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UGT Press 551: O Trumpismo e o Brasil


04/04/2017

POUCO TEMPO: entre janeiro e abril realmente é pouco tempo para analisar os reflexos da Administração Trump sobre as relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Em geral, nem é possível promover modificações muito profundas, especialmente porque para os Estados Unidos o Brasil é um parceiro menor, numa região considerada como quintal americano, sem importância estratégica quando comparada a outras regiões do globo. Apesar disso, não são desprezíveis os aspectos das relações bilaterais entre os dois países, para o Brasil muito mais relevantes. Há um esforço notável, principalmente por parte dos brasileiros, para entender a dinâmica do novo governo dos Estados Unidos, praticante de um nacionalismo radical e, em certo sentido, até irresponsável. Estranhamente, os Estados Unidos sempre consideraram o Brasil um país protecionista. Neste momento, esta afirmação perdeu o sentido.

 

PASSADO RECENTE:  o passado recente das relações entre Estados Unidos e Brasil mostram um panorama dual: boas relações econômicas e tensões na área política. Enquanto o Brasil representou boas oportunidades de investimentos, os americanos foram muito presentes e investiram bem por aqui. As relações comerciais são mais ou menos equilibradas, hoje com ligeira vantagem para os Estados Unidos. O volume de negócios só perde para a China e os americanos são nosso segundo maior parceiro comercial. Já no plano político, as iniciativas de Lula e Dilma foram mais independentes e o Brasil apoiou inimigos históricos dos americanos, casos de Irã, Venezuela e outros. Mas, registre-se, embora causando pontuais dificuldades, os problemas políticos não atrapalharam os negócios. Não há razões para prever fortes mudanças nesse quadro, exceto no campo político, pois está claro que, no momento, o governo Temer busca alinhar-se mais com os americanos.

 

INFLUÊNCIA CULTURAL: a influência americana sobre a cultura brasileira é inegavelmente forte. Embora a região tenha sido majoritariamente formada pelos países da Península Ibérica (Espanha e Portugal), em todo o século passado consolidou-se a influência americana. Essa influência, segundo o professor Alberto Aggio, da Unesp: "Exerceu forte atração entre os intelectuais, expandindo-se, no século 20, para grupos sociais emergentes que passaram a viver a dinâmica da industrialização, da urbanização e do consumo de bens materiais e culturais inspirados na vida norte-americana. O americanismo faz parte da nossa imaginação intelectual e expressa uma adesão às transformações que, inspiradas naquele modelo, impactaram a sociedade brasileira irreversivelmente" (Estadão, 29/01). Não resta dúvida que o cinema americano é a indústria cultural de maior penetração no Brasil, derramando sobre a nossa juventude todas as características do modo de vida americano.

 

ESGOTAMENTO: não há dúvida de que houve um esgotamento das influências externas com base no modelo político, seja ele capitalista ou comunista. Ou numa linguagem démodé, seja ele americano ou soviético. Cuba e China estão aí para nos dar razão. Trump chega à presidência dos Estados Unidos exatamente neste momento de inflexão histórica, no qual a multipolaridade promete ser a senhora do tempo. Sua opção radical pelo protecionismo e isolamento, a partir de uma sociedade desenvolvida, militarmente preparada e economicamente forte é um desafio que não estamos acostumados a enfrentar.

 

BRASIL: o Itamaraty já esteve melhor preparado para enfrentar esses desafios, mas nada impede o exercício da inteligência para que o Brasil ocupe bem os espaços de oportunidade que oferece o trumpismo, seja dentro ou fora dos Estados Unidos. A balança comercial entre os dois países não causa preocupação, a área política está mais palatável do que no passado recente e os negócios oferecidos pela sede de desenvolvimento do Brasil ainda são um poderoso atrativo às empresas norte-americanas. No decorrer do tempo, o estrepitoso início de governo de Donald Trump deverá amainar-se, tornar-se realista e voltar-se para a verdadeira vocação dos Estados Unidos, já incorporada na cultura dos escalões menores de governo: a busca da liderança global na política e nos negócios. Esperemos.




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