24/08/2017
POPULARIDADE: nunca um presidente da República teve tão baixa popularidade e nunca a população esteve tão passiva e conformada. Os arranjos para a continuidade deste presidente foram todos tomados sob os holofotes e nós ficamos sabendo dos detalhes dessa negociação. É do conhecimento público como foram conquistados os votos a seu favor. São conquistas ou adesões feitas através da concessão de cargos e da liberação de verbas ou, certamente, de ambas. Essa é a parte visível do negócio. Nesses momentos, normalmente, há um inflacionamento dos valores, mas nada que devemos nos preocupar, pois os recursos saem dos arruinados bolsos da viúva, aumentando-se o bilionário déficit orçamentário. Tudo indica que em 2017 teremos o maior rombo orçamentário da história, bancado por dois banqueiros, presidente do Banco Central e do Ministério da Fazenda, algo que comprometerá a frágil recuperação econômica, cujo respiro se deu através de recursos dos trabalhadores.
PASSIVIDADE: a passividade brasileira diante dos desmandos e dos prejuízos que sofrem à luz do dia (ou sob holofotes insistentemente ligados), não é compreendida. Em certos momentos, o país possuiu maior grau de indignação, mas, via de regra, o “povo cordial” de Sérgio Buarque de Hollanda (dizem que ele se arrependeu muito desta expressão) nunca foi de se revoltar. Falava-se que o povo amava D. Pedro II, mas nada fez quando, enxotado pelos militares, foi para a Europa levando o simbólico travesseiro com terra tupiniquim. Esta e outras situações ao longo desses quase 130 anos mostraram o caráter dócil, passivo e conformado da população brasileira. Claro que a explicação não pode ser tão simplista. Outros fatores devem ter concorrido para a cristalização desse comportamento, entre eles o papel do poder econômico, dos meios de comunicação e da elite dominante, sócia do Estado desde priscas eras, além da questão cultural e do analfabetismo, vigentes na maior parte desse tempo. Ainda hoje, todos esses fatores seguem influenciando nossa índole e nosso caráter coletivos.
SILÊNCIO E MUTISMO: quando das primeiras levas de acusações e suspeitas, especialmente envolvendo a Petrobrás, e com o agravamento da crise econômica brasileira, surgiram manifestações, majoritariamente das classes média e alta, apoiando o impeachment da presidente Dilma e as condenações do juiz Sérgio Moro. Embora tolerável diante das circunstâncias, surpreende agora o silêncio e o mutismo desses mesmos grupos diante de fatos igualmente ou mais escabrosos. As denúncias de Joesley Batista, todas documentadas, e o carregamento de malas de dinheiro aos olhos da Polícia Federal, com cenas filmadas e transmitidas em horário nobre, envolvendo nada menos do que um deputado federal amigo do Presidente e um parente do senador Aécio Neves, foram insuficientes para indignar esses mesmos e notórios grupos. Eles não bateram panelas e nem saíram às ruas. Parecem envergonhados com o que fizeram e sem forças para continuar protestando. Ou você acha que a denúncia contra Michel Temer seria arquivada se houvesse clamor popular? Somos tão responsáveis pelo arquivamento da denúncia como o são os deputados.
CUSTARÁ MUITO CARO: há mais sobre esse triste episódio da já manchada história nacional. Os meios de comunicação, já antecipando os resultados, altamente previsíveis, construíram um cenário de circo e o que vimos foi um desfile de obviedades, com discursos insustentáveis de todos os lados. Puro surrealismo. Episódio para envergonhar qualquer brasileiro decente. Os custos dessa operação de salvamento não são só aqueles do deformado orçamento nacional. Há um custo maior: a decepção e a humilhação da maioria dos brasileiros minimamente escolarizados, talvez na maior parte exatamente aqueles que saíram antes às ruas ou que torceram e se portaram de forma cidadã nas últimas eleições presidenciais. Estes estão sem saída política, desconsolados. Na falta da saída política, procuram sair do país.
DESCRENÇA E FRUSTRAÇÃO: depois da desilusão, que se acumula por tantas trapalhadas, esses cidadãos mais afortunados procuram uma saída. E a saída que encontraram foi abandonar o país. Reportagem da Folha de São Paulo (03/08/2017) mostra que “uma nova onda imigratória dos brasileiros desiludidos com a cena política de Brasília contribuiu para triplicar a quantidade de dinheiro enviada do país para os Estados Unidos neste ano” (idem, idem). Mas, não só remessas aos Estados Unidos. Outros países também recebem recursos brasileiros e alguns passaram a facilitar os vistos de residência, como é o caso de Portugal. Isso é profundamente lamentável. Enquanto os nossos políticos se locupletam, brasileiros fazem enormes sacrifícios para se instalarem em outros países. Perda de população, perda de talentos e de inteligências em função de nossos graves problemas políticos. Enquanto faltar vergonha em Brasília, muitos brasileiros que têm um mínimo de vergonha na cara estão providenciando suas mudanças. Muito triste.
UGT - União Geral dos Trabalhadores