26/09/2017
DEVER DE TODOS: a preservação ambiental é um dever de todos e, especialmente, deveria ser rigorosa missão do Estado. O tema cresceu em importância a partir da década de 1960 do século passado. No mais de meio século que se passou daquela a esta parte (estamos na segunda década do século XXI), infelizmente, o Brasil não fez a sua obrigação e assistimos, passiva e irresponsavelmente, a degradação das praias, reservas naturais, a devastação de florestas e a poluição de nossas águas de superfície e, recentemente, temos a ameaça aos ricos aquíferos subterrâneos. Tudo o que mereceria ou deveria ser preservado foi de alguma forma negligenciado.
EXPANSÃO DA AGRICULTURA: quando não existia essa preocupação com a preservação, a expansão da agricultura era saudada como um imperativo de desenvolvimento. Muitas lideranças brasileiras ainda pensam assim e é visível a proteção daqueles que são responsáveis pela extinção de florestas e a implantação de pastagens ou de lavouras temporárias. Os latifundiários sempre mandaram no país. A partir da marcha para o oeste, com a ocupação dos estados do Norte e do Centro-Oeste, casos específicos, entre outros, de Tocantins, Pará e Rondônia, o problema tornou-se praticamente incontrolável. Modernamente, a expansão da agricultura se faz com o aumento de produtividade, evitando-se a devastação de áreas virgens.
ESTUDOS MOSTRAM O DESASTRE: os estudos existentes pelo avanço das ciências e a possibilidade de criação de cenários ecológicos, de forma dramática, indicam que a devastação da Amazônia é fatal à manutenção das condições ambientais do Sul e do Sudeste brasileiros. Um fenômeno denominado “rios voadores”, que consiste na umidade gerada pela Floresta Amazônica, disseminada para várias partes do país e da América do Sul, é hoje reconhecido como responsável pelas condições climáticas da maior parte do Brasil e do Continente Sul-Americano. As chuvas provocadas por esse fenômeno garantem a sobrevivência da própria floresta e de boa parte de nossos recursos hídricos. Os técnicos afirmam que a evotranspiração na floresta ocorre num ritmo duas ou três vezes maior do que em áreas de passagens. Estando tecnicamente provada a importância da floresta, considera-se obtusa a devastação, cujas consequências vão recair sobre as futuras gerações de brasileiros.
DEVASTAÇÃO FLORESTAL E FALTA D’ÁGUA: parece que todos sabem, mas devemos repetir, a Floresta Amazônica já perdeu um quinto de suas árvores. Estudos recentes ligam a falta de água na cidade de São Paulo com a devastação florestal. Foi a insuspeitável Rede Globo que afirmou: “A Amazônia bombeia para a atmosfera a umidade que vai se transformar em chuva nas regiões Centro-Oeste, sudeste e Sul do Brasil. Quanto maior o desmatamento, menos umidade e, portanto, menos chuva. E sem chuva, os reservatórios ficam vazios e as torneiras, secas” (Fantástico, 31/08/2014). Essa devastação se faz apesar da existência de órgãos como a Política Federal, Ibama e Funai. “Isso aqui é roubo de terras da União. Grileiros ocupam a terra da União, praticam o desmate multiponto, vários pontos embaixo da floresta, dificultando o satélite de enxergá-lo”, explica Luciano de Menezes Evaristo, funcionário do Ibama (idem, idem). Há também que responsabilizar outros órgãos, entre eles, os municípios, governos de Estado e Forças Armadas, todos com um olhar muito tolerante em relação à expansão das pastagens ou ocupação da Amazônia.
TEORIA DA CONSPIRAÇÃO: durante décadas, em todo o século passado, foi afirmado que a Amazônia corria perigo e que poderiam tirá-la de nós. Especialmente, os intelectuais de esquerda propalaram essa ameaça e ela permanece ainda no imaginário de muitos brasileiros. Também governos e instituições se preocupavam com essa ameaça e muitas iniciativas tiveram como objetivo incrementar o desenvolvimento dessas regiões mais afastadas do território nacional. As duas maiores obras, entre tantas, foram a construção de Brasília e a implantação da Rodovia Transamazônica. Brasília aprofundou a Marcha para o Oeste e tem sido saudada como algo necessário e fundamental ao desenvolvimento brasileiro. Sobre a Transamazônica, sonho dos militares brasileiros, há controvérsias. O mundo desenvolvido ou hegemônico, quando os estudos científicos demonstraram que a devastação, a rigor, só prejudicaria o Brasil e a América do Sul, parece, perdeu o interesse e os discursos de preservação da Amazônia saíram das salas diplomáticas e situaram-se na nova onda ecológica que atingiu o mundo nos últimos mais de 60 anos.
VALE MAIS EM PÉ: agora, neste novo milênio, com o retorno do homem às questões naturais e valorização dos fitoterápicos, frutas e plantas, a importância da Amazônia cresceu em outra direção: por seus recursos naturais e diversidade, a Floresta Amazônia tem mais valor em pé do que derrubada. Não enxergar esse novo patamar de essencialidade da floresta e seu potencial, é miopia política. Essa miopia atinge ainda boa parte dos brasileiros, especialmente sua despreparada classe política.
É AGRO! A propaganda global com cara de institucional, mas certamente patrocinada, é uma verdadeira lavagem cerebral. Sim, o setor agropecuário é importante e rende divisas, sendo essencial ao país. Mas, historicamente, o setor rural sempre pagou mal seus empréstimos (quando pagou), os cafeicultores do Vale do Paraíba ajudaram a derrubar o Império e a deportar D. Pedro II e os militares do início da República foram implacáveis, não dando qualquer chance ao povo de opinar. O uso do antigo IBC (Instituto Brasileiro do Café) e as facilidades creditícias do setor sempre fizeram da agropecuária um setor privilegiado e que paga poucos impostos, sobretudo quando comparado com a classe média brasileira. Incentivar a produtividade da agricultura é sim importante, mas nada comparável com os prejuízos que a devastação florestal vem causando ao país e que será, no futuro, suportado pelas novas gerações. É preciso redirecionar essa forma de desenvolvimento predatório.
UGT - União Geral dos Trabalhadores