09/08/2016
DESCONECTADA: o professor da Universidade de Yale, Stephen S. Roach, escreveu o artigo “Globalização Desconectada” para o Project Sindicate, publicado no Estadão de 28 de julho, onde cita vários fatos que mostram, na prática, as dificuldades da Globalização. Ele menciona o Brexit, a ascensão de Trump nas eleições americanas, o antagonismo antiChina, as dificuldades migratórias, o avanço do protecionismo e outros fatores. Também aponta algumas estatísticas interessantes: em média, o crescimento do comércio mundial atingiu 6% de 1980 a 2008 e ficou reduzido à metade (3%) no período de 2009 a 2016. Esse é um dos exemplos das atuais dificuldades. A redução de 50% no crescimento do comércio mundial cresce em importância quando se comparam os negócios na passagem do século 19 para o século 20 (limitados) com os negócios na virada do século 20 para o século 21 (infinitamente mais amplos e disseminados). Para o professor Roach, este é um sinal claro de “resistência política à globalização”.
VANTAGEM COMPETITIVA: ao criticar os economistas, o professor Roach lembra a abordagem de David Ricardo (1772/1823): “se um país simplesmente produz de acordo com sua vantagem competitiva (em termos de riqueza de recursos e mão de obra qualificada), ele vai ganhar com o comércio além-fronteiras. A liberalização do comércio – elixir da globalização – promete beneficiar todos. Essa promessa se concretizaria em longo prazo. Em curto prazo, porém, a realidade é invariavelmente muito mais dura”. Lembrou também de Paul Samuelson (1915/2009) que, segundo ele: “Abriu caminho na transposição dos fundamentos ricardianos para a economia moderna e chegou a uma conclusão semelhante no fim da vida, quando mostrou como um país copiador de tecnologia e pagador de baixos salários como a China pôde virar do avesso a teoria da vantagem competitiva”.
GLOBALIZAÇÃO, INTERDEPENDÊNCIA E INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: interdependência é um conceito que rege as relações entre países, no qual, resumidamente, o que acontece em um lugar tem efeitos negativos ou positivos em outro. As crises são exemplos típicos: a crise do sistema imobiliário americano provocou a derrocada da economia mundial a partir de 2008 e até hoje seus reflexos são sentidos. Integração econômica é um conceito novo, cunhado depois da Segunda Grande Guerra Mundial, e consiste na união de um número de economias nacionais numa região econômica mais vasta, ultrapassando as fronteiras nacionais. O Mercosul e a União Europeia são exemplos destacados, apesar de suas limitações, aliás limitações abordadas no artigo do professor Roach. A globalização, segundo alguns, seria a integração econômica expandida entre as nações, tem um alcance maior. Mais além, há quem diga que é um processo econômico e social envolvendo pessoas, empresas e governos. As opiniões, conceitos e definições são abundantes, mas, a grosso modo, é a atual tendência na abolição de fronteiras e ampliação do comércio entre os povos. Os três termos implicam em conceitos próprios e não são a mesma coisa, embora em alguns aspectos se assemelhem. O professor Coach diz que, mesmo não sendo a mesma coisa, “repousam nos conceitos ricardianos da liberalização comercial – princípios que vêm batendo em ouvidos surdos na arena política”.
DUAS ONDAS DE GLOBALIZAÇÃO: o professor Stephen S. Roach defende a tese de que existem duas ondas de globalização, uma no fim do século 19 e início do século 20, que perdeu seu impulso com a Primeira Grande Guerra e a Grande Depressão. A outra, a atual, muito mais séria e sofisticada, englobando bens intangíveis e tendo como parte a internet. Hoje, temos serviços de mobilidade muito mais avançados. Interpretamos que a globalização no momento está ameaçada pelo avanço cíclico da direita e aí entrariam os motivos elencados no primeiro item, lá em cima (Brexit, Trump, China, crise migratória, protecionismo, etc.). Onde estão errando os governos e os empregadores? Eles acham que os direitos sociais são um entrave à competitividade, mas é justamente a necessidade de paz social que embasa todo e qualquer progresso econômico. Há necessidade de eficiente previdência social, seguros desemprego mais longos e economicamente viáveis, proteção aos idosos e aos enfermos, educação para a infância e juventude e segurança para os cidadãos. Sem isso, vamos nos tornar uma aldeia global sem direção, fragilizada, sujeita à guerra e à violência. Muitos países, como México e Brasil, para ficar neste Continente, são exemplos que se aproximam desse panorama. Enquanto isso, lá em Brasília, eles discutem como aumentar o déficit público. É pra rir!
UGT - União Geral dos Trabalhadores