22/02/2013
EU NÃO ACEITO: o artigo de Roberto Damatta, publicado em 6 de fevereiro, no Caderno Dois, do Estadão, é um primor de indignação. Ele se refere aos presidentes do segundo e terceiro maiores poderes da República. Diz Damatta: "Se não seria o momento de pegar o meu chapéu e deixar de escrever, abandonar o ensino das antropologias, desistir do trabalho honesto... a vagabundar-me, virar puxa-saco, fazer da mentira a minha voz
e - eis o sentimento mais triste - deixar de amar, de imaginar, de ambicionar e de acreditar. Abandonar-me a esse apavorante cinismo profissional que toma conta do País - esse inimigo da inocência -, porque minha cota de ingenuidade tem sido destroçada por esses eventos. Eu não posso aceitar viver num país que legaliza a ilegalidade, tornando-a um valor. Eu não posso aceitar um conluio de engravatados que vivem como barões à custa do meu árduo trabalho". Para Damatta "a política brasileira é um teatro de calhordices".
CORRUPÇÃO NA ESPANHA: denúncias de dois dos principais jornais espanhóis - El Pais e El Mundo -, repercutiram acusações do ex-tesoureiro do PP (Partido Popular), Luis Bárcenas, afirmando que os quadros do partido haviam recebido "complementos salariais" (o Brasil conhece isso por Mensalão). Os recebimentos dos chamados "complementos salariais", um eufemismo para atos de corrupção comprovados, já vêm recebendo a mesma explicação que recebeu por aqui: "caixa dois". Entre os beneficiados, está nada menos do que o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy. Tomara que os mensaleiros brasileiros não venham apresentar a oportunista desculpa: "Ah, na Espanha também tem".
RUMO AOS INVESTIMENTOS PRIVADOS: o governo de Dilma Rousseff rendeu-se à evidência de que o Estado está sem condições e esgotou a sua capacidade de investimentos. O erro nas primeiras concessões de aeroportos, quando a Infraero ficou com praticamente metade das empresas concessionárias, mostrou que esse caminho levaria à necessidade de fortes investimentos por parte do governo, não resolvendo o principal problema da falta de dinheiro. Agora, parece, as novas concessões, principalmente de portos e ferrovias, vai ter um novo modelo, mais realista em relação às atuais condições do Estado brasileiro. O novo modelo só será verdadeiramente bom se o país aperfeiçoar a forma de fiscalização e acompanhamento por parte das agências reguladoras.
FEM E FSM: os dois fóruns - Fórum Econômico Mundial de Davos e o Fórum Social Mundial, nascido em Porto Alegre - perderam grande parte do interesse inicial. Não suscita mais o frisson da mídia. Naturalmente, contribuíram para isso as crises iniciadas em 2008, agora mais fortemente presentes na Europa, e o aparecimento de novos atores globais num mundo cada vez mais multipolar. Davos, contudo, continua sendo o palco mais indicado para se entender as tendências do neoliberalismo global. Porto Alegre, neste ano, infelizmente, foi motivo para desavenças entre duas das centrais de trabalhadores do país. As centrais de trabalhadores devem ser as maiores interessadas na visibilidade das questões sociais. Entre os benefícios das últimas discussões, ninguém fala mais a favor da diminuição dos impostos ou de isentar os ricos e os milionários (isso só acontece no Brasil). Também, timidamente, já aceitam a correspondência entre benefícios privados e proteção social, hoje mais do que evidente.
FALTA DE ÁGUA E FIM DAS CIVILIZAÇÕES: estudos recentes mostram que grandes e prolongados períodos de secas podem ter sido o motivo principal pelo desaparecimento da civilização maia (está na moda em função do malogrado fim do mundo). "Essa descoberta corrobora a suspeita levantada por historiadores que a falta de água foi um dos fatores que explicam o fim da civilização maia. Além de demonstrar que secas fortes e raras podem dizimar civilizações, esse trabalho é um bom exemplo de como estudos climáticos estão aos poucos sendo incorporados à história das civilizações" (Fernando Heinack, Estadão, 07-02). Em tempo: é preciso reflorestar e melhorar as condições de armazenamento e abastecimento de água na região nordeste. Por isso, o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, lançou um movimento para a solução das pendências que impedem a conclusão das obras de transposição do rio São Francisco."
UGT - União Geral dos Trabalhadores