30/08/2016
JORNADA DIÁRIA DE TRABALHO: a luta pela redução da jornada de trabalho é uma das páginas mais gloriosas da história das relações de trabalho. Basta lembrar que no século XVII, início da Revolução Industrial, famílias inteiras chegavam a trabalhar até 18 horas por dia. A luta pela jornada de oito horas/dia produziu mártires (Chicago, Estados Unidos, 1886). No Brasil, vergonhosamente, ainda estávamos em plena escravidão, só abolida em 1888. Até princípios do século XIX, a jornada praticada era de 12 horas diárias. A partir do século XX, principalmente depois da criação da OIT (Organização Internacional do Trabalho), vários países foram normatizando melhor o Direito do Trabalho e fixando por lei a jornada semanal de trabalho. A primeira convenção da OIT, em 1919, fixou a jornada em 48 horas semanais. No mundo, já havia muitos precedentes: primeiro em profissões específicas (marinheiros, portuários, ferroviários, etc.). No Brasil, o primeiro decreto de regulamentação beneficiou os trabalhadores do comércio.
SUÉCIA TESTA 6 HORAS DIÁRIAS: experiências, por enquanto isoladas, testam a jornada de trabalho de 6 horas diárias na Suécia. Tradicionalmente, o país nórdico é um laboratório avançado de estudos para o binômio vida e trabalho. Há ali um ideal coletivo de que tratar bem os trabalhadores é também bom para a produtividade e, consequentemente, para os lucros. O horário flexível de trabalho é praticado há tempos e as normas para as folgas dos pais para atendimento dos filhos estão entre as mais liberais do mundo. A carga de 40 horas semanais já tem mais de 40 anos no país e o vereador Daniel Bernmar, de Gotemburgo, líder partidário, diz que a preocupação se refere aos próximos 40 anos, período em que a Suécia quer manter o bom estado de bem-estar e, ainda, aumentar a produtividade. O mundo tem muito a aprender com a Suécia em termos de relações de trabalho.
NUNCA FOI PACÍFICA: a longa e permanente luta pela redução da jornada de trabalho nunca foi pacífica. Exemplo de miopia empresarial ocorreu recentemente quando um líder patronal brasileiro defendeu abertamente jornadas mais longas, extenuantes, de 80 ou 60 horas. Recebeu muitas críticas, tanto nas redes sociais quanto nos jornais de trabalhadores. Não foram só os mártires de Chicago as vítimas dessa luta. No mundo todo, em diversos países, líderes sindicais foram presos, torturados ou perderam seus empregos e ficaram marcados, de forma a não conseguir mais trabalho. Essa miopia empresarial é recorrente, pois os patrões não veem como vantajosa a redução, enquanto abundam provas científicas de que trabalhadores satisfeitos produzem mais, são mais criativos e ajudam a empresa na solução de problemas.
EXEMPLOS: na Suécia, há mais de 10 anos, a Toyota passou a funcionar com seis horas diárias "como meio de resolver os problemas de estresse dos empregados e queixas de clientes sobre o tempo de espera" (Estadão, 22/05). Martin Banck, diretor do centro de serviço, afirmou: "O que observamos hoje é que os empregados estão no mínimo realizando o mesmo volume de trabalho num período de seis horas, com frequência até maior do que quando trabalhavam oito horas por dia. É um trabalho pesado, mas eles têm resistência e estamos tendo mais lucros e clientes porque os consertos dos carros são mais rápidos" (idem, idem). A Toyota sueca não precisou contratar mais funcionários, ampliou seu período de funcionamento para 24 horas, aumentou o número de clientes e passou a fazer mais negócios. Os lucros aumentaram. Nem todas as experiências são bem-sucedidas como as da Toyota, mas o país vem testando, na maior parte das vezes com sucesso, a redução da jornada de trabalho. O metalúrgico alemão vem paulatinamente diminuindo sua jornada de trabalho sem diminuir a produtividade. Em geral, os trabalhadores ficam mais felizes com mais tempo livre, podem cuidar melhor dos filhos, fazer cursos suplementares que acabam beneficiando as empresas e desenvolvendo atividades comunitárias, cuja satisfação reflete no comportamento do cidadão. Enfim, está provado que reduzir a jornada de trabalho é bom para produzir mais e causar menos estresse.
UGT - União Geral dos Trabalhadores