05/12/2017
CENTRÃO: no Brasil, onde as coisas nunca parecem ser o que são, desde o desenho político do "centrão", tendo entre os seus ideólogos o deputado Roberto Cardoso Alves ("é dando que se recebe") e outros, o chamado "centrão" sempre teve caráter suprapartidário e reuniu grupos de várias tendências, inicialmente para apoiar demandas do Poder Executivo. Atuou também na Constituinte, porém com menos intensidade. Este grupo evoluiu, foi instrumentalizado por vários governos, tanto de esquerda quanto de direita, terminando por dominar o Congresso Nacional, onde tem maioria sólida. Isso continua inalterado entre nós.
PÓS-VERDADE: desde 2016, o termo vem sendo utilizado com bastante regularidade e refere-se, sobretudo em política, a situações que ganham ares de veracidade, mas que, na realidade, são deformações, informações falsas bem trabalhadas, que se tornam críveis. O jornalista inglês Matthew DAncona, o primeiro a tratar do tema com profundidade, diz que essas "abordagens enganadoras, são eficazes" (Folha de São Paulo, 15-10-2017). As pessoas, argumenta DAncona, têm a "ressonância emocional como fator decisivo, em vez de fatos, da verdade. Isso criou um interesse geral pelo que ficou conhecido como pós-verdade" (idem, idem). Para o inglês, a culpa é da tecnologia: "O poder do Facebook, Google, Amazon e assim por diante é sem precedentes na história da troca de informações. Nossas leis e nossa cultura simplesmente não estão atualizadas para ele. Temos que descobrir como administrá-lo" (idem, idem).
DUAS COISAS: então duas coisas se juntam: de um lado, nas redes sociais, grupos se organizaram para defender suas ideias e propagar suas teses políticas, mesmo que não sejam verdadeiras; e de outro, no caso do Brasil, a classe política dominou os poderes do Estado e constroem suas próprias plataformas, mesmo as indecorosas e sustentadoras da corrupção e da impunidade. Nesse jogo de braço, a direita foi privilegiada, pois dispõe de maiores redes de apoio. A liberdade de expressão, defendida por todos, é o pano de fundo a proteger esses procedimentos, contra os quais não temos antídoto. Aqui entre nós, ainda não há uma solução ou caminho a seguir e, por enquanto, tendo os poderes da República sob o domínio de "organizações criminosas", estamos sem futuro.
CONSEQUÊNCIA: A consequência é o desaparecimento do centro político, o caminho do meio entre esquerda e direita. Há uma confusão e as pessoas acreditam no que lhes convêm, independentemente da verdade ou da justiça. A verdade, pressupõe-se, deveria ser defendida pelos tribunais, pelos parlamentos e pela imprensa. Não se precisa mais de governos totalitários ou ditaduras para atingir certos objetivos e eles podem perfeitamente ser alcançados em plenas democracias liberais. É incrível que os meios para isso sejam tecnológicos e que, nesse mar de informações, sejamos nós as primeiras vítimas. Já há quem estude esses fenômenos modernos, frutos mais do progresso do que do obscurantismo, mas não há, contudo, qualquer solução à vista ou a curto prazo. Deveremos esperar algumas décadas para qualquer novo caminho que solucione esses "impasses do progresso".
EXEMPLOS: como exemplos muito citados dessa "nova ordem" estão o "Brexit" (saída do Reino Unido da União Europeia), a vitória do "NÃO" na Colômbia (o "não" derrotou o "sim" no plebiscito sobre o processo de paz com as FARCs) e a vitória de Donald Trump nas eleições americanas. São todos, como dizem modernamente, "pontos fora da curva". Dois desses fatos ocorreram em países desenvolvidos, com democracias antigas e sólidas. Nem podemos colocar o Brasil dentro desses fenômenos porque aqui a corrupção e a impunidade são velhas e endêmicas, mas as quedas de governo, a existência de parlamentos ilegítimos ou de tribunais ineficientes sim, pois propiciam a continuidade daquilo que temos de pior.
UGT - União Geral dos Trabalhadores