01/12/2015
PETER HAKIM: experiente consultor e analista, Peter Hakim teve um de seus artigos republicado pelo Estadão (21-11-15). Ele pertence aos quadros do Inter-American Dialogue, uma organização não governamental, espécie de lobby político e econômico, sediada nos Estados Unidos. Seu próprio site informa que se trata de organização que aproxima líderes públicos e privados para debater problemas e discutir oportunidades. Tem como objetivo “trabalhar para moldar o debate político, encontrar soluções e melhorar a cooperação no Hemisfério Ocidental”. Pois bem: Peter Hakim falou sobre o Brasil e disse que o país é privilegiado por estar em uma região tranquila, cercado por bons vizinhos e não possuir nenhum conflito sério. De acordo com ele, o Brasil está em uma região relativamente próspera. O problema surge quando ele afirma que hoje o Mercosul talvez “seja mais um peso do que uma aliança comercial produtiva”.
MERCOSUL: o artigo não é nada elogioso em relação ao Brasil e ao Mercosul. Para Hakim, os dois maiores parceiros do bloco (Argentina e Venezuela) estão envolvidos em problemas políticos e econômicos sérios. Mas, segundo ele, não se trata só disso: “O próprio Mercosul tornou-se muito disfuncional e os outros membros regularmente violam as próprias regras, estabelecendo barreiras protecionistas um contra o outro. O Mercosul constitui também um obstáculo nas relações comerciais do Brasil com o resto do mundo. Depois de 20 anos de negociação, o grupo avançou muito pouco no sentido de um pacto comercial com a União Europeia, que compra mais do Brasil do que a China ou a América do Norte. Enquanto países como México, Chile e Peru assinaram dezenas de acordos de livre-comércio em todo o mundo, o Mercosul continua o único pacto comercial de importância para o Brasil”. Enfim, Hakim acredita que o Brasil está perdendo ficando isolado e sem ação.
RECONHECIMENTO: Peter Hakim também reconhece a importância comercial da região para as manufaturas brasileiras e as razões políticas para manter um forte vínculo com os vizinhos. Contudo, “ao mesmo tempo, para recuperar seu dinamismo econômico, o Brasil precisa criar uma rede de relações comerciais e de investimento vigorosa em todo o globo que compensaria a desaceleração da demanda chinesa e os baixos preços internacionais das commodities – e desenvolver uma estratégia comercial de prazo mais longo”, afirma, em meio a outros conselhos, todos na direção de superar a dependência do Mercosul e de seus vizinhos. Ele acha que os resultados das eleições na Argentina e a provável derrota do bolivarianismo na Venezuela seriam pontos positivos e novas oportunidades para a reformulação do Mercosul. Não parece ser esta a visão do novo presidente da Argentina, que saiu atirando contra a Venezuela, querendo expulsá-la do bloco.
FUTURO COMERCIAL SOMBRIO: seguindo o raciocínio de Peter Hakim, o Brasil perderá ainda mais competitividade quando os novos acordos comerciais forem oficializados, caso da TPP (Parceria Transpacífico), que envolve parceiros comerciais do Brasil, como Japão e Estados Unidos. No caso, desconsidera-se o potencial da Unasul, grupo de nações sul-americanas, no qual o Brasil tem grande interesse político. O certo, não há dúvida, é o estudo de novos cenários, a partir do Itamaraty, onde existem defensores das duas idéias-força: aqueles que estão a favor do fortalecimento do Mercosul e aqueles que estão a favor de novas posições brasileiras de abertura ao mundo, buscando com isso acertar o rumo brasileiro, sempre mais ao sabor das conveniências políticas e menos dentro da perspectiva racional. Ter inteligência é preciso.
ATUALIDADES: sem dúvida, a prisão de um senador da República e de um banqueiro representa um grande avanço. Contudo, é preciso analisar bem as circunstâncias e perguntar: será que se a gravação não tivesse sido vazada para a imprensa, com citações comprometedoras de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), haveria alguma prisão? Será que se o filho de Nestor Cerveró não tivesse gravado a conversa no hotel, tais fatos apareceriam? Perguntas incômodas à parte, o fato é que as prisões são um sinal de que as instituições podem funcionar com um mínimo de boa vontade. Desde sempre, o problema do Brasil tem sido a impunidade dos crimes de colarinho branco. Se o STF fizer a sua parte (as prisões apontam nesta direção), certamente o país terá jeito e poderemos esperar um futuro melhor. As prisões não são ocorrências banais, embora possam ser ocasionais. Tomara que se tornem uma norma contra qualquer criminoso, inclusive e, principalmente, para aqueles mais poderosos, como foi o caso.
UGT - União Geral dos Trabalhadores