15/02/2013
FARRA DOS BENEFÍCIOS: a imprensa brasileira anunciou no último sábado, mais um caso de desvio de dinheiro público, desta vez envolvendo nada menos do que os tribunais trabalhistas. O Tribunal de Contas da União (TCU), após auditorias nos TRTs (Tribunais Regionais do Trabalho), notou a existência de repasses irregulares aos servidores e magistrados. O CSJT (Conselho Superior da Justiça do Trabalho), que supervisiona os tribunais, segundo o jornal O Estado de São Paulo, admitiu, em 2012, que o generoso passivo trabalhista, reconhecido, de 2,4 bilhões de reais, corresponde ao dobro do montante realmente devido". Segundo o Estadão, o TCU constatou pagamentos, no TRT da Bahia, a beneficiários que já morreram. Quando coisas como essas acontecem dentro de tribunais, realmente chega-se a um estado de total inanição moral.
OFICIAIS DO EXÉRCITO: a segunda surpresa do sábado está nas páginas da Revista Veja 2013, numa reportagem cujo título é emblemático: "Até no Quartel, General? Tudo começou com um programa lançado pela presidente Dilma Rousseff para modernizar o aparato estatal, com a justificativa de modernizar os materiais e equipamentos dos ministérios. O ministério da Defesa e, em consequência, as forças armadas, foram beneficiados. Algumas empresas participaram das licitações, mas afirmaram que, convocadas para assinarem os contratos, foram surpreendidas por pedidos de propinas por parte de oficiais do exército. A apuração está a cargo do general Enzo Peri, comandante do Exército. Anos atrás, um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) foi surpreendido transportando drogas, mas o caso foi suficientemente abafado.
EXEMPLOS NÃO FALTAM: magistrados ganham menos do que parlamentares, oficiais ganham menos do que servidores de confiança (sem concurso, apenas nomeados), mas ambas as instituições assistem a farra que acontece no andar de cima. Impossibilitados de reagir, pois os novos tempos são de total impunidade, lembram-se do conselho de um humorista brasileiro: "não se instaurando a moralidade, vamos todos nos locupletar". Assim, de escândalo em escândalo, assistindo figurões encherem os bolsos, venderem o patrimônio nacional, destruírem as estatais lucrativas (vejam a lástima em que se encontra a Petrobrás) e nada, nada mesmo, acontecer, os pequeninos (minhocas em linguagem popular) se arvoram no direito de também pegar parte do butim e arrumam formas de buscar o quinhão. Como se sabe, exemplos não faltam.
VILIPÊNDIO: e a presidente Dilma Rousseff, num arroubo de impaciência, diz que estão vilipendiando a política. A resposta veio pelo filósofo Roberto Romano, nas páginas do Estadão de domingo: "Vilipêndio da política, quando integrantes do partido governista compram parlamentares (não raro a preço vil) para que votem em favor da Presidência e de seus ministérios. Tal vilipêndio custou ao País um processo rumoroso cujo resultado foi a condenação, pela mais alta Corte de Justiça, de lideranças como integrantes da quadrilha. Por mais caros que fossem os "empréstimos" de Marcos Valério aos nossos bolsos de lesados contribuintes do fisco, eles significaram um sacrilégio a custo vil, se pensarmos na legitimidade do voto parlamentar. Foram vendidas e trocadas a preço irrisório a fé pública e a confiança dos eleitores. Na bacia das almas a essência do regime democrático foi posta numa obcena banca de negócios. Tal é o vilipêndio da política".
FILHOTISMO: a expressão ainda não é tão conhecida, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, o considera "uma das práticas mais nefastas do Judiciário brasileiro". Filhotismo vem a ser a advocacia de filhos, cônjuges e parentes de magistrados. Eliana Calmon já havia falado sobre isso, chamando-os de "parentes-lobistas", os quais permanecem nos corredores dos tribunais influenciando as decisões. Em geral, esses "filhotes" ou "parentes-lobistas" têm grandes e abonados clientes, desde empreiteiras a bancos, desde multinacionais a grandes empresas nacionais. Essa é outra das deformações da "democracia brasileira"."
UGT - União Geral dos Trabalhadores