02/03/2017
PAUTA RECENTE: de repente, a grande imprensa brasileira e mundial, parece, descobriram os velhos. A Folha de São Paulo (08-01-17) abordou o assunto sobre outro prisma: cidadãos brasileiros não têm o hábito de poupar para o futuro. Segundo levantamento do Banco Mundial (BM), a imprevidência nacional atinge até mesmo as pessoas de renda mais alta. Entre nós, em cada cem, só quatro guardam recursos para os chamados "anos finais". Com base em dados de 143 países, o BM afirma que estamos em último lugar na América Latina e, no mundo, só temos 11 países abaixo de nós. Ou seja, somos o 132º país do mundo em poupança para a terceira idade. Perdemos de países como Congo e Togo, que têm PIB per capita próximo de mil dólares (o nosso PIB per capita em 2015 foi de US$ 15,4 mil).
FGTS: o nosso Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), criado no final da década de 1960, sempre teve como objetivo criar uma poupança para depois da aposentadoria. Serve até hoje como poupança para a construção de moradias próprias, mas passou a funcionar mais como seguro desemprego do que como poupança. Com ele, implantou-se a maior rotatividade de mão de obra do mundo. O FGTS tem servido a outras iniciativas, como, por exemplo, compra de ações de empresas estatais e financiamento para prefeituras de obras de saneamento básico. Desconfia-se ainda que a destinação de seus recursos tem pouca fiscalização, estando sujeito às más práticas republicanas, a maior delas nossa corrupção endêmica. Enfim, da maneira como está, o FGTS não tem atingido os seus objetivos originais e valeria a pena ter logo um redirecionamento que o levasse à sua função principal. Há estudos que mostram que depósitos de FGTS que permanecem por 35 anos, até a aposentadoria do titular, permite acumular recursos suficientes para manter o padrão de consumo na velhice.
HÁBITO: o BM encontrou grande correlação entre o hábito de poupar e a economia para a velhice. Como exemplo, citou a Tailândia que, com quase a mesma renda per capita brasileira, tem 60% das pessoas poupando para os "anos finais". Lá, em enquete, 80% das pessoas declararam ter poupado algum dinheiro nos doze meses anteriores, enquanto no Brasil somente 28% afirmaram o mesmo, o que nos coloca no 14º pior lugar do mundo. Desprezar os hábitos de poupança, segundo especialistas ouvidos, foi atribuído à herança do período inflacionário. Paulo Valle, vice-presidente da Fenaprevi, federação de previdência privada, declarou: "Há 20 anos, mal era possível planejar para o fim do mês" (Folha, 08-01).
EDUCAÇÃO: o Brasil nunca teve educação para a poupança, embora a partir dos anos 1960, com a criação da Caderneta de Poupança e propaganda governamental, o hábito tenha sido estimulado. Mas, não é regra. Desde os bancos escolares o hábito precisa ser ensinado e, ao chegar à idade adulta, é necessário conhecer os mecanismos e os incentivos existentes para tal. A pesquisa do BM só considerou a poupança em dinheiro, mas devemos levar em consideração que existem outras formas de poupança, entre elas a aquisição de bens móveis e imóveis. Em geral, o nível de poupança afeta até mesmo o crescimento do Produto Interno Bruto: países com maior volume de poupança interna têm melhor possibilidade de investimentos.
VULNERABILIDADE: a pesquisa do BM escancarou as fragilidades e vulnerabilidades da ausência de poupança na sociedade brasileira. Com isso, mais de 70 milhões de pessoas (brasileiros com mais de 15 anos) não têm possibilidade de levantar, diante de uma necessidade extrema ou emergência, R$ 2.500, mais ou menos 1/20 do PIB per capita. Com tantos problemas que o país já tem, ainda teremos mais este: uma velhice sem poupança e com aposentadorias precárias.
UGT - União Geral dos Trabalhadores