15/09/2015
IRÃ: o Irã não é um pedaço de terra qualquer. Tem história longa e conturbada, cheia de acontecimentos relevantes. São cinco mil anos, desde a civilização elamita até as lutas políticas deste século, onde se enfrentam conservadores isolacionistas, fundamentalistas religiosos e aqueles que defendem a abertura ao Ocidente com a modernização do Estado e dos costumes. É o velho e interminável conflito entre o estado teocrático e o estado laico, algo típico das sociedades islâmicas, mas não só. Ali, se assistiu o vigor do Império Persa e sofreu-se a dor das ocupações estrangeiras. Guerras episódicas, como a do Irã/Iraque que ceifou quase meio milhão de vidas. O desenvolvimento é bom (0,744 de IDH), a economia é vinculada ao petróleo, mas sua agricultura é considerada avançada. Na área de 1,6 milhão de quilômetros quadrados convivem 80 milhões de pessoas, a maioria absoluta de muçulmanos, com predominância dos xiitas (93%). O Irã é um país democrático, constituído como república presidencialista.
MEDO; o grande pavor do Ocidente é a proliferação de armas nucleares nas mãos de países de médio desenvolvimento econômico e precária democracia política. Especialmente quando essas armas podem estar em regiões conflagradas. É o medo expressado em relação ao Irã, país predominantemente islâmico, próximo a Israel, politicamente instável, convivendo com conflitos entre o clero e os partidos moderados, adeptos da modernização. Irã não é o único país em tais condições. Paquistão e Índia estão no clube nuclear. Há uma agravante: o Irã foi declarado, em épocas diferentes, tanto por Estados Unidos quanto por Alemanha, como "país terrorista" (ou que apoiava o terrorismo). O presidente Ahmadinejad, um tipo histriônico, eleito em 2005, levantou muita espuma com sua retórica beligerante. Mas, verdade seja dita, o Irã é um país desconhecido, democrata, republicano, com razoável índice de desenvolvimento. Não é uma republiqueta. O novo presidente, o centrista Hassan Rohani, consertou os desvios de Ahmadinejad e promoveu a convivência com os aiatolás. Há paz interna neste momento e um sincero desejo de inserir-se no mundo dos negócios, atrapalhados por bloqueios ocidentais. O presidente Hassan prega uma política de "novos horizontes".
BARACK OBAMA: o presidente dos Estados Unidos e o presidente do Irã trabalharam duro durante os dois anos recentes (equipes dos dois governos) para consolidarem um acordo histórico, apoiado pelo aiatolá Khamenei, apesar de contradições e restrições entre grupos ultraconservadores. A revista The Economist declarou: "mesmo que o acordo nuclear alcançado com o Irã não seja perfeito, ele é melhor do que outras opções" (Estadão, 17-07). Essa é a percepção, mais no Irã do que nos Estados Unidos. Obama quer deixar, depois de dois mandatos difíceis, em meio a crises econômicas, alguma coisa palpável para a história. Lembra muito a atuação de Richard Nixon que, apesar de não terminar o seu período na Casa Branca, deixou iniciada a aproximação com a China. Obama joga em dois campos: no Oriente Médio, com o acordo nuclear com o Irã, e na América Latina com o reatamento com Cuba.
O QUE GANHA O IRÃ: grande parte de ativos retidos em função de bloqueios anteriores, avaliados em mais de 100 bilhões de dólares serão liberados para o Irã; os mercados do Ocidente se abrirão até mesmo para os automóveis fabricados no Irã (você sabia disso?); o país exportará mais petróleo e gás, falando-se em um projeto de novo gasoduto para a Europa, o que diminuiria a dependência com a Rússia. Atualmente, o Irã cresce à razão de 2,5% ao ano, mas, com o acordo, o objetivo é dobrar o crescimento para os próximos cinco anos. Enfim, será o fim do isolamento e a perspectiva de uma nova era de prosperidade.
O QUE GANHAM OS ESTADOS UNIDOS: sem falar em nova fonte de suprimento petrolífero, algo óbvio, há o congelamento do programa nuclear do Irã por cerca de 10 a 15 anos. Espera-se que neste período, com nova geopolítica, a região possa se transformar do ponto de vista econômico, social e político. O mercado iraniano também se abre aos produtos americanos. Contudo, a perspectiva maior é ainda a construção de um processo de paz duradouro na região, estabelecendo-se novo equilíbrio de poderes. Por último, os Estados Unidos conseguem um novo e importante aliado árabe na região, diminuindo a arrogância de Israel.
DIFICULDADES: naturalmente, as objeções de Israel vão continuar. Há, de ambos os lados, desconfianças, principalmente de que a retórica anti-nuclear do Irã seja bazófia. Obama terá dificuldade no Congresso americano, especialmente com o Partido Republicano. Analistas concordam que a paz ainda é frágil na região e qualquer deslize de uma das partes pode colocar tudo a perder. Embora tenham existido comemorações ruidosas do lado iraniano, a etapa final do acordo ainda está por se consolidar. O mundo precisa dar um voto de confiança, o acordo precisa ser ratificado e novos passos devem ser dados em direção à estabilidade política da região, assolada ainda por outros fantasmas (situação da Síria, crescimento do Estado Islâmico e diferenças religiosas intransponíveis entre grupos)
UGT - União Geral dos Trabalhadores