UGT UGT

Filiado à:


Filiado Filiado 2

UGT Press

UGT Press 533: Indústria da saúde ou da doença


07/12/2016

FATURAMENTO: calcula-se que a indústria farmacêutica poderá chegar em breve ao faturamento de um trilhão de dólares. No livro de Allen Frances ("Voltando ao Normal: como e excesso de diagnóstico e a medicalização da vida estão acabando com a nossa sanidade e o que pode ser feito para retomarmos o controle" - Versal Editores), o faturamento atual (2015) foi de 700 milhões de dólares, mas isso não soma muitas atividades inerentes ou correlatas ao sistema, que vai da pesquisa e criação dos produtos até seu consumo final pelo "doente". A publicidade da indústria farmacêutica atinge cifras astronômicas. No Brasil, os cálculos ainda são precários, mas há inúmeras desconfianças que incluem situações pouco éticas com organismos governamentais, seja na liberação rápida de produtos ou na fiscalização falha ou incompleta da comercialização dos fármacos por redes cada vez maiores de revendedores (distribuidoras e farmácias, hoje uma a cada esquina, em maior número do que padarias). Fiquemos nas denúncias de Allen Frances, de resto mais do que suficientes. Segundo ele, metade do faturamento está na América do Norte, um quarto na Europa. Entre nós, provavelmente é alto e a indústria farmacêutica tem no Brasil um grande mercado. A margem de lucro está próxima de 20%, o que faz dela um dos melhores negócios do mundo. Os acionistas, a maioria nos países desenvolvidos, estão satisfeitos.

 

POR QUE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA É BEM-SUCEDIDA? Allen Frances responde: "As companhias justificam os seus altos preços e enormes retornos exaltando o trabalho de pesquisa para o avanço da ciência médica e a melhoria do atendimento aos pacientes. Isso é ninharia. A indústria gasta duas vezes mais (60 bilhões de dólares) em promoção do que em pesquisa, e com muita frequência financia o tipo errado de pesquisa clínica, feita de maneira errada e pelos motivos errados - evitando linhas de investigação que poderiam de fato nos ensinar algo importante em favor de "experimerciais" certeiros, destinados basicamente a promover o marketing, e não a descoberta" (página 119). O doutor Frances é um médico bem-sucedido e ele chefiou a equipe que redigiu o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), adotado em muitos países. O livro que ele escreveu representa um libelo, algo essencial à literatura médica, às autoridades e ao consumidor em geral, muitas vezes altamente influenciável pela propaganda, pela opinião de leigos e por manias e fobias diversas (hipocondria). Escrever contra a indústria farmacêutica não é fácil e quem escreve está sujeito a ter um batalhão de advogados em seu encalço.

 

TAMBÉM O PROSAICO: para quem possa pensar que este tipo de literatura é difícil, complicada ou ininteligível, é preciso dizer que houve notável evolução neste tipo de escrita. Claro, depende também de quem escreve ou de quem traduz, pois, a maioria desses livros é escrita fora do país, principalmente Estados Unidos e Europa. Via de regra, hoje, essas publicações estão ao alcance da maioria e podem ser lidas facilmente. É bom ver frases construídas com simplicidade, mas reveladoras: "A melhor forma de lidar com os problemas da vida diária é resolvê-los de maneira direta ou esperar que vão embora, em vez de medicalizá-los com um diagnóstico psiquiátrico ou tratá-los com um comprimido. Recorrer de modo prematuro a medicamentos provoca um curto-circuito nos caminhos tradicionais da cura natural e renovadora - buscar o apoio da família, dos amigos e da comunidade; fazer as mudanças necessárias na vida, descarregar o excesso de estresse; dedicar-se a hobbies e interesses, aos exercícios, ao descanso, às distrações, à mudança de ritmo. Superar problemas sozinho normaliza a situação, ensina novas habilidades e traz o indivíduo para perto daqueles que o ajudaram. Tomar um remédio o rotula como diferente e enfermo, mesmo que ele não o seja de fato" (mesmo autor, mesmo livro, página 55).

 

PLANOS DE SAÚDE: este assunto é sério demais para ficar restrito aos médicos, às indústrias e às autoridades. Nós, como leigos e vítimas deste sistema perverso e os planos de saúde, devemos todos buscar soluções para baratear e simplificar a cura. Planos de saúde, cooperativas médicas (a Unimed é a maior) e o SUS (Sistema Único de Saúde), de alto a baixo, devem se debruçar sobre a questão, primeiro reconhecendo-a como problema, depois buscando a conscientização dos profissionais de saúde e, por último, fortalecendo os mecanismos de fiscalização. Sim, isso não é difícil, embora os resultados só devam vir a longo prazo.

 

ENFIM: este assunto é de interesse das centrais de trabalhadores? A União Geral dos Trabalhadores (UGT) entende que sim. Tudo o que afeta a qualidade de vida, o bolso do trabalhador e a produtividade (por que não?) é do máximo interesse do sindicalismo e de suas organizações. Ricardo Patah, presidente da UGT, estimula as filiadas a atuarem nas comunidades, fazerem parte das comissões de saúde e conselhos tutelares, buscando sintonia com os problemas do dia a dia. É a prática do "sindicato-cidadão".    




logo

UGT - União Geral dos Trabalhadores


Rua Formosa, 367 - 4º andar - Centro - São Paulo/SP - 01049-911 - Tel.: (11) 2111-7300
© 2023 Todos os direitos reservados.