14/06/2016
DONALD TRUMP: quando um magnata tido como “excêntrico” (um pobre seria chamado de louco) chega a disputar a presidência do país que ostenta a maior economia do planeta, todo mundo busca explicações. Às vezes, na maioria das vezes, a resposta é mais simples do que parece ou acreditamos. No caso de Trump, não há dúvidas de que ele é um produto típico da mídia americana. Trump sempre foi notícia casando ou descasando, vendendo ou comprando, construindo ou destruindo. Quando saiu de seu luxuoso escritório na Quinta Avenida e disse que seria candidato a presidente, anunciando a caça aos migrantes e fazendo declarações mirabolantes, a mídia americana o tratou como um animal raro, exótico, saído diretamente da selva de concreto, mais conhecida como Nova Iorque, a meca dos mais estranhos acontecimentos daquela sociedade individualista.
PRIMEIRAS PÁGINAS: nos últimos onze meses, Donald Trump ganhou tantas primeiras páginas que o New York Times calculou que ele recebeu, gratuitamente, o equivalente a mais de dois bilhões de dólares em publicidade. Menos mal que algumas vacas sagradas da imprensa americana começam a fazer uma espécie de “mea culpa”, responsabilizando-se pelos exageros que o colocaram em primeiro lugar na indicação do Partido Republicano. Claro que é muito confortável acusar a mídia americana e se esquecer daqueles que votam influenciados pelos meios de comunicação, como se autômatos fossem. Falamos aqui de uma sociedade avançada, com alto índice de escolaridade. Não é o caso de poucas republiquetas latino-americanas, onde ainda se vota em índios e analfabetos (nossas desculpas a estes), em ladrões e narcotraficantes, em animadores de auditório e religiosos bem-falantes. Há enormes diferenças entre os Estados Unidos e algumas dessas sociedades atrasadas eleitoralmente e aí está a razão da surpresa. Já há algum tempo, os Estados Unidos vêm dando mostras de exaustão de sua democracia. Ocorreram dúvidas na contagem dos votos da Flórida na primeira eleição de Bush Filho e há muitas evidências de que os democratas, nos estados onde isso é possível, estão acorrendo em montes às urnas republicanas para escolherem Donald Trump na ilusão de que ele é mais fácil de ser vencido. Olhem lá!
SOCIEDADE DO ESPETÁCULO: estamos vivendo sob a sociedade das celebridades e da notoriedade. Desde a eleição do John Kennedy na década de 1960, a política vem sendo tratada como um grande espetáculo. Estudos sobre este fenômeno não faltam. O primeiro grande estudo a respeito do assunto foi o livro “Sociedade do Espetáculo”, de Guy Debord. Recentemente, o Prêmio Nobel, Mário Vargas Llosa, lançou a “Civilização do Espetáculo” que também aborda aspectos da sociedade contemporânea. Este tipo de sociedade, inusitado e complexo, está exigindo que nos debrucemos a estudá-la com mais rigor. Ela é de nosso tempo e reflete a banalização das artes, o comércio ostensivo da baixa literatura, o predomínio do jornalismo sensacionalista e, na política, o endeusamento da exceção e a valorização das frivolidades.
LÁ E CÁ: bem, se isso acontece nos Estados Unidos, o que falar de outros países que ensaiam a mesma performance? Infelizmente, no Brasil há exemplos concretos de situações análogas. Aqui já foram eleitos até rinoceronte e macaco. O nosso marketing político, inspirado nas grandes disputas americanas, vende o candidato como se fosse um produto de beleza. As promessas eleitorais abundam sem qualquer escrúpulo e não há a mínima cobrança, seja através da legislação ou do próprio eleitor, este em geral lesado. Nossa democracia é jovem e, como vimos à exaustão, frágil. Estamos ainda aprendendo. Mas, deveríamos aprender através de melhores métodos, não por esses maus exemplos vindo do Norte.
UGT - União Geral dos Trabalhadores