28/03/2016
ÓDIO CRESCENTE: há em andamento no Brasil um perigoso clima de intolerância e insatisfação que promove a escalada do ódio e, às vezes, da violência. Vários artigos sobre isso têm pipocado na imprensa brasileira. O dado mais alarmante foi a publicação do endereço residencial do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Teori Zavascki. Seu apartamento em Porto Alegre foi cercado por manifestantes que lhe dirigiram graves ofensas. Esse tipo de fato repete-se país afora, num clima nada saudável de torcida uniformizada. Em todos os acontecimentos semelhantes ao atual – posse e queda de Getúlio, deposição de Jango Goulart e saída de Fernando Collor – não houve esse clima beligerante. Quando muito, manifestações mais fortes no epicentro dos acontecimentos, mas não como agora. Estamos ultrapassando os limites do bom senso.
INSTITUIÇÕES FUNCIONAM: apesar de falhas, com presidentes suspeitos, as instituições brasileiras ainda funcionam e esse funcionamento é a única garantia que temos de não nos atolarmos em conflitos generalizados. Roberto Pompeu de Toledo, na última edição da revista Veja, escreveu: “Os conflitos no teatro de BH, na PUC em São Paulo, na rua do ministro do STF em Porto Alegre são a expressão pública do que ocorre no contaminado ambiente das relações privadas. Amizades estão em suspenso, parentes se evitam. Alguns se queixam de que não se pode mais conversar. Na maioria dos casos, não é que estejam abertos ao diálogo. A condição prévia é a rendição do adversário a seus argumentos. Até entre os profissionais das investigações os ânimos esquentam. O procurador geral Janot suplicou aos colegas de Ministério Público que não deem guarida às “paixões das ruas”. Minguam as esperanças de que venha a acabar bem uma crise cuja capacidade de trazer os nervos à flor da pele só encontra paralelo nas de 1954 e 1964. As sequelas podem se estender por anos a fio. Este é o país do pesadelo”.
CENTRAIS SINDICAIS: nas organizações de trabalhadores o clima não é diferente. Com exceção de três delas (duas francamente favoráveis ao governo e outra totalmente pró- impeachment), as demais abrigam em seu meio, divisões quase insuperáveis. Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), dos mais calmos e moderados do universo sindical brasileiro, apela para que as divergências permaneçam no plano das ideias e que todos, depois de superada a crise política, possam se dedicar às lutas em favor dos trabalhadores, normalmente as vítimas maiores dessas situações. Ele espera a cristalização do processo político e pede calma a todos. Sua obstinação com a moderação faz da UGT uma organização pluralista responsável e ciente de que o momento é grave, mas não a ponto de um esgarçamento entre os polos divergentes. A sociedade precisa de paz, apesar das enormes dificuldades que estamos vivendo.
RETORNO AO CRESCIMENTO: Ricardo Patah e, em consequência a UGT, deplora o momento político porque ele está dificultando a retomada do crescimento econômico. O governo está paralisado, não se fala em outra coisa. A crise domina os debates. Ele quer rapidez na solução do imbróglio político e, de pronto, a adoção imediata de medidas para o soerguimento econômico do país. Sua preocupação está principalmente na perda dos postos de trabalho. O Brasil está chegando a 10 milhões de desempregados. Para Patah, esse quadro de dificuldades na área do emprego faz sofrer empresários e trabalhadores. A UGT já se reuniu com as organizações patronais e manifestou sua preocupação com a lentidão na busca de soluções para o grave quadro econômico. Vozes como a de Ricardo Patah são raras.
UGT - União Geral dos Trabalhadores