29/11/2016
ORIGEM: após as revoltas que culminaram com a Revolução Francesa de 1789 e, mais tarde, durante o período napoleônico, os dois termos - direita e esquerda - foram se fixando na mente das pessoas e passaram a ser utilizados com frequência. Já na Assembleia Constituinte, a reunião teve dois grupos: do lado esquerdo estavam os radicais, mais exaltados, alinhados aos trabalhadores e, do lado direito, estavam os mais moderados, tendentes mais a acordos e composições. Os primeiros foram denominados jacobinos e os segundos ficaram conhecidos por girondinos. O fator ideológico original permanece na maioria dos conceitos e definições. Ao longo do século XIX, ainda na França, a principal linha divisória continuou sendo a original: os leais ao rei, à religião e à ordem ficavam sentados à direita e os simpatizantes às reformas e à Revolução sentavam-se à esquerda. De certa forma, dividiam-se os progressistas dos conservadores, mas essa nitidez foi embaçando a partir da segunda parte do século XX, mais acentuadamente depois da queda do Muro de Berlim e dos colapsos das economias do leste europeu. A rigor, está desaparecendo no Século XXI, embora algumas características ainda prevaleçam. É muito difícil, por exemplo, definir os dois maiores partidos dos Estados Unidos - Republicano e Democrata - que, em princípio, poderiam ser rotulados respectivamente como de direita e esquerda. Assim também o é em outros países e, em cada um deles, certos partidos, mesmo tendo nomes iguais e filosofias parecidas, são considerados diferentemente pelos atores políticos ou por seus integrantes. Assim ocorre em relação aos cristãos e sociais democratas. Mesmo no trabalhismo mundial há notáveis diferenças, inclusive no Brasil. Para arrematar, Norberto Bobbio diz que, embora os dois espectros promovam reformas, a diferença principal seria que a esquerda busca promover a justiça social enquanto a direita trabalha pela liberdade individual.
PRÁTICA: a prática reflete o caos conceitual. Os políticos gostam de se auto definirem como de um lado ou de outro; as escolas, na maioria, se mantém fiéis à história, os intelectuais continuam gastando tinta sobre o tema e a imprensa segue caracterizando os atores políticos e suas instituições como de esquerda ou de direita. Então, repetindo, a prática comporta todo esse universo de rotulações, sabendo-se que entre as duas pontas espectro político cabem todos. Não há fita métrica capaz de distingui-los e defini-los com exatidão. No Brasil, uma expressão tornou-se muito popular: centrão. O então deputado constituinte Roberto Cardoso Alves (Robertão), liderou uma coalização de centro-direita, chegando escandalosamente a fazer a releitura da oração de São Francisco de Assis "é dando que se recebe", prática que, entre nós, existiu desde sempre e está atingindo requintes de arte desde o processo de redemocratização. Ali, no centrão, também cabem todos e, vez ou outra, ele volta a ser identificado e, na última eleição para presidente da Câmara Federal, deu de novo as caras. Esteve no impeachment e está agora na base de sustentação do atual governo. Há quem diga que o nosso centrão comporta gente da ponta esquerda à ponta direita. É possível, mas, a maioria de seus membros, sob qualquer análise mais rigorosa que se faça, está à direita, é de direita e defende teses de direita.
DEFEITO: ao abandonar a necessidade de uma legislação política estável (ainda não construída), nossa democracia resvalou para o pior defeito, perigosa inversão da essência do processo eleitoral: todos são eleitos, por uma salada de partidos, e só depois é que o presidente começa buscar a sua base de apoio. Não é como no parlamentarismo (ou presidencialismo sério) que a base sai do processo eleitoral. Isso proporciona ou possibilita o pior dos mundos: cooptação e corrupção. Essa base cooptada sabe-se lá como, anódina e sem rosto, mas eficiente em seus objetivos de sobrevivência política e econômica, tudo pode e tudo recebe. Mas, os exageros estão ficando tão evidentes que há sinais de esgarçamento entre o Judiciário e as Casas Legislativas, com estas querendo se impor porque podem votar novas leis e amordaçar as instituições de investigação e punição. Um desastre que não sabemos até onde vai e quando pode acabar.
NÃO É DEFEITO: em que pese o radicalismo de certos atores, na política não é pecado ser de esquerda ou de direita. Basta ser sério, defender ideias e buscar soluções segundo o seu entendimento, a sua ideologia ou filosofia. Não necessitamos de ódios acumulados e nem de conflitos civis. Nossa democracia é nova e, portanto, é natural que passe por situações difíceis. Contudo, algo é relevante e essencial: é preciso construir um novo arcabouço político, capaz de ser permanente e dar sustentação a uma democracia moderna e eficiente. A democracia partidária, tal qual a praticamos, esgotou-se totalmente. Precisamos reinventá-la.
CICLOS: a política, como os modismos em geral, também está sujeita a seus ciclos. Há épocas em que prevalecem tendências, ora de direita ora de esquerda. Na América Latina, no período das ditaduras militares, prevaleceu a direita. Depois, com a redemocratização, chegou a vez da esquerda. Agora, mais pelos erros da esquerda do que por virtude da direita, parece ter chegado novamente a vez da direita e ela já venceu as eleições na Argentina e promoveu mudanças no Brasil, que a esquerda denunciou como desrespeitadoras da legalidade. Esperam-se novos avanços na direita e as eleições municipais brasileiras refletiram isso. O mais difícil nessas mudanças todas é não ver e nem sentir um desejo real de mudança, de modernização das leis e das instituições políticas. Mudam-se os atores, mas tudo permanece o mesmo. A UGT (União Geral dos Trabalhadores do Brasil), por seu presidente Ricardo Patah, defende desde sua fundação uma profunda reforma política no país, agora mais do que urgente e necessária.
UGT - União Geral dos Trabalhadores