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UGT Press 543: O Fenômeno do envelhecimento


14/02/2017

ENVELHECIMENTO: entre outros assuntos, o número anterior abordou o tema do envelhecimento das populações, uma realidade em todo o mundo. Sabe-se que o Brasil em 2050 terá aproximadamente 50 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos, boa parte sem recursos e, em fases mais adiantadas da velhice, sem condições de trabalhar ou subsistir. O país precisa pensar em adotar medidas de proteção e assistência aos velhos, independentemente do sistema de previdência social que venha a ser adotado. Teremos doentes e inválidos, gente com doenças degenerativas (Alzheimer, Parkinson e demência), pessoas que vão demandar serviços especiais de assistência e saúde. Desde os anos 1960, por exemplo, a Holanda possui casas de repouso para idosos, com alas especiais para enfermos e incapacitados. É um modelo bem-sucedido que pode servir de inspiração.

 

SITUAÇÃO NO MUNDO: à exceção dos Estados Unidos, também no mundo há um envelhecimento acelerado. Somente a África tem taxas de natalidade positivas. O envelhecimento da população mundial está levando os estudiosos a pensar num modelo de sociedade ideal que contemple essa realidade e exige orçamentos públicos com outras prioridades. Essa estratificação demográfica inclui um crescente número de velhos com saúde, economicamente ativo, socialmente atuante e politicamente representativo. Não é à toa que estão surgindo partidos políticos formados só por gente idosa ou aposentada. Tais partidos começam a conseguir representatividade nos parlamentos. Então, os idosos são um segmento percentualmente relevante que se constitui em força política e muda o quadro eleitoral. Em alguns casos, além do envelhecimento, há declínio populacional, como Portugal, que introduziu novas leis para a absorção de brasileiros, facilitando a imigração. Outro exemplo interessante, este na América Latina, é Cuba, com baixa taxa de fertilidade e 17,4% de pessoas com mais de 60 anos. Cuba se prepara para diminuir o número de servidores públicos, o que aumentará as taxas de desemprego. São problemas que se somam. Mas, não são só velhos sadios e produtivos que existem: em algum momento, eles precisarão de assistência e ajuda. Enfim, o problema é bastante complexo.

 

NOVAS IDEIAS: há pesquisadores, especialistas em demografia, que acham a questão da idade um problema maior do que o ambiental ou de sustentabilidade. Há no mundo um bilhão de pessoas com mais de 60 anos, mas esse número mais que dobrará até a metade deste século. O pesquisador brasileiro, José Alberto Magno de Carvalho, que já foi presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, afirmou: “A mudança demográfica faz com que o desafio ambiental, de fazer com que haja recursos para uma população formada por bilhões de pessoas, seja menor do que no passado. Ele não está resolvido, mas é menos urgente se considerarmos a queda de fecundidade” (notícias em Mundo, internet).

 

MEDICINA: a medicina é em grande parte responsável por vivermos mais. Desde o aparecimento das vacinas, dos antibióticos, das próteses e das cirurgias sofisticadas, as pessoas vivem mais e melhor. A diminuição da mortalidade infantil no mundo foi fator fundamental para a explosão demográfica do século 20. O prolongamento da vida é uma aspiração das pessoas, mas somente válida à medida que incorpore qualidade aos anos adicionais. Qualquer política nova, destinada aos idosos, seja no âmbito da previdência, da saúde ou do emprego, deve levar em consideração a capacidade funcional, a necessidade de autonomia, de cuidado, de participação e de autossatisfação. O velho não quer ser inútil e nem a sociedade terá capacidade para suportar os custos de uma velhice estagnada. A busca de novos significados para a vida em idade avançada é um imperativo de modernidade.

 

ECONOMIA: com a mudança do perfil da população, tornou-se visível a adaptação da economia: novos produtos, novos tipos de entretenimento e novas profissões. Hoje, já se fala em “economia do cuidado”, um novo campo de atuação, envolvendo pessoas, mercadorias, equipamentos, remédios e casas de saúde. Na área governamental, a implementação de políticas voltadas para as pessoas da terceira idade é uma realidade. Todos os países que, gradativamente, terão aumento na população de idosos devem se preparar. 

 

LIVRO DE SUCESSO: Hendrik Groen escreveu um best-seller internacional “Tentativas de fazer algo na vida” (Editora TusQuets/Planeta), já traduzido para mais de 30 países. O livro é o diário de um velhinho que vive numa casa de repouso de Amsterdã e aborda sua permanência ali por um ano, provavelmente 2013. O texto é terno, crítico e brilhante. Provocou comoção na Holanda e disparou uma profunda discussão na sociedade sobre o tema. Um trecho: “ Envelhecer é um desenvolvimento ao contrário do que tem um bebê até a vida adulta. Fisicamente, você parte da autonomia para cada vez mais dependência. Uma prótese de quadril, um marca-passo, uma pílula aqui, outra ali. É um beco sem saída. Se a morte demora demais para chegar você acaba como um bebê velho e incompreensível, de fraldas e meleca no nariz. O caminho de ida, de zero a dezoito anos, é lindo, desafiador, excitante: você está definindo sua própria vida. Por volta dos quarenta, você é forte, saudável e poderoso. Um período fantástico. Mas infelizmente a gente só se dá conta disso depois que a decadência já se instalou há um tempo, quando as perspectivas, lenta e silenciosamente, se tornam menores, e a vida, mais vazia. Até que as atividades diárias ganham a proporção de um biscoito e uma xícara de chá. O chocalho do velho”. (pág. 78)




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