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UGT Press 554: Gestual macabro


25/04/2017

MOAB: “Massive Ordnance Air Blast”, algo em português aproximado de “explosão maciça de munição aérea” ou “explosão aérea de grande poder”. As traduções são fartas, mas não satisfazem. Foi mais fácil colocar um codinome (alcunha, apelido), brincando com as iniciais MOAB: Mother of All Bombs (mãe de todas as bombas). Esse brinquedinho tem 10 metros de comprimento, pesa 10 toneladas e não pode ser lançado de um avião comum, necessita de um Hércules C-130. Segundo a Wikipédia, a poderosa bomba não nuclear (a maior de todas) foi projetada por Albert L. Weimorts, Jr. do Air Force Research Laboratory. Apesar de os Estados Unidos já possuírem o artefato desde 2003, quando da invasão do Iraque, ele não foi usado por receio de efeitos colaterais incontroláveis. Isso até 12 de abril de 2017. Segundo os responsáveis pela operação, a bomba foi lançada no Afeganistão, província de Nagarhar, distrito de Achin, onde supostamente se localizava uma base do Estado Islâmico. Isso, apesar de significativo, conta muito pouco sobre o gesto americano, o primeiro sob o comando de Donald Trump. As leituras posteriores e adicionais é que dão as explicações possíveis sobre o fato.

 

RETROSPECTO: o retrospecto desse tipo de ato bélico remonta a Hiroshima e Nagasaki, onde foram provadas duas bombas diferentes, uma de urânio e outra de plutônio. A Segunda Grande Guerra havia terminado, a Alemanha capitulara ante os exércitos aliados e restava somente a resistência localizada nos confins da Ásia: o Japão do ataque a Pearl Harbor e em cujas ilhas jaziam milhares de jovens americanos, vítimas de sangrentas batalhas travadas ao longo do Pacífico. Em 1945, da demonstração de força do Exército Vermelho em 2 de maio e dos saldos das bombas americanas de 6 e 9 de agosto, surgiram as duas novas potências mundiais que dividiriam o mundo pelos próximos mais de 40 anos. A situação não é nem de longe a mesma, mas o gestual não deixa de ter o mesmo conteúdo de demonstração de força. Tanto é assim que, logo em seguida, Putin arvorou-se em afirmar que possuía o “pai de todas as bombas”, artefato de igual ou maior poder. Estamos diante de duas personalidades diferentes, porém com inegáveis desejos de hegemonia e poder.

 

TEMPO DE INFLEXÃO: “ali onde o vento faz a curva” é uma expressão popular, muito utilizada no Brasil, que pode ser aplicada aos “ventos atuais”. Em geometria, numa curva, a concavidade se inverte e a isso chamamos de “ponto de inflexão”. É sinônimo de dobra, curvatura. Alteração ou desvio. Tudo isso para tentar dizer que vivemos um momento de inflexão, no qual os valores tradicionais estão sendo contestados ou substituídos por outros. Temas como democracia, direitos humanos, pobreza, igualdade e exclusão estão saindo de pauta. Pauta dos governos e da imprensa, hoje monolítica e igual em todos os quadrantes. No lugar dos valores tradicionais, o neoliberalismo vem preponderando uma lógica econômica na qual a acumulação se faz sem nenhuma regra e o conflito social é desprezado numa espécie de darwinismo, onde o mais forte prevalece. Não há um mínimo de respeito aos pobres do mundo, enquanto a riqueza se acumula cada vez mais em poucas mãos. No plano internacional, as transnacionais, algumas, estão faturando mais do que vários países, em comparação com os seus PIBs (Produto Interno Bruto), também elas acumulando lucros estratosféricos e subjugando as economias nacionais. Até onde o mundo poderá suportar essa dramática inversão de valores não sabemos, mas estamos convencidos que os governos, que deveriam ser um contraponto a esses abusos, estão mais do lado do poder econômico do que dos trabalhadores ou das populações excluídas. É um momento de inflexão perigoso!

 

GESTUAL MACABRO: o lançamento da superbomba no Afeganistão e a intervenção na Síria, além de um gesto macabro, mostra o regresso dos Estados Unidos à cena militar mundial, algo que Barack Obama rejeitou durante os últimos oito anos. De objetivo, Donald Trump enviou sinais bastante eloquentes à Coréia do Norte e, de quebra, também à Rússia, China e Oriente Médio. Ao mesmo tempo, saudou efusivamente o presidente Erdogan por sua inédita acumulação de poder na Turquia. Não é fácil entender tudo isso à luz da lógica diplomática. Representa mais uma demonstração de força e de poder bélico, muito longe de um diálogo em fóruns internacionais. Isso não quer dizer ausência de negociação num futuro próximo, mas, primeiro, mostrar quem manda. Tudo leva a crer que essa repentina mudança de prioridade, passando o enfoque aos problemas externos, reflete as dificuldades que Trump tem em suas fronteiras internas, onde acumula derrotas. Talvez estejamos à frente de um homem que não pode viver longe dos holofotes e, sem dúvida, isso é igualmente perigoso. De novo esperar a sequência de naipes neste retorno à política real e ortodoxa, aquelas dos velhos tempos, que nenhuma boa lembrança traz.  




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