com as três centrais de trabalhadores (CUTH, CGT e CTH) e fez um informe da situação. Eis algumas de suas observações:

a) Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP): integrada pelas principais organizações sociais e sindicais de Honduras, a FNRP mantém acesa a chama da resistência. Não aceita o novo governo de Pepe Lobo (Porfírio Lobo Sosa), a quem considera golpista e representante das elites (poucas famílias que dominam o país desde a independência). A FNRP reúne-se todas as terças-feiras, procura traçar as ações imediatas e prepara outras grandes manifestações populares, como grande marcha prevista para a segunda quinzena de abril. Chega a ser comovente ver a militância da FNRP em campanha para conseguir papel para imprimir as convocatórias para a marcha ou para panfletos políticos. A frente é um grande ônibus" onde entra de tudo, uma salada ideológica. Ela tem pretensões de se transformar numa frente ampla, capaz de influir nas próximas eleições. Há alguns que até sonham com um novo partido e a conquista do poder. Por enquanto, o maior objetivo da FNRP é a instalação de uma Assembléia Nacional Constituinte

b) Economia Informal: Honduras sempre foi um país pobre, dominado por grandes interesses econômicos. Não precisa ser grande analista para notar a influência norte-americana. Em San Pedro Sula, na principal avenida, não dá pra contar o número de Mac Donalds e Pizza Hut. Não é à toa que Obama se apressou em reconhecer o novo governo. O golpe piorou a situação do país. Houve redução dos postos de trabalho e grande parte da População Economicamente Ativa (PEA) foi empurrada para a economia informal. As estatísticas oficiais (não confiáveis) atestam que 52% da PEA estão na economia informal, mas há observadores que acreditam que essa cifra já chegou a 80%. É realmente impressionante ver a quantidade de vendedores nas ruas de Tegucigalpa

c) Direitos Humanos: há denúncias de agressão aos direitos humanos. Líderes sociais foram mortos em manifestações contra o Golpe de Estado. Grupos paramilitares foram chamados para reprimir e hoje constituem um problema para a segurança interna. Os seqüestros e roubos aumentaram muito. Continuam as ameaças contra líderes sindicais e sociais, segundo versão deles mesmos. A violência grassa no país e está estampada diariamente nas páginas dos jornais

d) O Presidente e as Instituições: há a percepção de que o presidente é um serviçal das elites. Ele anunciou a autorização para a volta de Zelaya ao país e foi imediatamente desmentido pela Corte Suprema e pelo Congresso Nacional. Pedro Brizuela, notório e histórico marxista, afirmou que sua filha foi morta pelos paramilitares e que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) tomou medidas cautelares para protegê-lo. O presidente Pepe Lobo afirma que a vida hondurenha retornou ao normal e que a economia deverá reagir. Um líder sindical diz que o país só recobrará a situação anterior (para ele já é muito ruim) daqui a dez anos. O embaixador americano é acusado pelas esquerdas de tramar contra o país. As Igrejas (Católica e Protestante) estão do lado do poder, com exceção de alguns de seus membros. Pedro Brizuela não confia na imprensa e diz: "quem lê os jornais se emburrece em uma semana". Os partidos e as Forças Armadas impedem mudanças. Há muito discurso anti-imperialista. Enfim, por enquanto, uma grande e total confusão

e) Previsões difíceis: é difícil prever o futuro imediato de Honduras e se as esquerdas vão conseguir impor uma mínima agenda política. A economia vai mal, há déficits orçamentários, infraestrutura deteriorada, denúncias de desaparecimento de fundos públicos, o Tribunal de Contas é apelidado de "tribunal de contos". No meio de tudo isso, uma sociedade civil lutadora, talvez a última trincheira de resistência contra os desmandos de um poder claramente antipopular.

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