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UGT Press 522: Gastos das grandes empresas


20/09/2016

BÔNUS NAS EMPRESAS: o maior escândalo de 2015 envolvendo empresas privadas de grande porte, provavelmente foi o caso da Volkswagen. A revista “The Economist” classificou 2015 como “um ano de cão” para a Volks, pois ela acumulou o maior prejuízo de sua história. O mais estranho disso tudo é que o diretor afastado, Martin Winterkom, CEO (Chief Executive Officer ou Diretor Executivo), investigado também por suspeitas de manipulação de mercado, continua com seus bônus intactos. Ele teve um prêmio por desempenho de 5,9 milhões de euros. Essa questão dos bônus das grandes empresas continua na ordem do dia e já houve tentativas de governos poderosos no sentido de intervirem na questão. Foi o caso, por exemplo, de Bill Clinton nos anos 90 e, agora, tanto Donald Trump como Hillary Clinton criticaram o nível de remuneração dos CEOs. The Economist afirma “interferir diretamente na fixação dos salários não é solução, não somente porque a intromissão das autoridades em contratos privados, firmados entre uma empresa e seu funcionário, só deve acontecer em situações extraordinárias, como porque isso tende a ter uma série de desafortunadas consequências” (Estadão, 15/07/2016).

 

SEDES SUNTUOSAS: outro dado que chama a atenção no gasto das grandes empresas são os valores dispendidos na construção de suas sedes. Veja alguns exemplos, também citados pela revista inglesa (Estadão, 23/07/2016): a dinamarquesa Lego gastou 150 milhões de dólares em uma estrutura de peças que imita seus produtos e terá até um campo de minigolfe em, sua cobertura; a Siemens inaugurou em junho na cidade de Munique (Alemanha) a nova sede e Joe Kaeser, seu presidente, disse que ela “será um lugar onde encontros acontecem”; a Airbus, em Toulouse (França), entregou um complemento de seus edifícios, sobre o qual o presidente Tom Enders explicou: “o edifício mostra que a Airbus é inovadora, de mente aberta, com os olhos voltados para o futuro”; a Adidas está investindo 500 milhões de euros em sua sede no sul da Alemanha (Herzogenaurach) para promover uma “interação espontânea entre seus funcionários”; estima-se que a Apple esteja gastando 5 bilhões de dólares para construir um novo campus (Cupertino, Califórnia, USA) em formato de disco voador. Leia, abaixo, as especulações sobre a razão desses gastos.

 

MOTIVOS PLAUSÍVEIS: os motivos citados para esses exagerados gastos em novas sedes vão desde o envelhecimento da Europa até a necessidade de ambientes desafiadores e estimuladores para os funcionários que trabalham nesses lugares. O próprio presidente da Lego, Jorge Vig Knudstorp, possuidor de um “entusiasmo infantil”, tenta uma explicação: “Temo que, com o envelhecimento da população europeia, a disponibilidade de designer, engenheiros de software e outros profissionais habilidosos no mercado de trabalho seja cada vez menor. E não vai ser oferecendo uma vaga numa salinha acanhada e sem janelas que as empresas conseguirão contratá-los”. A revista revela: “Luca Mucic, diretor financeiro da SAP, maior desenvolvedora de software da Europa, nota uma mudança de atitude entre os recém-formados que chegam atualmente ao mercado de trabalho. Os jovens de hoje, diz ele, não se preocupam tanto com status e títulos como as gerações anteriores. O que interessa para eles é a visão da empresa e a existência de um ambiente que lhes proporcione senso de escolha”“.

 

EMPRESAS BRASILEIRAS: Ruy Brito de Oliveira Pedroza, fundador e primeiro presidente do Ipros (instituto de Promoção Social), organização não governamental, das primeiras fundadas no Brasil, dizia em suas aulas de formação sindical, que o empresariado brasileiro é o mais preparado da América Latina, mas, em contrapartida, o mais reacionário. Aqui entre nós ainda nem se descobriram as vantagens de um ambiente arejado, bem iluminado, livre dos perigos das doenças profissionais. Temos boas leis sobre higiene e segurança do trabalho, mas falta fiscalização e os trabalhadores são expostos a ambientes degradados e perigosos. Então, talvez nem seja ainda possível falar em sedes mais adequadas ou galpões industriais modernos. As melhores condições estão nas regiões sul e sudeste. Para citar um exemplo de tragédia basta citar o caso da Zona Franca de Manaus, onde os empresários têm subsídios e outras vantagens oferecidas pelos governos (municipal, estadual e federal), mas os resultados da exploração industrial ali são rios poluídos, falta de saneamento básico e outras mazelas típicas. Enquanto esses empresários têm lucros, a conta dos serviços adiados e não prestados vai se acumulando para ser paga por gerações futuras. Mas, o que esperar de um país onde a escravidão foi abolida há pouco mais de 100 anos e cujos patrões, em certos grotões, não toleram a presença do sindicato em suas empresas. Infelizmente, ainda possuímos parte do empresariado sem visão de futuro e que não enxerga no conforto e nas condições de trabalho um fator de produtividade.




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