UGT UGT

Filiado à:


Filiado Filiado 2

UGT Press

UGT Press 534: Economia criativa


13/12/2016

O QUE É? "economia criativa" talvez não seja o termo mais adequado para o que vem sendo modernamente designado. "Designa negócios que têm na origem a própria criatividade como forma de gerar riquezas" (Estadão, 29/09/16, caderno especial). Como se desde a época em que inventaram a moeda, a criatividade (o gênio humano) não tivesse sido o maior motor da economia em todos os tempos. Contudo, atualmente, o termo vem sendo aplicado a ramos ligados ao uso da informática ou a certos tipos de atividades sofisticadas. Neste caso, são citadas as artes, a moda, os aplicativos, a publicidade, as mídias, o entretenimento, a indústria cultural, os jogos eletrônicos, os foodtrucks e até, vejam só, o grafite. O jornal "O Estado de São Paulo" prestou um inestimável serviço ao abordar o tema e reunir profissionais "para discutir os avanços e perspectivas do setor". O evento foi realizado de 13 a 16 de setembro na Vila Madalena, bairro que concentra, segundo o jornal, parte considerável do ecossistema inovador da capital paulista. O governo inglês se preocupa com o assunto desde os anos 1990. Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores do Brasil), ele próprio um sindicalista oriundo do setor de serviços, acompanhou os resultados do seminário e recomendou sua abordagem neste espaço.

 

NÚMEROS IMPRESSIONANTES: esses negócios, em estimativas recentes, vão crescer 6% em 2016 e movimentarão mais de 150 bilhões de reais. A consultoria PwC diz que o setor crescerá neste ritmo até 2020. Segundo a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), calcula-se que, entre 2003 e 2013, a economia criativa alcançou mais de 100 bilhões em movimento. Ainda são números precários, de precisão duvidosa, mas calcados em premissas minimamente aceitáveis. Outra informação importante refere-se à crise que o país está vivendo, mas o setor deve atravessá-la sem grandes danos. Luciane Gorgulho, chefe de Economia da Cultura do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), "uma explicação para o descolamento da economia criativa com relação à economia local é que ela apresenta um dinamismo próprio, que se mostra anticíclico, motivado principalmente pelo aumento da produção audiovisual e literária. O Brasil disputa um mercado muito significativo, que movimentou 5,5 trilhões de reais no ano passado. Estamos muito bem posicionados" (idem, idem).

 

ORIGEM DO TEMA: apesar de haver governos voltados para o tema, desde os anos 1990, o termo "economia criativa" foi cunhado pelo pesquisador inglês John Howkins. Ele é conhecedor da economia brasileira porque entre suas especialidades está a de estudar os mercados dos países emergentes. Em entrevista concedida ao Estadão (29/09, caderno citado), explicando melhor o que é a economia criativa, disse: "É basicamente todo negócio dependente de ideias, sejam produtos ou tecnologia. Seu núcleo é a mentalidade criativa expressa numa forma de trabalhar. Mundialmente, esse é o fator mais importante em relação ao emprego, crescimento e negócios, pois tem vasto potencial para transformar mercados". Para o pesquisador Howkins, o Brasil tem excelente potencial. "Isso passa pela educação.  Existe uma alta correlação em todos os países entre o número de pessoas indo para o ensino superior e o sucesso da economia criativa. As instituições brasileiras de ensino, no entanto, têm sido muito lentas para criar novos cursos em negócios e administração que possam contribuir ativamente no processo de geração de valor dentro do país". Ele defende a existência de universidades que trabalham em frentes para potencializar a criatividade: ensinar conceitos, habilidades e técnicas; permitir que jovens se conheçam e explorem ideias; incentivar o pensamento livre e o debate; proporcionar um aprendizado contínuo e ensinar administração básica.

 

FINANCIAMENTO DE IDEIAS: o Brasil não tem nenhuma tradição no financiamento de ideias. Tampouco favorece o pioneirismo. Predomina no país uma atitude predadora, na qual a agiotagem é premiada. Aqui, as ideias ou empreendimentos pioneiros são desprezados. Os grandes empreendimentos do passado, a maioria sustentados pelo Estado, acabam indo para a iniciativa privada a preço de banana. Um exemplo, só um, refere-se à CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz): foi vendida por 2,5 bilhões de reais e, recentemente, os chineses compraram uma parte dela por 15 bilhões de dólares. Assim foram as nossas privatizações, suspeitas, sem transparência. Os recentes financiamentos do BNDES beneficiaram países pobres e empreiteiras ricas, com boas possibilidades de não serem ressarcidos no futuro. Os recursos de nosso FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), única forma de poupança que temos, têm sido aplicados em bons negócios, mas também sem transparência e com alto nível de corrupção. Agora, imagine alguém com uma boa ideia na mão, batendo à porta do BNDES ou de qualquer banco: certamente, sequer será recebido pela área técnica. Não é de hoje que no Brasil só se empresta dinheiro a quem tem saldo médio ou possui garantias reais. A tradição do crédito rural do país, com exceções, é escandalosa. Então, para chegarmos a considerar ideias criativas, deveremos percorrer um longo caminho.

 

OUTRAS DIFICULDADES: esse assunto de viabilização de um negócio foi discutido no seminário do Estadão. Como tirar uma ideia da cabeça, colocá-la no papel e transformá-la em projeto? Lucas Foster, fundador e diretor executivo do PrejectHub, disse na ocasião: "O brasileiro pensa que não vai dar certo. A gente é desencorajado a pensar diferente. Estamos moldados para desacreditar no que é novo e apostar no que existe" (idem, idem). Não é o brasileiro. São as nossas autoridades, os nossos bancos, e as nossas escolas. Molda-se um comportamento retrógrado, paralisante. Mesmo aqueles que perseveram, insistem e trabalham loucamente as suas ideias, acabam sendo engolidos por dificuldades estruturais, falta de financiamento, etc. É uma corrida de obstáculos. No Brasil, abrir uma empresa demora meses, é uma maratona burocrática quase insuperável. Mas, nessa corrida contra a estupidez há milagres. Lucas Melos, da LivAd, informa que viabilizou o negócio praticamente sem investimentos. Ele diz: "Acredito no envolvimento, na doação de horas de sono, na vida que você dá para a sua ideia dar certo" (idem, idem).

 

EM RESUMO: as nossas escolas são caras e não ensinam o adequado, além de ineficientes em currículos e iniciativas; nossos governos são corruptos, parece que sem honrosas exceções; financiamentos são oferecidos a quem não precisa ou de forma a contaminar os negócios com más práticas; não há incentivo aos jovens e não há financiamento aos pioneiros e criativos; boas ideias são desconsideradas; enfim, nada funciona bem. O que fazer? Precisamos de um processo de educação reconstrutivo e inovador.




logo

UGT - União Geral dos Trabalhadores


Rua Formosa, 367 - 4º andar - Centro - São Paulo/SP - 01049-911 - Tel.: (11) 2111-7300
© 2023 Todos os direitos reservados.